Inundação: Mega-Desastre Em Alagoas Pernambuco
Para conhecer a origem do desastre, devemos analisar os cenários causadores dessa inundação.
As nascentes dos principias rios
causadores da inundação estão no Estado de Pernambuco, no Planalto Borborema
numa altitude variando de 650 a 1.000 m, que percorrem o Estado de Alagoas,
constituindo-se outros rios e desembocando praticamente no oceano Atlântico. As
cidades atingidas do Estado de Alagoas ficam em cotas inferiores ou próximos aos
rios.
1-A BACIA DO RIO MUNDAÚ
A bacia do rio Mundaú abrange uma área total de 4.126 km2, sendo 52,2% no estado de Pernambuco e 47,8 % em Alagoas.
O rio Mundaú nasce a oeste da cidade pernambucana de Garanhuns, na parte sul do planalto da Borborema (altitude 1.000 m) e entra em Alagoas na cachoeira da Escada, ao sul da cidade pernambucana de Correntes e noroeste da cidade alagoana de Santana do Mundaú. Atravessa a área central da Mata Alagoana e chega ao litoral, com a sua foz afogada formando a Lagoa Mundaú, caracterizando-o como um rio federal.
Abrange área de trinta municípios, sendo quinze em Pernambuco e quinze em Alagoas. Dentre os municípios pernambucanos, quatro estão integralmente inseridos na bacia do rio Mundaú e, além destes, mais quatro têm a sede do município na bacia. Em Alagoas não há municípios com área integral na bacia e dez possuem sede na bacia.
O rio Mundaú tem como principais tributários formadores os rios Canhoto, Seco e Mundaú-Mirim que nascem nas localidades de Capoeira e Caetés, cujas cotas chegam a atingir 950m.
O médio curso do rio Mundaú abrange
cotas variando de 500 a 200 m, cujo relevo apresenta-se ainda bastante
acidentado, abrangendo as localidades alagoanas de Quebrangulo, Paulo Jacinto,
Mar vermelho, Chã Preta, Viçosa, Cajueiro, Pindoba, Santana do Mundaú, União dos
Palmares, São José da Lage, Murici, Atalaia e Boca da Mata, as três últimas já
se situem em cotas inferiores a 200 m.
PRECIPITAÇÃO
As precipitações na bacia apresentam variações significativas nos totais anuais, desde 870 mm em Garanhuns até 2.166 mm em Maceió. O trimestre mais chuvoso na bacia é maio-junho-julho e o mais seco outubro-novembro-dezembro.
2- RIO PARAÍBA DO MEIO
O Rio Paraíba do Meio nasce no município de Saloá, Pernambuco (altitude média 740 m), e sua bacia hidrográfica abrange uma área de 3.330 km2 em oito municípios pernambucanos (Bom Conselho, Brejão, Terezinha, Paranatama, Caetés, Garanhuns, Saloá e Lagoa do Ouro) e doze alagoanos (Quebrangulo, Palmeira dos Indios, Paulo Jacinto, Viçosa, Mar Vermelho, Chã Preta, Cajueiro, Capela, Atalaia, Pindoba, Maribondo e Pilar).
Deságua na Lagoa Manguaba, no município de Pilar, Alagoas.
Foto: Açude das Nações e Barragem da Perdigão
3-BOM CONSELHO
O município é drenado pelos rios e riachos que formam as nascentes dos rios Paraíba, Traipú, Coruripe e Riachão, este último afluente do Ipanema.
O Riachão tem curso no sentido Nordeste Sudoeste e serve de limite com o município de Saloá.
O rio Traipú nasce na porção Oeste do município, a partir dos riachos Traipú, dos Mares e Salgadinho. O rio Coruripe tem nascimento na porção central - sul do município, com o rio Bálsamo e os riachos Salgado e Gama. O rio Paraíba corta a porção Nordeste do município e tem seu curso no sentido Nordeste - Sudeste, partindo do município de Terezinha, ao Norte para os limites com o município de Lagoa do Ouro, a leste, formando juntamente com o seu afluente o Riacho Seco, a fronteira entre esses referidos municípios.
Outros afluentes do rio Paraíba que drenam a porção Nordeste do município são o riacho da Laje e o riacho do Barro, este último, servindo de limite com o município de Terezinha, e o rio Papacacinha, que banha a cidade de Bom Conselho.
4- RIO CANHOTO
O rio Canhoto tem sua origem na serra do Papagaio ( altitude 1.260 m), no município de São João (altitude 716 m), antigo distrito de Garanhuns, em Pernambuco. Naquele estado atravessa os municípios de Angelim e Canhotinho. Em Alagoas cortas as terras de São José da Laje, recebe o nome de Rio Canhoto por passar pelo lado esquerdo da cidade, indo juntar-se ao rio Mundaú.
Em Pernambuco, o rio Canhoto está situado na Zona do Agreste, com vegetação característica, e é temporário. Já em Alagoas dá-se o contrário: em suas margens, a vegetação é abundante, apesar de bastante desmatadas, é permanente.
Sua extensão, da nascente até o
encontro com o Mundaú, é de aproximadamente 80 Km.
Os afluentes, no lado alagoano são: Cabodé, Pombal, Santo Antonio, Pulas e
Jibóia.
PLANALTO BORBOREMA
Toda essa região mencionada faz parte
do Planalto Borborema, também conhecido como Serra da Borborema. É uma região
montanhosa brasileira no interior do Nordeste. medindo aproximadamente 250 km de
norte a sul, indo de Alagoas, passando por Pernambuco, Paraíba e chegando ao Rio
Grande do Norte.É formada por maciços e outeiros altos que culminam entre 650 a
1000 metros de altitude, apresentando relevo movimentado, com vales profundos e
estreitos.
RESERVATÓRIOS EXISTENTES EM BOM CONSELHO
1-O reservatório da Barragem da Perdigão deverá acumular um volume de 2,3 milhões de m3 de água (cota 651 m), com uma altura máxima normal de água de 15 m e uma área inundada máxima de 34,7 hectares.
2- O Açude das Nações, um reservatório a fio d´água com uma área de drenagem própria estimada em 2.470 hectares, com altura de 12m, formado por um extenso e baixo barramento de vertedouro de concreto, com uma ponte de trafego urbano, na cidade de Bom Conselho. Volume de água que pode ser acumulada 800 milhões de m3.
O DNOCS (Departamento Nacional DE Obras
contra Seca) construiu em 1950 a Barragem de Bom Conselho (Açude da Nação), que
fica no Rio Papacacinha, que corta a cidade de Bom Conselho (altitude 654 m), no
Estado de Pernambuco.
BACIA HIDROGRÁFICA
É uma área constituída por cursos de água e canais de drenagem (que escoam a água da chuva), que tem um rio principal que recebe por força de ação de gravidade as águas de escoamento de chuvas ou outros rios. A formação da bacia hidrográfica dá-se através de desníveis dos terrenos que orientam os curso da água, sempre das áreas mais altas para as mais baixas. Em qualquer mapa geográfico as terras podem ser subdivididas nas bacias hidrográficas dos vários rios.
Alguns rios são chamados de intermitentes ou temporários porque possuem mais água ou surgem na época da estação chuvosa. Outros rios são conhecidos como perenes porque sempre tem água, mesmo no período de secas.
O município de Bom Conselho está situado numa região do estado de Pernambuco cujas características climáticas possuem meses de estiagem.
É importante destacar que a bacia do rio Papacaça possui cursos de água (rios e córregos) de caráter temporário. Por isso ao se construir uma barragem deve-se saber que o reservatório formado deve levar em conta a água no período das chuvas.
A bacia hidrográfica do rio Papacaça
possui relevo suavemente ondulado nas partes baixas e mais acidentado próximo ao
divisor de águas nas regiões nordeste, leste e sudoeste.
HOUVE CONCORRÊNCIA DE DIVERSOS FATORES PARA FORMAÇÃO DO DESASTRE
Foto: Ruptura do Açude das Nações
1- Desastre causado pelo rompimento da Barragem de Bom Conselho (Açude da Nação).
A Barragem de Bom Conselho tem capacidade para acumular até 800 milhões de metros cúbicos de água. Chovia forte há cinco dias. Início da tarde de 18 de junho, dezenas de moradores observam a Barragem das Nações. O imenso açude construído há mais de 50 anos no leito do Rio Papacacinha, que corta a cidade, está saturado. Desde cedo o Corpo de Bombeiros e a Defesa Civil alertam os moradores do centro da cidade. Às 13h30, as águas começam a transpor o paredão de terra de quase duzentos metros de comprimento por 12 metros de altura. Não demora muito e o que todos temiam acontece. A Barragem das Nações não suporta a pressão e rompe. Quarenta metros do paredão são arrastados aos poucos. Um volume imenso de água desce furioso o leito do Papacacinha, inunda parte do centro de Bom Conselho, invade casas e desabriga famílias. Pequenos açudes agravaram ainda o problema.
Aproximadamente 600 milhões de m3 d'água escoaram de uma só vez pelo Rio Papacacinha que tem apenas 5 metros de largura em Bom Conselho. O resultado não foi uma enchente e sim uma rápida vazão de água, seguida de alagamento e uma correnteza devastadora, ou o efeito tsunami. . A água escorreu pelo Rio Paraiba, ganhou força em mais dez afluentes ao longo do curso e chegou aos municípios alagoanos. É o único rompimento de barragem registrado em vídeo. Este volume de água equivale a uma precipitação de 180 mm/dia durante 134 dias.
O rompimento da barragem foi a causa principal da devastação em Quebrangulo, e Santana do Mundaú. Um autêntico tsunami de rio.
2- Rio Canhoto, que tem uma série histórica de inundações passadas na região
3- Conjunção das águas da chuva, rios temporários, do rompimento da barragem ( Açude da Nação) e dos rios com aumento do volume de água por causa das chuvas.
4 - A região possui um número elevado de barragem de propriedades particulares, açudes. Muito provável algumas barragens abriram suas comportas para evitar rompimento, aumentando o volume de água dos rios.
5- Topografia da região constituída de serras e vales. Os rios têm forte correnteza quando estão cheios.
"Essa catástrofe se deve ao evento
extremo de chuva nas cabeceiras dos rios Mundaú e Paraíba. Foram chuvas da ordem
de 400 milímetros em quatro dias. O dia mais crítico foi a sexta-feira (18),
quando choveu cerca de 180 milímetros. Não há vazão suficiente no solo já
encharcado, principalmente porque o solo na região é rochoso. Temos de avaliar
que isso é um evento que poderá acontecer de 100 em 100 anos", disse Alexa Gama,
secretário de Meio Ambiente e Recursos Hídricos de Alagoas.
FATORES URBANOS QUE PROPICIARAM O DESASTRE
■ Todas as cidades estão as margens dos rios, parte das cidades ocupando a várzea ou área de remanso dos rios.
Ob: Inundações são causadas pelo afluxo de grandes quantidades de água que, ao transbordarem dos leitos dos rios, lagos, canais e áreas represadas, invadem os terrenos adjacentes, provocando danos. As inundações podem ser classificadas em função da magnitude e da evolução.
Essa inundação tem característica de uma inundação do tipo Flash Flood.
Flash flood é uma inundação rápida em áreas levemente planas ou planícies, provocados por rios, lagos, bacias e barragens. Pode ser causado por pesadas chuvas associadas com colapso de barragens, diques, açudes, algum obstáculo no rio que obstrui o percurso da água livremente
■
Desmatamento e assoreamento dos rios ao longo do século.
PRINCIPAIS CIDADES DE ALAGOAS QUE FORAM AFETADAS GRAVEMENTE
VALE DO RIO PARAIBA
Quebrangulo, Paulo Jacinto, Viçosa, Capela e Atalaia, a força avassaladora do Rio Paraíba deixou um rastro de destruição nas cidades às margens de seu leito. A água invadiu tudo, subiu 12 metros acima do nível do rio e destruiu centenas de imóveis. Em Quebrangulo, a fúria da natureza não fez vítimas, mas conseguiu revirar parte da cidade. Um telefonema para o cartório da cidade avisou sobre o rompimento de um açude, na cidade de Bom Conselho-PE. Depois da ligação, o dono avisou a quem pôde, mas as pessoas não conseguiram salvar nada.
Lama e muito lixo tomaram as ruas das cidades atingidas pela enchente. Em meio aos destroços, famílias inteiras tentavam recuperar algum objeto e achar documentos.
Na cidade de Paulo Jacinto, logo abaixo de Quebrangulo, a água atingiu 12 metros em alguns pontos. A força foi capaz de derrubar a cabeceira da ponte e isolou parte da cidade. De forma improvisada, moradores e técnicos da prefeitura construíram um acesso de madeira.
Era por lá que estava chegando parte da
ajuda para os desabrigados e desalojados da cidade. Nas ruas perto da margem do
rio, móveis, entulhos e uma lama fétida tomavam conta.
QUEBRANGULO
Foto: A seta mostra a altura que atingiu o nível do rio
Distante 100 km da capital alagoana Maceió, apenas a parte mais alta da cidade não foi atingida. A maioria dos prédios da prefeitura ficou inundados.
Balanço provisório da prefeitura
■
quatro mil pessoas estão desalojadas após a enchente
no Rio Paraíba.
■
80% da
cidade está inundada e milhares de pessoas estão desajoladas.
■
pelo menos 4 mil pessoas estariam fora de casa.
■
mais de 800 imóveis desabaram devido a forte
correnteza do rio.
Os três municípios mais atingidos
(União dos Palmares, Rio Largo e Branquinha), o cenário mais lembra de uma
guerra: centenas de casas destruídas e uma população desabrigada tentando
entender o que aconteceu..
ÁGUAS CHEGAM A 5 METROS DE ALTURA
Santana do Mundaú, Branquinha, Murici e
Rio Largo - Em Santana do Mundaú a água atingiu uma altura de cinco metros em
alguns pontos da cidade. O mercado público, a sede do sindicato dos servidores
públicos, a Câmara de Vereadores, a biblioteca pública foram destruídos com
centenas de prédios. A ponte que divide a cidade, foi destruída.
UNIÃO DOS PALMARES
A cidade mais atingida, as ruas próximas às margens do rio Mundaú, foram totalmente destruídas.
A marca da água, no teto do posto de
gasolina e os entulhos enganchados na fiação, no alto dos postes, explicam como
aconteceu tanta destruição, em União dos Palmares. Muitas pessoas morreram e
inúmeras estão desaparecidas. Todas as casas residenciais e estabelecimentos
comerciais das ruas Demócrito Gracindo, Jatobá e Rua da Ponte foram destruídas.
VALE DO MUNDAÚ
"Parece um tsunami"
No Vale do Mundaú, o cenário é desolador. Cidades destruídas, lama e destroços
por todos os lados. "Parece que passou um tsunami", diz um visitante, abismado
diante do quadro, em União dos Palmares. "Parece que soltaram uma bomba de
guerra na cidade", comenta outro, em Branquinha.
RIO LARGO
Em Rio Largo, na região metropolitana
de Maceió, toda a parte baixa da cidade, onde está o centro comercial e
principais prédios públicos (23 prédios destruídos), foi inundada e destruída
pela enchente. Uma barragem que abastece a usina da cidade se rompeu, e os
trilhos do trem que ligam a cidade a Maceió foram destruídos. O principal acesso
aos municípios também está interditado.
BRANQUINHA 80% INUNDADA
Branquinha (61 km de Maceió), com 12 mil habitantes, o município viu todos os seus prédios públicos e comércio serem inundados pelo rio Mundaú na sexta-feira, 19 de junho. O município praticamente "sumiu do mapa". O cenário é de destruição. Todo o centro da cidade e principais bairros foram alagados e todas as casas e prédios foram abandonados. "A cidade não tem mais nenhum prédio público inteiro. Todos foram destruídos", disse o secretário de Estado da Saúde, Herbert Motta, que visitou a cidade.
Logo na entrada do município, a lama toma conta da rua principal e impede o acesso por meio de carros de passeio. Lojas, repartições públicas, banco e agência dos Correios foram destruídos. Nas ruas, carros completamente destruídos foram abandonados.
A prefeita Renata Moraes reconhece que
a destruição foi total e quer descartar a hipótese de uma reconstrução no mesmo
local da tragédia. "Eu não tenho mais cidade. Ela foi devastada, se acabou.
Branquinha como conhecemos é passado", declarou.
SÃO JOSÉ DA LAJE
Ninguém, das novas e das mais antigas gerações, nunca presenciou cenas tão devastadas. Nem mesmo em São José da Laje, cuja tragédia, registrada em 1969, quando uma tromba d'água destruiu parcialmente a cidade, deixou cerca de 1.500 pessoas mortas e mais de 1000 desaparecidas. Desta vez, não se há notícia de nenhuma morte na cidade, mas as imagens da destruição são muito mais fortes, afirma seu José Antônio da Silva, que na cheia de 69, tinha 41 anos de idade. Hoje tem 82.
A água entrou pela cidade e arrastou
vários bairros. Carros, móveis, geladeiras, tudo foi levado pela correnteza.
Toda a medicação que estava na Secretaria Municipal de Saúde foi perdida.
MURICI
Em Murici, o cenário de destruição não é menos impressionante. A água chegou até o primeiro andar de alguns prédios, e arrastou móveis e objetos até pelo teto das casas. Tudo no Centro, e em parte de outros bairros da cidade foi destruído. Pelas ruas, as pessoas parecem atônitas, tentando reconhecer o que sobrou no lugar onde moravam.
"Já vi quatro cheias nesse rio. Mas
nunca vi uma coisa igual a essa. Nunca precisei sair de casa, mas agora
acabou-se tudo. Não tenho mais nada. Nem o chão ficou", diz o aposentando Amaro
Aparício dos Santos, 91 anos.
DEMAIS CIDADES
A enchente do rio Paraíba atingiu todas as cidades ribeirinhas, Cepela, Cajueiro, Branquinha, Atalaia e Paulo Jacinto.
As cidades da Zona da Mata estão ilhadas. Nas proximidades de Messias o rio subiu cerca de seis metros e não há como passar para Branquinha, Murici, União dos Palmares, São José da Laje e Ibateguara.
No Rio Mundaú, em Messias, tanques de
combustível, geladeiras, fogões e outros objetos passavam em alta velocidade na
correnteza.
ESTIMATIVA INICIAL DOS PREJUÍZOS
O primeiro relatório de danos encaminhado pelo Estado de Alagoas após as chuvas que devastaram várias cidades indica um prejuízo inicial de R$ 732 milhões com a destruição de casas, rodovias, pontes, pavimentos urbanos e sistemas de abastecimento d'água. O documento foi requerido pelo gabinete civil da Presidência da República. Ainda estão fora da lista os gastos com as reformas dos prédios públicos.
De acordo com o relatório, a reconstrução de 19 mil casas consumirá a maior fatia do dinheiro, com gasto estimado em R$ 575 milhões. Já a reforma nas rodovias e pontes deve custar R$ 137 milhões. Os sistemas de abastecimento de água comprometidos dos municípios deram um prejuízo calculado em R$ 12 milhões, enquanto o da pavimentação urbana gira em torno de R$ 8 milhões.
Os prejuízos causados pelas chuvas em
Alagoas podem atingir 6% do PIB do Estado, somados os danos materiais,
ambientais, econômicos e sociais.
SAQUES E ROUBOS
Alagoas recebeu na quinta-feira (24 de junho) um grupo com 77 militares da Força Nacional, que vai reforçar a segurança nas cidades atingidas pelas enchentes e nas rodovias que ligam esses municípios. O pedido de reforço foi feito pela Secretaria de Estado da Defesa Social, já que há denúncias de saques e furtos nos municípios destruídos. Vários Estados contribuíram também com envio de equipes de bombeiros, médicos e equipamentos.
Os casos de furtos e a ameaça de saques estão presentes em quase todas as cidades mais atingidas pelas enchentes. Muitos moradores de Rio Largo e Branquinha relataram à polícia que, ao retornarem após o nível do rio Mundaú baixar, perceberam que objetos foram furtados. Há relatos também em outros municípios.
A Polícia Militar de Alagoas informou
que aumentou o efetivo nas cidades atingidas, deslocando também homens do
Batalhão de Polícia Ambiental para oferecer segurança aos moradores.
PÓS-DESASTRE, EMERGÊNCIA
Cerca de 950 homens trabalham nas áreas afetadas pela tromba d'água. De acordo com a Defesa Civil, já há alimentos em quantidade suficiente e as cidades precisam agora de material de limpeza, higiene pessoal, velas, fósforo e fraldas descartáveis. O armazém da Infraero no Aeroporto Zumbi dos Palmares serve como depósito para 46 toneladas de alimentos, água mineral, cobertores roupas e barracas de campanha doadas. A distribuição está sendo feita por via terrestre e aérea. Cerca de 19 mil cestas básicas já foram distribuídas.
Equipes de buscas, com seis cães farejadores, seguem em varredura nas cidades de São José da Lage, Branquinha, União dos Palmares, Murici, Rio Largo e Santana do Mundaú.
Barracas do Exército são usadas para atendimento médico no município de Branquinha, onde 95% dos imóveis desabaram.
Em Santana do Mundaú, começou a
funcionar um hospital de Campanha vindo do Rio de Janeiro, com capacidade para
400 atendimentos por dia. O hospital tem até uma sala que funciona em forma de
Unidade de Terapia Intensiva.
ENCHENTE DO RIO MUNDAÚ É RECORRENTE. DAQUI A 10 ANOS TERÁ OUTRA
Moradores das nove cidades cortadas pelo rio Mundaú, na zona da mata de Alagoas, estão acostumados a erguer os móveis nas épocas mais chuvosas. O transbordamento do Mundaú, tido por especialistas como um dos principais responsáveis pela tragédia no Nordeste brasileiro, é freqüente. "As enchentes são recorrentes. A população já está acostumada a ver água dentro de casa, só não que ela leve a casa", afirma Valmir Alburquerque Pedrosa, professor de mestrado em Recursos Hidrídicos da Universidade Federal de Alagoas (UFA).
Segundo Pedroso, apesar do número menor de mortos, o nível e a força da água foram maiores, inclusive, que os da cheia registrada em 1969, quando cerca de mil pessoas morreram.
A enchente, de acordo com Pedrosa, só não fez mais vítimas porque o ápice ocorreu durante o dia, por volta das 7h. Além disso, algumas cidades contaram com carros de som avisando os moradores para deixarem o local às pressas.
Outras grandes enchentes no rio Mundaú
ocorreram em 1987, 1988 e 2000. Esta última deixou 36 mortos e mais de 70 mil
desabrigados. Engana-se quem pensa que a deste ano deva ser a última. "De 10 em
10 anos, estudos mostram que o Mundaú apresenta tendência para catástrofes como
essa. Quem administra os municípios não pode se conformar. Se brincar,
acontece", diz.
FALTA DE OBRAS DE INFRA-ESTRUTURAS
De acordo com o especialista, mesmo sabendo do risco iminente de novas cheias na região, nada foi feito para conter a fúria do Mundaú. "Não é novidade nem para os governantes, nem para a população, mas ele nunca sofreu uma obra de infra-estrutura para diminuir os impactos da chuva", afirma. E a quantidade de chuva na região, como mostram os índices do Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos (Cptec), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), foi intensa.
Em Recife (PE), choveu o equivalente a 455,8 mm entre quarta (16) e sexta-feira (18), sendo que o previsto para todo o mês de junho era de 369,2 mm. Na zona da zona da Mata de Alagoas em três dias houve registro de 180mm de chuva, quando a média histórica para o mês é de 150mm.
Para Pedrosa, além de obras para
contenção de enchentes, é preciso mudança no uso e ocupação do solo e que o
governo não permita mais a construção de casas em áreas ribeiras.
BALANÇO DO DESASTRE ATUALIZADOS
ATÉ 30 DE JUNHO
ESTADO DE ALAGOAS:
Foram 28 municípios afetados sendo
quatro municípios decretaram situação de emergência, e 15, estado de calamidade
pública.
População afetada: 181.018
26.618 mil desabrigados
47.897 mil desalojados
37 óbitos
69 desaparecidos
19.164 casas, destruídas ou danificadas
236 edifícios públicos afetados
Infraestrutura
200 quilômetros de estradas danificadas
79 pontes afetadas
Os 19 municípios que decretaram
situação de emergência ou calamidade pública em Alagoas são: São Luiz do
Quitunde, Matriz do Camaragibe, Jundiá, Ibateguara, Quebrangulo, Santana do
Mundaú, Joaquim Gomes, São José da Laje, União dos Palmares, Branquinha, Paulo
Jacinto, Murici, Rio Largo, Viçosa, Atalaia, Cajueiro, Capela, Jacuípe e Satuba.
ESTADO DE PERNAMBUCO
Foram 59 municípios afetados, sendo 27 decretaram situação de emergência e 12 estão em estado de calamidade pública.
Em Pernambuco foram 39 municípios: Agrestina, Água Preta, Altinho, Amaraji, Barra de Guabiraba, Barreiros, Belém de Maria, Bezerros, Bom Conselho, Bonito, Cabo de Santo Agostinho, Camaragibe, Catende, Chã Grande, Correntes, Cortês, Escada, Gameleira, Gravatá, Ipojuca, Jaboatão dos Guararapes, Jaqueira, Joaquim Nabuco, Maraial, Moreno, Nazaré da Mata, Palmares, Palmeirinha, Pombos, Primavera, Quipadá, Ribeirão, São Benedito do Sul, São Joaquim do Monte, Sirinhaém, Tamandaré, Vicência, Vitória de Santo Antão e Xexéu.
59 municípios afetados
População afetada: 156.720
26.966 mil desabrigados
55.643 mil desalojados,
20 óbitos.
14.136 casas destruídas ou danificadas.
Infraestrtura
4.478 quilômetros de estradas danificados,
142 pontes destruídas.
Fontes: UOL Noticias, G1, Gazeta do Povo, Globo Online, 20 de junho a 07 de
julho de 2010, RIMA Barragem da Perdigão.
COMENTARIO:
Observa-se no Brasil que a Defesa Civil é mais um órgão de distribuição de doações do que de prevenção de desastre. A finalidade da Defesa Civil é preventiva e deveria ter a função principal de alocar os recursos necessários quanto ao desastre. No pós-desastre várias ações são executadas por outros órgãos sem nenhuma coordenação. Não há banco de dados de desastre a fim de executar e planejar obras com finalidade de atenuar os efeitos adversos, conscientização da população quanto os riscos existentes na região, construção de uma rede de comunicação entre as cidades com potencialidades de desastres.
Esse tipo de desastre obedece a um padrão semelhante em todos os países. Recentemente foi na região da Calábria (Itália), Ilha da Madeira, em Angra dos Reis e São Paulo (Brasil).
As principais causas de inundação seriam:
■
A
morfologia da cidade a região tem relevo altamente acidentado, formado por
serras, morros, fundo de vale, e encostas íngremes.
■
O clima: chove torrencialmente na época do inverno
■ Uso e ocupação do solo de maneira desordenada
■ Não há mapeamento das áreas inundáveis quanto a:
1-Conhecimento da relação cota x risco de inundação
2- Definições dos riscos de inundação de cada superfície.
3- Incorporação a Legislação Municipal de uso e ocupação do solo em zona de risco
4- Falta de uso de Sistema de Informações Geográficas na análise de projetos de edificações e equipamentos urbanos. Os riscos devem ser avaliados por meio de perspectivas técnicas capazes de antecipar possíveis danos à saúde humana e ao meio ambiente. O uso de um Sistema de Informações Geográficas contribuiria nas atividades de prevenção e preparação para riscos, possibilitando a diminuição dos desastres, e, em caso de ocorrências, tendo um caráter logístico, determinando como uma população atingida por tais eventos poderia ser evacuada e protegida. Seria a ferramenta ideal para a Defesa Civil efetuar o gerenciamento do desastre a fim de alocar os recursos necessários para minimizar os efeitos do desastre.
5- Controle público da ocupação regular e irregular.
■ a prática legalizada da construção ilegal e construção de obras públicas que não respeita o ecossistema.
■ O aumento da vulnerabilidade é atribuível ao uso do solo e da água que é muitas vezes ainda não considera as limitações impostas pela hidrogeologia. Em conseqüência disso há uma ocupação desordenada do solo, principalmente construções, desmatamento, etc.
Infelizmente a historia de desastre natural demonstra que tais acidentes se repetem após um ciclo de poucos anos.
Não aprendemos ou as pessoas mudam e as lições são esquecidas, com os erros dos que nos antecederam. Infelizmente, muita gente não consegue enxergar nem tirar proveito dos fatos que já aconteceram , imagine a cegueira diante dos fatos portadores de futuro ou os mesmo futuros repetirão os mesmos erros. A natureza tem suas próprias leias para provocar o desastre.
Um dos sobreviventes retrata muito bem o que aconteceu: "Minha vida está dentro do rio. Tudo! Tudo!
Fontes: UOL Noticias, G1, Gazeta do
Povo, Globo Online, 20 de junho a 07 de julho de 2010, RIMA Barragem da
Perdigão.