A Farra do Boi na Amazônia

A indústria da pecuária na Amazônia brasileira é responsável por um em cada oito hectares destruídos globalmente. Esforços para reduzir as emissões globais de desmatamento devem incluir mudanças no modo de produção deste setor.

A destruição da Amazônia, o mais importante estoque de carbono florestal do mundo, está sendo impulsionada pelo setor pecuário.

A Amazônia brasileira apresenta, em área, a maior média anual de desmatamento do que qualquer outro lugar do mundo. A indústria da pecuária na Amazônia brasileira é responsável por 14% do desmatamento global anual.

Isso torna o setor da pecuária o principal vetor de desmatamento não apenas na Amazônia brasileira, mas do mundo inteiro. De acordo com o próprio governo brasileiro: 'A pecuária é responsável por cerca de 80% de todo o desmatamento' na região Amazônica. Nos anos recentes, a cada 18 segundos, um hectare de floresta Amazônica, em média, é convertido em pasto.

Governo brasileiro planeja dominar o comércio global de carne.

O Brasil possui o maior rebanho comercial do mundo e é o maior exportador mundial de carne. Com a China, divide a posição de maior exportador de couro curtido. O governo brasileiro planeja dobrar a participação brasileira no comércio global de carne até 2018.

Na última década, o setor pecuário brasileiro tem apresentado rápido crescimento voltado para a exportação. Exportações de carne e vitela do Brasil aumentaram quase seis vezes em volume entre 1998 e 2008. Em 2008, uma em cada três toneladas de carne comercializada internacionalmente vinha do Brasil. Neste mesmo ano, o comércio de gado movimentou US$ 6,9 bilhões para o Brasil, sendo que o couro representou mais de 25% deste valor.

Até 2018, o governo pretende que o Brasil forneça quase duas de cada três toneladas de carne comercializada internacionalmente.

Para ajudar o Brasil a dominar o mercado global de commodities agrícolas, incluindo carne, o governo federal está investindo em todos os elos da cadeia de abastecimento - desde a produção na fazenda até o mercado internacional.

O Brasil oferece US$ 41 bilhões em linhas de crédito para impulsionar a produção agropecuária.

Através do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), órgão financeiro vinculado ao Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), o governo brasileiro têm formado alianças estratégicas com as cinco maiores empresas da indústria pecuária.

Em julho de 2008, o presidente Lula anunciou o Plano Agrícola e Pecuário 2008/09, que liberou $41 bilhões em linhas de crédito para incrementar a produção do setor agropecuário. 85% deste financiamento foram designados para a agricultura industrial.

A expansão da pecuária no Brasil está concentrada na região Amazônica, onde a falta de governança significa terra e mão-de-obra baratas.

Diversos relatórios do Banco Mundial, do governo brasileiro e de institutos de pesquisa, e análises do Greenpeace, mostram de forma consistente que a pecuária ocupa cerca de 80% de todas as áreas desmatadas na Amazônia brasileira. O maior incentivo econômico para a expansão do setor pecuário na Amazônia é a falta de governança: fatores contribuintes incluem corrupção, desorganização, capacidade limitada e falta de coordenação entre diferentes setores do governo.

O Greenpeace cruzou informações de satélite com autorizações de desmatamento entre 2006-2007 e constatou que mais de 90% da destruição florestal no período eram completamente ilegais. Entre 2007 e 2009, estas empresas - responsáveis por mais de 50% das exportações brasileiras de carne - receberam US$ 2,65 bilhões do BNDES, em troca de ações para o governo brasileiro. Três empresas receberam a maior parte do investimento público: a Bertin, uma das maiores comercializadoras de couro do mundo; a JBS, a maior comercializadora de carne do planeta (com controle de pelo menos 10% da produção global de carne), e a Marfrig, a quarta maior comercializadora mundial de carne.

A expansão destes grupos é, efetivamente, uma joint-venture (empreendimento conjunto) com o governo brasileiro. Estas empresas vêem a crise financeira como uma oportunidade para aumentar sua participação no mercado global. Sem o dinheiro do governo brasileiro, sua habilidade de continuar construindo um império comercial global, voltado para a exportação de produtos pecuários da Amazônia, poderia ter sido reduzida. Para reforçar a participação brasileira no mercado global, o governo está disponibilizando recursos para expandir a infra-estrutura de processamento de produtos pecuários na região Amazônica.

Em uma avaliação de concessão de crédito para a Bertin, o IFC, o braço para empréstimos privados do Banco Mundial, alertou para os riscos de aumentar o desmatamento ao expandir a capacidade dos frigoríficos na região. Um auditor do Banco Mundial concluiu: O projeto de expandir o frigorífico Bertin em Marabá] representa um grave risco ao meio ambiente e à reputação do Banco'. Mesmo assim, o IFC investiu US$ 90 milhões no projeto da Bertin em um dos lugares mais arriscados da Amazônia.

Fonte: GreenPeace Brasil

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