A Violência e os Jovens Brasileiros

Introdução

O suposto crescimento da violência no Brasil tem sido alvo de noticiários em diversos meios de comunicação há alguns anos, porém uma nova característica tem marcado a atual onda de violência não somente no país, mas em todo o mundo: os autores dos delitos, desde simples roubos até homicídios, são jovens adolescentes. Crimes bárbaros cometidos por jovens de diversas idades e classes sociais, têm provocado uma polêmica discussão sobre a redução da maioridade penal.

O Estatuto da Criança e do Adolescente, assim como defensores dos Direitos Humanos, posicionam-se contra a redução da maioridade penal, baseados no argumento de que os adolescentes que cometem crimes o fazem por razões sociais. Do outro lado da "balança", parlamentares e familiares de vítimas de diversos crimes cometidos por menores, argumentam que faz parte da natureza e do caráter destes, serem violentos e cruéis, ou seja, acreditam no aspecto biológico ou puramente aleatório da violência despertada pelos menores.

É preciso compreender os motivos que levam pessoas jovens a corromper sua inocência para enfrentarem o mundo de forma estúpida e agressiva, optando por espalharem o horror ao invés de construírem um futuro positivo e promissor. Procura-se aqui discutir, em linhas gerais, os motivos que podem levar jovens a praticar delitos e em que sentido a educação, aliada à políticas públicas, pode ajudar a combater este problema.

Agressividade e Violência

De acordo com Sigmund Freud (Queiroz, Lourenço, 2008), a agressão é um instinto, considerado como impulso inato do organismo e que representa uma ligação entre o corpo e a alma. Enquanto que para o psicanalista Hacker (Queiroz, Lourenço, 2008), a agressão é vista como energia inata de cada ser humano que se expressa em atividades, e mais tarde nas formas de auto-afirmação até a crueldade individual e coletiva, socialmente aprendida e transmitida. Além disso, ele ressalta a distinção entre violência e agressividade, dizendo: "... toda violência é agressão, mas nem toda agressão é violência. (...) todas as formas de agressão levam à violência e são ameaçadas pelo perigo de primitivização e da regressão à violência. O grau e a intensidade do conhecimento minimizam esse perigo" (Queiroz, Lourenço, 2008).

Segundo Nardi (Nardi, 2008), a definição de violência está relacionada à definição de agressão. Ainda segundo este autor, a violência seria vista como realização determinada às relações de força, tanto em termos de classes sociais quanto em termos interpessoais. O que Queiroz (Queiroz, Lourenço, 2008) ressalta é que não se pode afirmar que exista um consenso na definição de violência, e em muitas publicações, inclusive de sua própria autoria, a violência é usada como sinônimo de agressão.

Adorno et. al. (Nardi, 2008), destacam que abordar as causas da criminalidade e violência entre jovens é um assunto sujeito a muitos debates e apontam cinco causas destacadas em estudos: influência individual relacionada à biografia pessoal; inserção em grupos; influências familiares associadas aos conflitos entre pais e filhos; educação e suporte financeiro; influência dos grupos e da vida comunitária.

Dentre todos os fatores citados, o mais destacado está na influência familiar e a criação que os pais oferecem aos seus filhos. Schrepferman et. al. (Nardi, 2008), argumentam que os comportamentos agressivos, anti-sociais de crianças e de adolescentes estão associados ao ambiente familiar no qual a criança está envolvida. Castro (Nardi, 2008) ressalta o papel socializador da família, que possui as funções procriativa, educativa e econômica. Além disso, o autor destaca que após acelerado avanço dos meios de comunicação, os pais passaram a concorrer com a poderosa mídia enquanto um forte instrumento de difusão de valores, crenças e atitudes. A influência de filmes e programas de televisão na manifestação da agressividade também é destacada por Rodrigues et. al.. (Queiroz, Lourenço, 2008), que ressaltam que a exposição a longo prazo de imagens violentas aumenta a probabilidade de atos violentos por parte do telespectador, e que em crianças isso é ainda mais preocupante, uma vez que elas tendem a imitar o comportamento dos modelos agressivos que observam. Belloni (Queiroz, Lourenço, 2008) destaca que as crianças e adolescentes são sujeitos do processo de socialização, e como tais, são objetos da ação de várias instituições sociais, incluindo a mídia. Bandura (Queiroz, Lourenço, 2008) já relatava as primeiras evidências de que em estudos empíricos com crianças e imagens de violência, ficou comprovada a maior tendência das crianças em copiar mais as cenas violentas que as não violentas.

Escola e Violência

Hoje, quando o Brasil já percorreu a sua Década da Educação, estabelecida pela LEI Nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, ou a Nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação -LDB (Jornal da Educação, 2008), constatamos que a escola continua deixando de cumprir seu papel. Os números mostram melhorias na educação brasileira, do ponto de vista dos governantes. Entre elas, estaria a universalização do Ensino Fundamental, com quase 100% de nossas crianças de 6 a 14 anos na escola. Entretanto, nunca se falou tanto em violência e agressividade na escola e na sociedade, mesmo entre os próprios jovens (Jornal da Educação, 2008).

Historicamente, baseamos nossos estudos sobre a violência, atribuindo-a à natureza humana. Ao mesmo tempo, a sociedade criou a escola, que tem entre suas inúmeras finalidades, mostrar como o mundo civilizado e humanizador é melhor para nós, nossos filhos, descendentes e todas os demais integrantes da raça, dita humana. Cabe à escola e à outras instituições sociais, fazer com que o ser humano se sinta parte importante da sociedade em que vive e deve modificar para melhor, convivendo com seus pares em harmonia. Os números e ações do dia-a-dia das escolas mostram o aumento vertiginoso da violência, da agressividade física e verbal (Carvalho, 2008). Será que a escola está fazendo o papel inverso: deseducando? Ou será que os conhecimentos produzidos pela humanidade afloram, cada vez mais, a natureza selvagem e violenta do homem contra seus semelhantes?

Já é momento de começarmos a descobrir em que ponto estamos errando. Não podemos admitir que ao mesmo tempo em que as crianças estão mais tempo nas escolas, tanto em quantidade de horas diárias, quanto em dias letivos, a violência possa aumentar tanto (Carvalho, 2008). Hoje, a escola distribui material escolar, uniforme, transporta e cuida das crianças, muitas vezes, durante todo o dia, e a violência tanto na escola, quanto na sociedade, está aumentando. Será que estamos apenas aprimorando a natureza selvagem de nossas crianças? Exacerbando seus direitos e esquecendo de mostrar e fazer com que cumpram suas obrigações, pois esta são essenciais para a manutenção da vida em sociedade? Nossas crianças vão para a escola para aprender a controlar e superar seus impulsos agressivos, mas nem isso, a escola está conseguindo ensinar.

Conclusão

Diante do exposto neste artigo, pode-se destacar que a polêmica a respeito da gênese da violência e agressividade humanas ainda existirá por algum tempo. Mediante a complexidade do tema e a dificuldade de encontrar uma explicação palpável, a nova indagação que se faz é sobre as formas de extinguir ou minimizar os efeitos perniciosos da violência e como não permitir que jovens destruam o que possuem de mais valioso que é a vida.

Com a evolução das gerações e com o passar das décadas, as formas de violência, o grupo em que predominam e o motivo que as justificam mudam, provocando cada vez mais o estudo intenso para combatê-las. Em outras palavras, é preciso investir na juventude, combatendo a vulnerabilidade social pelo aumento do capital social e cultural que poderá proporcionar a substituição do clima de descrença reinante por um sentimento de confiança no futuro.

Referências Bibliográficas

CARVALHO, R. M. L. L. A violência na educação formal. Disponível em: http://epsic.bvs-psi.org.br/pdf/peev2n3/v2n3a05.pdf. Acesso em: 05 de out. de 2008.

JORNAL DA EDUCAÇÃO. Escola não está civilizando. Disponível em: http://www.jornaldaeducacao.inf.br/index.php?option=com_content&task=view&id=346&Itemid=32. Acesso em: 09 de out. de 2008.

NARDI, A. T. Violência e Agressividade na Juventude. Disponível em:

http://alicetoigonardi-alice.blogspot.com/2008/06/violncia.html.Acesso em: 04 de out. de 2008.

QUEIROZ, L. R., LOURENÇO, L. M. As visões das correntes ambientalistas e inatistas no estudo da violência e da criminalidade dos jovens: uma perspectiva da Psicologia. Disponível em:

http://www.virtu.ufjf.br/artigo%206%20a%203.pdf. Acesso em: 08 de out. de 2008.

Fonte: http://www.webartigos.com/articles/21255/1/A-VIOLENCIA-E-OS-JOVENS-BRASILEIROS/pagina1.html#ixzz1MLBGJReL

Fonte: publicado 10/07/2009 por Augusto dos Santos Freitas em http://www.webartigos.com

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