A verdade escondida sobre Getúlio Vargas

Vargas desfruta até hoje de imensa popularidade, mas não sobra nada quando se faz uma análise mais detalhada de seu governo. Por Carlos U. Pozzobon

19/09/2010

O governo Vargas desfruta até hoje de imensa popularidade por ter sido propagandeado por acadêmicos e herdeiros políticos interessados na perpetuação do seu estilo político. Mas não sobra nada quando se faz uma análise mais detalhada do seu governo, como nos conta Affonso Henriques em seu livro "Ascensão e Queda de Getúlio Vargas" (edição de luxo, 1977, 3 vols., 1500 p).

Principais mitos que sustentam o governo Vargas

Criação da legislação trabalhista: não veio de Getúlio Vargas, mas de seu ministro do trabalho Lindolfo Collor que já havia apresentado o esboço da legislação para Flores da Cunha em 1928 (quando governador do Rio Grande do Sul) e a diversas lideranças políticas.

Em 1919 apareceu a primeira lei sobre acidente de trabalho. Em 1926/27 foi criada a lei das férias para comerciários e industriários. As leis mais importantes da Era Vargas foram propostas e aprovadas pelo Congresso, no curto período de liberdades que se seguiu à Constituinte de 1934 até 1937, e sancionadas pelo presidente interino Antonio Carlos de Andrada, e não por Vargas. Foram leis que estabeleceram o horário de 8 horas diárias, seguro social obrigatório, sindicalização, regulamentação do trabalho de menores e mulheres, seguidas pela lei que regulava a despedida injusta e estabelecia a indenização. Como todo oportunista, Vargas chamou a si a criação dessas leis para se beneficiar dos dividendos políticos e, depois de sua morte, passaram para o patrimônio trabalhista. Lindolfo Collor foi exilado pelo golpe de 37, juntamente com diversas personalidades que se opunham à ditadura. Não há qualquer traço de autoria de Vargas na criação das leis trabalhistas.

Criação da Petrobras: outra falácia atribuída a Vargas. Na verdade, a luta pelo petróleo começa com Lobato nos anos 30, juntamente com diversos empreendedores do nordeste, leste e oeste do Brasil. O Departamento de Produção Mineral sabotou todas as iniciativas da descoberta do petróleo no Brasil. Lobato narra claramente como Vargas seguia os interesses dos trustes internacionais que queriam o Brasil como reserva futura. Veio a guerra, faltou combustível, o país estava completamente paralisado pela política suicida de Vargas até que em 1953 os militares lhe deram um ultimato, pois o Brasil não podia continuar perdendo dinheiro. Vargas e os ministros da fase democrática (1950-54) queriam um regime até melhor do que efetivamente ocorreu com o monopólio exclusivo da Petrobras. Mas venceu a opinião militar. O Brasil que sempre enviava para os árabes entre 200 a 1 bilhão de dólares anuais continuou a fazê-lo até a data da autossuficiência de petróleo (2007). Esse é um dos principais desatinos na conta dos 5 trilhões de dólares que nos faltam no PIB para sermos um país de primeiro mundo !

Previdência social: talvez tenha sido o maior fator de apoio político a Vargas em todo o seu período de governo. Vargas vislumbrou aqui a oportunidade de obter receita com o desconto dos salários dos trabalhadores e empregadores, sem que necessitasse desembolsar um só centavo, pois no ato de criação da Previdência não havia aposentados.

Baseando-se no pecúlio dos ferroviários concebido nos anos 20, Vargas criou 45 Caixas e Institutos de Previdência, com 45 diretorias, burocratas, etc., num total de 42.500 empregados para 4 milhões de segurados. Para comparação, a Previdência norte-americana, criada pouco antes, tinha uma só instituição e 21.500 empregados para 10 milhões de contribuintes. O dinheiro da Previdência que entrava no caixa do governo Vargas ia para a compra de terrenos e construção de prédios de luxo. Para se ter uma ideia, Vargas construiu a torre-sede de 160 metros de altura da Central do Brasil, em vez de reformar os trilhos e máquinas dessa mesma ferrovia que tinha, à época, um acidente por dia pelas péssimas condições de infra-estrutura. A enorme multiplicação de empregos públicos representou, em termos de votos, um apoio sem igual a Vargas. Empregando comunistas na máquina pública, Vargas granjeou o apoio de Prestes e fez do PC seu aliado na campanha de 1950. Vargas subornava também os intelectuais com viagens de "estudos e especialização" ao exterior com dinheiro público - na verdade apenas turismo subsidiado. Assim, todo escritor que publicasse um artigo de apoio a Vargas tinha subsídio para publicar seu livro, e não raro era homenageado em coqueteis e festas.

Crise do café: para despistá-la, sua causa foi atribuída à crise mundial de 29. Mas em 1934 a crise havia acabado, e o que acontecia com o café brasileiro? Em vez de procurar mercados (os russos queriam o nosso café, mas Vargas não os recebeu, conforme nos conta Lobato), Vargas criou o IBC (Instituto Brasileiro do Café) que se encarregou de liquidar com a produção do café. O IBC, presenteado aos tenentes interventores como barganha de apoio, inicialmente queimou o café, mas depois descobriu o contrabando internacional e nunca mais a lavoura foi a mesma. As estatísticas da época são impressionantes: em 1929, o Brasil detinha 70% da produção mundial de café. Ao final da 2ª. guerra, tinha apenas 36 % da produção mundial. De 1934 a 1944 foram arrancadas ou abandonadas 750 milhões de mudas de café. No auge da crise, importamos café de Cuba. Depois, Vargas criou o Instituto do Açúcar e do Álcool, e o Brasil passou a importar açúcar. O mesmo com o arroz e o leite.

Criou o Instituto do Leite, e desde então o leite começou a rarear nos armazéns, e é dessa época a cultura da água no leite e do milho no café. Nunca havia faltado carne no Brasil. Mas, durante a guerra, surgiram as filas nos açougues e o racionamento. Era o pessoal de Vargas culpando a guerra, mas adotando o que se chamava de "economia dirigida", nada mais nada menos do que a intervenção do governo em todo o mercado nacional.

Desmonte da economia brasileira: apesar de ser mais conhecida pela truculência da censura e da repressão, a Era Vargas foi responsável pelo desmonte da economia brasileira que perdeu uma grande oportunidade de enriquecer com a guerra, quando então a Europa e os Estados Unidos compravam qualquer coisa que se produzisse. Nesse período, nações como a Argentina, Austrália, Nova Zelândia, Colômbia (cuja produção de café cresceu 500% enquanto o Brasil declinava por culpa do varguismo) e outras deram um grande salto. O Brasil desorganizou sua economia, criou milhares de novos empregos públicos e aprofundou seu déficit público seguindo o ciclo de empréstimos internacionais dos governos anteriores.

Volta Redonda surgiu dessa barganha. O Brasil fornecia apoio militar aos EUA em troca de empréstimos para a siderurgia que só apareceu por aqui devido a esse modelo de empréstimo casado: os EUA entregavam equipamentos no lugar de dinheiro. Se entregassem dinheiro, ele desapareceria no Ministério do Oba-Oba. Como não havia como desviar um alto forno, nem como sumir com aciarias descomunais, Volta Redonda foi de fato construída. E até hoje é uma glória em cujo prestígio o trabalhismo encontra um de seus principais símbolos. E agora o que vemos é o Brasil indo na mesma direção estatizante com a multiplicação astronômica de empregos públicos e novas estatais para "regular" o mercado. O ciclo de Vargas se repete reencarnado em outros nomes: os resultados serão os mesmos.

Fonte:Opinião e Notícia

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