Arquivo | fevereiro 2016

Ansiedade

O que é ansiedade ?

A ansiedade é um sinal de alerta, que permite ao indivíduo ficar atento a um perigo iminente e tomar as medidas necessárias para lidar com a ameaça. Portanto é um sentimento útil. Sem ela estaríamos vulneráveis aos perigos e ao desconhecido. É algo que está presente no desenvolvimento normal do ser humano, nas mudanças e nas experiências novas e inéditas. A ansiedade permite a um ator que estreará uma nova peça, ensaiar o suficiente para ter maior segurança e, consequentemente, menor ansiedade; ou então que um jovem se prepare demoradamente e até com vários detalhes irrelevantes para um encontro amoroso. Após algum tempo, a preparação para o encontro com uma antiga namorada se torna quase desnecessária, já que não há mais ansiedade.

Como surge a ansiedade?

A ansiedade pode surgir repentinamente, como no pânico, ou gradualmente, ao longo do tempo, que pode variar de minutos a dias. A duração da ansiedade pode variar de alguns segundos a anos e sua intensidade pode variar do muito leve ao gravíssimo. A ansiedade pode ser aumentada por um sentimento de vergonha: “Os outros notaram que estou nervoso”. Alguns ficam surpresos ao notarem que os outros não perceberam sua ansiedade ou não notaram a sua intensidade.

Como é a ansiedade normal?

A ansiedade normal é uma sensação difusa, desagradável, de apreensão, acompanhada por várias sensações físicas: mal estar epigástrico, aperto no tórax, palpitações, sudorese excessiva, cefaleia, súbita necessidade de evacuar, inquietação etc. Os padrões individuais físicos de ansiedade variam amplamente. Alguns indivíduos apresentam apenas sintomas cardiovasculares, outros apenas sintomas gastrintestinais, há aqueles que apresentam apenas sudorese excessiva. A sensação de ansiedade pode ser dividida em dois componentes:

  1. a consciência de sensações físicas, e
  2. a consciência de estar nervoso ou amedrontado.

Quando a ansiedade é anormal?

A ansiedade anormal ou patológica é uma resposta inadequada a determinado estímulo, em virtude de sua intensidade ou duração. Diferentemente da ansiedade normal, a patológica paralisa o indivíduo, traz prejuízo ao seu bem estar e ao seu desempenho e não permite que ele se prepare e enfrente as situações ameaçadoras.

Qual a diferença entre medo e ansiedade?

A diferença entre medo e ansiedade é questão teórica. Como citado anteriormente, a ansiedade é uma sensação vaga e difusa que nos leva a enfrentar com sucesso as situações agradáveis ou não. Já o medo, que também é uma reação normal, difere da ansiedade porque é ligado a uma situação ou objeto específico que apresenta perigo, real ou imaginário, e nos leva a evitá-lo. Um exemplo é o medo de assalto. Todos evitamos as situações que possam nos deixar mais vulneráveis.

O que é a fobia?

A fobia envolve uma ansiedade persistente, intensa e irrealística, em resposta a uma situação específica, como por exemplo altura. A pessoa fóbica evita a situação que desencadeie a sua ansiedade ou suporta-a com grande sofrimento. Entretanto, ela reconhece que sua ansiedade é excessiva e consciente que tem um problema. Uma fobia é caracterizada por:

  1. Medo excessivo, imensurável de um objeto ou situação;
  2. Comportamento de esquiva em relação ao objeto temido;
  3. Grande ansiedade antecipatória quando próximo do objeto em questão; e
  4. Ausência de sintomas ansiosos quando longe da situação fóbica.

O que causa uma fobia ?

Existem diversas teorias para o aparecimento de uma fobia como a psicanalítica, a comportamental, a existencial e a biológica.

Segundo as teorias psicanalíticas, a fobia é um sinal para o ego de que um instinto inaceitável está exigindo representação e descargas conscientes (sintomas de ansiedade ou fobias). A ansiedade desperta o ego para que tome medidas defensivas contra as pressões interiores. Se a repressão não for bem sucedida, outros mecanismos psicológicos de defesa podem resultar em formação de sintomas.

Segundo as teorias comportamentais, a fobia é uma resposta condicionada a estímulos ambientais específicos. Uma pessoa pode aprender a ter uma resposta interna de ansiedade após uma experiência negativa ou imitando respostas ansiosas de seu meio social. A teoria cognitiva da fobia sugere que padrões de pensamentos incorretos, distorcidos, incapacitantes ou contra-producentes acompanham ou precedem os comportamentos desadaptados. Os pacientes que sofrem de fobia tendem a superestimar o grau e a probabilidade de perigo em uma determinada situação e a subestimar suas capacidades para lidar com ameaças percebidas ao seu bem-estar físico ou psicológico.

De acordo com as teorias existenciais, as pessoas ficam fóbicas ao se tornarem conscientes de um profundo vazio em suas vidas. A ansiedade é a resposta a este imenso vazio de existência e significado.

Pelas teorias biológicas, a fobia é definida como uma função mental e essas teorias criam hipóteses para sua representação cerebral. Essas teorias são baseadas em medições objetivas que comparam a função cerebral de pessoas normais com indivíduos com fobias, principalmente através do uso de medicamentos ansiolíticos (tranquilizantes). É possível que certas pessoas sejam mais suscetíveis ao desenvolvimento de um transtorno de ansiedade, com base em uma sensibilidade biológica. Os três principais neurotransmissores associados às fobias são a noradrenalina, o ácido gama-aminobutírico (GABA) e a serotonina.

Quais são os principais distúrbios de ansiedade?

Os principais distúrbios de ansiedade são: ansiedade generalizada, ansiedade induzida por drogas ou problemas médicos, ataque de pânico, distúrbio do pânico, distúrbios fóbicos (agorafobia, fobia social, fobia generalizada etc.), transtorno obsessivo-compulsivo.

O que é o distúrbio de ansiedade generalizada?

O distúrbio de ansiedade generalizada é a ansiedade e preocupação excessiva, quase que diária, sobre uma série de atividades ou eventos, e que dura 6 meses ou mais. A ansiedade e a preocupação são intensas e de difícil controle, desproporcionais à situação e podem ser sobre as mais diversas questões como dinheiro, saúde etc. Nesse distúrbio, pelo menos três dos seguintes sintomas estão presentes: inquietação, fatiga, dificuldade de concentração, irritabilidade, tensão muscular e sono de má qualidade. O tratamento é realizado com a a associação de medicamentos (antidepressivos ou benzodiazepínicos) e psicoterapia comportamental.

O que é a ansiedade induzida por drogas ou doenças?

Neste distúrbio, a ansiedade é decorrente de problemas médicos ou uso de drogas lícitas ou ilícitas. As doenças que podem causar ansiedade são: infecções cerebrais, doenças do labirinto, distúrbios cardiovasculares (insuficiência cardíaca, arritmias), distúrbios endócrinos (hiper-atividade das glândulas tireoide ou supra-renal) e distúrbios respiratórios (asma, doença obstrutiva crônica do pulmão). Entre as drogas que podem causar ansiedade têm-se: álcool, cafeína, cocaína e diversas drogas medicamentosas. A ansiedade também pode ser causada quando se para de tomar determinados medicamentos ou drogas ilícitas.

Quais são os principais distúrbios fóbicos?

Os principias distúrbios fóbicos são agorafobia, transtorno do estresse pós traumático, fobia social, fobias específicas.

O que é a agorafobia?

O termo “agorafobia” significa medo de lugares abertos. Na prática clínica designa medo de sair de casa ou de situações onde o socorro imediato não é possível. O termo, portanto, refere-se a um grupamento inter-relacionado e frequentemente sobreposto de fobias que abrangem o medo de sair de casa, medo de entrar em lugares fechados (aviões, elevadores, cinemas etc.) multidões, lugares públicos, permanecer em uma fila, viajar de ônibus, trem ou automóvel, de se distanciar de casa e de estar só em uma destas situações. A agorafobia é uma complicação frequente no transtorno de pânico, onde todas as situações temidas têm em comum o medo de passar mal e não ter socorro fácil ou imediato.

O que é a fobia social ou transtorno de ansiedade social?

A fobia social é o medo patológico de comer, beber, tremer, enrubescer, falar, escrever, enfim, de agir de forma ridícula na presença de outras pessoas. Uma característica importante da fobia social é a ansiedade antecipatória e o sofrimento durante a exposição.

O que são fobias específicas?

São fobias restritas a situações altamente específicas, como determinados animais, altura, trovão, escuro, espaços fechados, visão de sangue ou medo de exposição a doenças específicas. Apesar de a situação temida ser limitada, a iminência ou o contato com ela pode provocar um ataque de ansiedade aguda. Fobias específicas surgem na infância e podem persistir por toda a vida se permanecerem sem tratamento, como ocorre na maioria dos casos. O tratamento indicado é a terapia comportamental, com uso de técnicas como a dessensibilização ou “flooding”, associadas a técnicas de relaxamento. Em alguns casos, o uso de benzodiazepínicos, por período limitado, pode ser útil.

O que é o Transtorno de Estresse Pós-Traumático?

É um distúrbio de ansiedade que se desenvolve em pessoas que experimentaram estresse físico ou emocional de magnitude suficientemente traumática para um ser humano comum.

As principais características deste distúrbio são:

  1. a re-experiência do trauma através de sonhos e pensamentos em vigília (“flash back”);
  2. torpor emocional para outras experiências relacionadas; e
  3. sintomas físicos de ansiedade, depressão e dificuldades cognitivas.

A ansiedade e depressão estão comumente associadas e a ideação suicida pode ocorrer. Como exemplo, há as experiências de guerra, catástrofes naturais, estupro, acidentes sérios etc. Fatores predisponentes, como traços de personalidade ou presença de outros transtornos mentais, podem facilitar o aparecimento do transtorno ou agravar o seu curso, mas não são necessários nem suficientes para explicar a sua ocorrência. O início do quadro segue o trauma com um período de latência que pode variar de poucas semanas a meses, raramente excedendo a 6 meses. O curso é flutuante e a recuperação ocorre na maioria dos casos. O tratamento com psicoterapia de orientação psicanalítica, terapia cognitiva e a associação a psicofármacos, ansiolíticos ou antidepressivos, conforme a síndrome predominante, parecem trazer bons resultados.

O que é o transtorno-obsessivo compulsivo?

O Transtorno Obsessivo Compulsivo, ou simplesmente TOC, é uma doença crônica caracterizada pela presença involuntária e intrusiva de obsessões e/ou compulsões. Obsessões são pensamentos, sentimentos, idéias, impulsos ou representações mentais vividos como intrusos e sem significado particular para o indivíduo. As obsessões mais comuns são as de limpeza e contaminação (por sujeira e doenças), verificação, escrupulosidade (moralidade), religiosas e sexuais.

De maneira geral, ainda cuidamos mais do corpo do que das emoções. “A ansiedade é um dos nossos exageros. Todos esses obstáculos que a vida nos dá podem ser vistos como um impedimento que tem que ser tirado do caminho ou como um impulso para o seu crescimento. Mas a cultura muitas vezes quer vender o fim do sofrimento como um produto! Eu vejo que o maior problema é a ansiedade em ter ansiedade, ou seja: a impotência em lidar consigo mesmo. Esse é um grande problema”, diz a filósofa Viviane Mosé.

Por isso mesmo, Viviane defende que não se medicalize em excesso as características humanas que nos ajudam a sobreviver, principalmente se levarmos em consideração que um traço marcante da sociedade atual é querer “evitar a qualquer custo lidar com suas angústias”. Só assim, lembra ela, a ansiedade pode cumprir um pouco seu propósito transformador.

Da mesma maneira que pessoas desatentas podem potencializar a habilidade de serem, por exemplo, multitarefa, ansiosos também podem se beneficiar da ansiedade moderada se precavendo de situações desgastantes.

Mas então, qual a fórmula do equilíbrio? Ninguém sabe ao certo. Pedir a um ansioso que ele simplesmente controle seus sentimentos ou que se acalme é tarefa ingrata e ainda pode agravar o estresse. Quem sofre demais precisa procurar ajuda: tratar ansiedade em grau alto é tarefa para um médico, sem dúvida. “Muita gente ainda não admite buscar tratamento e, no caso da ansiedade, é muito mais comum a pessoa chegar ao nível mais grave antes de se tratar”, diz o psiquiatra Wilson Joaquim. Para quem está no grau leve, um certo trabalho de “conformação da ansiedade” pode ser benéfico, lembra Frederico Mattos.

Para quem nasceu numa época cada vez mais parceira – para o bem e para o mal – de toda essa ansiedade, talvez valha como estratégia adotar o “primeiro passo” mais universal já inventado: pense em um problema de cada vez. Pensou e chegou a uma solução? Aplique a solução. Resolvido? Vá para o próximo problema. E leve a vida, ansiosa ou não, em frente.

Fonte: Dr. Antonio Egidio Nardi/Maria Beatriz Gonçalves

Esta entrada foi publicada em 17/02/2016, em Ciência.

Por que sonhamos?

Flávio Alóe é médico neurofisiologista clínico, membro do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas.

Há pessoas que dizem sonhar muito; outras, que não sonham nada. Na verdade, os seres humanos sonham todas as noites, lembrem-se ou não dos sonhos que tiveram. Aliás, há trabalhos demonstrando que todos os mamíferos sonham.

Para o cérebro não faz diferença se é sonho ou realidade. Por isso as recordações das experiências que registramos dormindo são tão vivas. Se analisarmos as ondas cerebrais provocadas pelo sonho, veremos que suas características são semelhantes às dos momentos de vigília. Às vezes, porém, sua intensidade é tanta que para evitar uma reação que nos torne capazes de desferir um soco num inimigo hipotético, no exato instante em que começamos a sonhar, o tronco cerebral é desligado a fim de impedir que os neurônios conduzam estímulos motores. Dessa forma, na fase onírica, a atividade cerebral é máxima e a motora é mínima. Com exceção dos olhos que se movimentam com rapidez, praticamente ficamos imóveis. Isso ocorre durante o sono REM (Rapid Eyes Movement). Se despertarmos nesse período, é provável que nos recordemos com detalhes do sonho que estávamos tendo.

TODOS OS MAMÍFEROS SONHAM

Drauzio – Você poderia começar explicando o que é o sonho?

Flávio Alóe – O sonho é uma atividade mental ligada a uma série de ocorrências que se sucedem durante a fase de sono REM dos mamíferos. Obviamente, é um pouco mais difícil estudar o fenômeno nos outros mamíferos que não o homem, porque eles não têm como contar sua experiência. Todavia, existem marcadores neurofisiológicos indiretos que tornam possível perceber que o animal está sonhando. Gatos, por exemplo, viram o olhar para o lado como se estivessem vendo uma presa ou algo que desejassem comer. Suas reações, nesse momento, são bem semelhantes às do modelo humano.

FASE REM DO SONO E DO SONHO

Drauzio – Qual é a relação existente entre a fase REM do sono e o sonho?

Flávio Alóe – Entende-se como sono REM um estado comportamental diferente do estado de vigília e do sono profundo. É uma fase em que o cérebro está ativo e o corpo ativamente paralisado para que a pessoa não saia fazendo o que está sonhando.
Nos seres humanos, o primeiro estágio do sono é superficial. Nos 30 ou 40 minutos seguintes, paulatinamente, ele atinge sua fase mais profunda. Duas horas depois de terem adormecido, as pessoas entram no sono REM, fase em que ocorre o desligamento da musculatura corporal e aparecem os movimentos oculares rápidos, marcadores fáceis de serem percebidos com monitorização laboratorial pelo perfil de atividade das ondas cerebrais. Se acordadas nesse período, 95% das pessoas dirão que estavam sonhando.

Drauzio – Existem pessoas que não sonham?

Flávio Alóe – A não ser que estejam sob medicação ou tenham alguma doença orgânica, todas as pessoas sonham de quatro a seis vezes numa noite normal de sono. Os antidepressivos podem inibir o sono REM no início do tratamento, mas aos poucos ele vai sendo recuperado.

Os sonhos concentram-se na fase REM do sono, mais para o final da noite. Por isso, muitas vezes quando o despertador toca, acordamos lembrando do sonho que estávamos tendo.

Drauzio – De fato, quando nosso sono é interrompido pelo alarme do despertador, é mais fácil lembrar do que estávamos sonhando. Muitas vezes, porém, antes de chegarmos no banheiro, já esquecemos do sonho que tivemos. 

Flávio Alóe – Raramente conseguimos lembrar um sonho por inteiro. O primeiro motivo é porque os sonhos são muito bizarros, não têm trama nem lógica. Uma hora estamos nas Cataratas do Iguaçu, noutra no Canadá e existe uma pessoa voando por perto. A outra razão para o esquecimento é que a circuitaria neuronal usada para produzir o sonho é diferente da utilizada para a memorização do aprendizado diário. É como se escolhêssemos um caminho diferente todos os dias para chegar ao destino. Três ou quatro semanas depois, se quiséssemos lembrar o percurso adotado numa determinada ocasião, jamais conseguiríamos. Parece mesmo que o sonho foi feito para ser esquecido. Não se sabe bem por que, mas é como se ele existisse para fazer uma limpeza neuronal, retirando as informações em excesso ou inúteis. Só permanecem aquelas que representam um evento traumático, de caráter repetitivo e que acaba transformando-se num transtorno do sonho.

FUNÇÃO DO SONHO

Drauzio – Na Antiguidade, os sonhos eram considerados premonitórios. Essa fase do sonho mágico foi derrubada por Freud, quando estabeleceu sua ligação com o inconsciente. Na década de 1950, quando se conheceu melhor a fisiologia do sonho, passou-se a entendê-lo como simples descarga de informação inútil, uma forma de o sistema nervoso livrar-se do que não lhe interessa. Mais tarde, as experiências realizadas com outros mamíferos mostraram o sonho funcionando como uma estratégia de sobrevivência. Como a Neurofisiologia moderna encara essas teorias?

Flávio Alóe – O lado simbólico dos sonhos envolve um mecanismo psicológico que os freudianos interpretam à sua maneira. Do ponto de vista neurofisiológico, o sonho desempenha uma série de funções. Uma é descarregar o excesso de informações, de resíduos que deixaram de ser interessantes. Outra vem sendo estudada desde 1988 e indica que o sonho é importante para fazer a reverberação, ou seja, a reativação de determinados circuitos. Parece que ele tem a função de proporcionar um aprendizado indispensável para a perpetuação da espécie, pois facilita a transferência de elementos apreendidos durante a vigília de uma memória de curto prazo para outra de prazo mais longo. É como passar repetidas vezes uma fita de vídeo para que a pessoa assimile o que nela está contido.
Uma experiência feita com ratos demonstrou que a circuitaria neuronal ativada durante o processo de aprendizagem de uma tarefa nova, estava ativa durante o sonho e, depois de um tempo, era reativada automaticamente toda a vez que o animalzinho refazia a tarefa que tinha aprendido.

Drauzio  Para quem não sabe como isso acontece, existe um exame chamado PET que mostra as áreas do cérebro que estão funcionando em determinado momento. Experiências com ratinhos soltos num labirinto demonstraram que durante o sonho são ativadas as mesmas áreas cerebrais estimuladas enquanto o animal percorre o local. Nossos problemas são muito mais complexos do que os desses ratinhos, pois envolvem relações pessoais, familiares, afetivas e de trabalho.

Flávio Alóe – Existem outros experimentos interessantes. Está provado que ratos privados do sono REM apresentam menor capacidade de aprendizagem.
Já os seres humanos possuem dois tipos de memória: a memória declarativa que permite decorar, por exemplo, uma lista de palavras ou de números, e a memória de procedimentos por meio da qual se aprende a fazer alguma coisa. Comparando dois grupos de pessoas, as que são privadas do sono REM manifestam desempenho de aprendizado significativamente pior do que as que dormem sem interferência.
Tais evidências atestam que o sono REM é importante para o aprendizado desde a escala biológica mais primitiva.

CONTEÚDO DOS SONHOS – OS PESADELOS

Drauzio – Nós sempre sonhamos com acontecimentos ligados ao nosso dia a dia?

Flávio Alóe – Não necessariamente. Uma pessoa submetida a um trauma, a estresse, a um assalto ou perda violenta de um ente querido pode reverberar esse acontecimento sob forma de sonho durante meses ou anos a ponto até de ele tornar-se um transtorno de ansiedade, ou pode não sonhar nada que se refira a esse acontecimento específico. De qualquer maneira, quanto mais robusta e traumática a informação, maior probabilidade de ser incorporada ao universo dos sonhos por determinado período.

Drauzio – Qual a explicação para acordamos assustados no meio de um pesadelo?

Flávio Alóe – O pesadelo pressupõe a ativação do sistema nervoso autonômico simultaneamente com o conteúdo de um sonho desagradável para aquela pessoa em particular, porque o que é considerado pesadelo para uns deixa de sê-lo para outros. Não é o sistema nervoso atuante, mas a carga emocional que faz acordar.

O pesadelo pode surgir de um estímulo neutro sem a menor relação com o que aconteceu durante o dia ou pode ser recorrência de um fato traumático já vivido. Normalmente, a pessoa que tem um pesadelo desperta suando, com frequência cardíaca acelerada e sensação de angústia.

Drauzio – Por que a pessoa acorda quando tem um pesadelo e não acorda quando o sonho é tranquilo?

Flávio Alóe – Se a pessoa sonhar que está sendo assaltada, a carga de emoção negativa é exatamente igual à que sentiria se o fato estivesse acontecendo realmente naquele momento. Como consequência, o sistema nervoso autonômico sofre certo nível de ativação que provoca alterações orgânicas responsáveis pelo despertar no meio do pesadelo.

Drauzio – As crianças têm mais pesadelos do que os adultos?

Flávio Alóe – Os pesadelos são mais comuns nas meninas, nas mulheres em idade adulta, seguidas das mulheres de terceira idade e menos prevalentes nos idosos do sexo masculino. Não existem estudos a respeito dessa distribuição. Talvez haja alguma intercorrência da personalidade feminina ou de seu perfil hormonal.
Crianças talvez tenham mais pesadelos, porque sua capacidade de absorver acontecimentos negativos é limitada pela falta de experiência e maleabilidade de comportamento.

Drauzio – Você sonha com a morte dos outros e pode até acordar chorando por causa disso, mas nunca conheci alguém que tivesse sonhado com a própria morte. Por que isso acontece?

Flávio Alóe – Não sei dizer. Realmente, nunca ouvi falar de alguém que tenha sonhado com a própria morte. Acredito que não haja circuitaria neuronal com memória para esse tipo de experiência, porque se morre uma única vez. Não existe esse bit de memória no nosso cérebro.

Drauzio – Existe um sonho frequente em que a pessoa se vê numa situação de perigo, quer gritar e pedir socorro, mas sua voz não sai de jeito nenhum? Por quê?

Flávio Alóe – Não tenho uma explicação clara para esse fenômeno. Sei que existe um transtorno do sono chamado transtorno comportamental do sono REM que provoca uma reação completamente diferente dessa que foi descrita. Ao contrário da fisiologia normal que prevê o corpo paralisado e a musculatura ativamente inibida durante o sono, as pessoas com esse distúrbio, em geral homens na terceira idade, fazem exatamente o que estão sonhando e passam por períodos alternados de imobilidade e movimento. Estão ativas, se no sonho lutam contra um inimigo, e absolutamente paralisadas, se caíram na água gelada ou na areia movediça. Provavelmente, no caso que você citou, exista um comando para a pessoa movimentar-se e fugir da situação de perigo, mas a musculatura ativamente inibida não reage. Nesse caso, o sonho pode refletir o que está acontecendo com seu sistema motor naquele momento.

DISTÚRBIO COMPORTAMENTAL DO SONO REM

Drauzio – O que ocorre com as pessoas sonâmbulas que se levantam durante a noite e no dia seguinte não se lembram do que fizeram.

Flávio Alóe – Essa é uma área fascinante. O mais interessante nesses transtornos de sonambulismo é o distúrbio comportamental do sono REM que acontece com os idosos do sexo masculino, que têm uma atividade motora exuberante, quase teatral, durante o sono. São idosos pacatos, estáveis, psicologicamente equilibrados, velhinhos aposentados que amam suas esposas. Em geral, as mulheres se queixam que durante a noite eles viram bicho, levantam da cama, gritam, brigam, batem nelas. Há relatos bizarros na maioria dos casos registrados pela literatura norte-americana. No sonho, esses pacientes lutam contra inimigos virtuais, ursos ferozes, soldados ameaçadores e agem como se o desafio fosse real. Suas esposas acabam sendo as maiores vítimas desse combate e, às vezes, chegam ao consultório de olho roxo ou dentes quebrados. Outros destroem móveis ou pertences pessoais dentro do quarto. Há o episódio de um americano que, fugindo de um inimigo, pulou da janela do segundo andar de sua casa, caiu na grama do jardim e sofreu várias fraturas. São quadros dramáticos de indivíduos perfeitamente normais durante a vigília, que se transformam em feras durante o sono.
Felizmente, eles respondem bem à medicação. É impressionante a desproporcionalidade entre o quadro clínico e a resposta ao tratamento com um diazepínico que já está no mercado há mais de 40 anos. Trata-se de um medicamento que aumenta a circuitaria inibitória dentro do sistema nervoso.

SÍNDROME ALIMENTAR NOTURNA

Drauzio – E aquelas pessoas que se levantam durante a noite e assaltam a geladeira?

Flávio Alóe – Trata-se de outro tipo de parassônia descrito na literatura como síndrome alimentar noturna. Acontece geralmente com mulheres de meia idade. Algumas manifestam um comportamento absolutamente inconsciente, não se lembram de nada do que fizeram durante a noite. Muitas comem coisas impalatáveis, como feijão frio, carne crua, grandes quantidades de gordura, bebem óleo. No dia seguinte, quando se levantam e encontram a cozinha toda suja e desarrumada, não sabem o que aconteceu. Diante dessa situação, os maridos costumam trancar a porta da cozinha e esconder a chave. Já vi casos de pessoas que colocaram cadeado na geladeira para conseguir controlar esse impulso.

REAÇÃO DOS PACIENTES

Drauzio – Existe uma crença popular que não se pode acordar uma pessoa durante a crise de sonambulismo. Isso é verdade?

Flavio Alóe – Não é verdade. Aconselha-se a não acordar as crianças para evitar um desconforto maior, pois podem ficar irritadas e confusas se forem acordadas durante um episódio de sonambulismo. O certo é levá-las tranquilamente de volta para a cama e deixá-las continuar dormindo.
Outra crença improcedente é que os sonâmbulos andem de braços esticados, olhos fechados e saiam de casa como registram os contos infantis. O máximo que pode acontecer é a pessoa sentar-se na cama, falar alguma coisa, mexer no pijama, ficar um pouco de pé e depois voltar a deitar.

Drauzio  Todos esses casos são medicados ou a prescrição depende da gravidade de cada um?

Flávio Alóe – O distúrbio do sono REM apresenta alto risco de violência, de danos pessoais e para o patrimônio. Por isso, os pacientes devem ser medicados. Por outro lado, a qualidade do sono também fica prejudicada. Os pacientes se queixam de cansaço e sonolência durante o dia, mas há medicamentos que ajudam a melhorar o quadro.
Nos casos de sonambulismo infantil, se os episódios apresentarem baixa frequência, as famílias são orientadas para tratar do problema comportamentalmente. Já no que se refere ao transtorno alimentar noturno, a medicação é importante para evitar a ingesta excessiva de calorias e o risco de acidentes.

Drauzio – É difícil explicar como alguém se levanta de olhos abertos, abre a geladeira, pega os alimentos, come e não acorda.

Flávio Alóe – Alguns desses pacientes comem uma barbaridade e adquirem um sobrepeso considerável. Não conseguem emagrecer, porque abusam da alimentação durante a noite. Alguns se lembram vagamente do que fizeram. Outros se lembram bem, mas afirmam não conseguirem controlar-se na vigência da crise. Uma parte age absolutamente inconsciente.
Há ainda quadros que merecem ser destacados. Todo nosso repertório de comportamentos diurnos pode ser representado durante o sono REM e o sono não REM. Nos últimos anos, têm sido relatados casos de atividade sexual durante o sono em que as pessoas estão semiconscientes ou inconscientes. Algumas acabam parando nos tribunais porque chegam a praticar abuso sexual contra menores.
No Laboratório do Sono do Hospital das Clínicas, apareceu um rapaz por volta de 30 anos de idade cuja esposa sabia distinguir claramente quando ele a procurava acordado ou dormindo a partir do dia em que lhe perguntou o que haviam feito no meio da madrugada. Ele não se lembrava de nada. Esse rapaz era portador de um transtorno sexual que se manifestava durante o sono conhecido como parassônia sexual.

SONO E ÁLCOOL

Drauzio – Como o álcool interfere no sono? Tem gente que diz sonhar mais quando bebe?

Flávio Alóe – Depois de uma refeição pesada, o desconforto gástrico provoca maior dificuldade para dormir. O estômago cheio obriga a pessoa a dormir de barriga para cima, o que proporciona mais despertares e, consequentemente, recordação de número maior de sonhos.
Já o álcool, na primeira metade da noite, atuando sobre o sistema nervoso, inibe o sono REM. Lá pelas três ou quatro horas da manhã, eliminado do organismo, vem o rebote. O que foi inibido na primeira metade da noite, cerca de 40% de sono REM, vai manifestar-se na segunda metade, entre quatro e sete horas da manhã. No final da ação residual do álcool, o sono torna-se mais superficial, o que facilita a interrupção do sono. Por isso, a pessoa se lembra mais dos sonhos quando bebe.

“OS SONHOS, SONHOS SÃO”

Drauzio – Existe alguma base científica que permita explicar as teorias que as pessoas elaboram a respeito dos sonhos como fonte de revelação dos desejos íntimos ou de características da personalidade?

Flávio Alóe – A tarefa de interpretar os sonhos cabe ao pessoal que trabalha com psicanálise. Na visão neurofisiológica do sono com sonhos, os sonhos representam simplesmente uma manifestação elétrica do cérebro, usando o material do passado recente ou remoto para construir histórias bizarras e sem nexo, mas que desempenham múltiplas funções: memória, plasticidade neuronal, ou seja, reconstrução das ligações entre os neurônios, e desenvolvimento cerebral. Por causa disso, crianças pequenas e lactentes na fase de amamentação sonham mais que os adultos.
Acho difícil usar essa janela do nosso comportamento, que é o sonho, para definir a personalidade de uma pessoa, especialmente se considerarmos que, às vezes, elas sonham com coisas que nada têm a ver com seu dia a dia.

Drauzio – Seguindo essa linha de raciocínio, já que todos os mamíferos sonham, fica complicado imaginar a personalidade de um coelho com base nos sonhos do animal.

Flávio Alóe – Se usarmos determinados tipos de medicação antidepressiva, estaremos suprimindo o sono REM durante semanas e nem por isso haverá alterações na personalidade das pessoa ou afloramento de tendências positivas ou negativas. Ao contrário, quando indicado adequadamente, o antidepressivo melhora os transtornos de melancolia e tristeza.

Esta entrada foi publicada em 16/02/2016, em Ciência.

A Santíssima Trindade e o Espírito Santo

Por trás de toda dualidade existe uma unidade oculta, a trindade. (Rodolf Steiner)

Uma das questões mais complicadas entre os dogmas cristãos proclamados pelos bispos em seus concílios é a da Santíssima Trindade. De uma coisa universal tão simples, fizeram uma tremenda confusão. Mas não vamos condenar a Igreja por isso, pois que tal fato se deve também à mentalidade atrasada da época, quando, como já vimos, os bispos eram pessoas simples e até semi-analfabetas, e quando pouco se conhecia da Bíblia, salvo raras exceções.

Mas é justamente por isso, que somos também de opinião de que a Igreja, deixando de lado seu orgulho, revise os seus dogmas criados em épocas de uma certa ingenuidade teológica influenciada pela mitologia, e mesmo de ignorância geral, reconhecendo, mais uma vez, como ela já reconheceu, que ela foi vítima de erros, erros esses, geralmente, oriundos do ego, orgulho e arrogância dos seus bispos do passado, que eram seres humanos como nós mesmos e, por isso mesmo, cheios de deficiências e imperfeições morais. Na verdade, o que mais impede a Igreja de reconhecer seus erros é o ego dos bispos, pois querem eles se considerar infalíveis nos concílios. E, eles reconhecerem que seus colegas do passado erraram, eles têm que reconhecer que eles também podem hoje errar, o que eles, por orgulho, não querem admitir.

Entretanto, mesmo sabendo que a Santíssima Trindade tem erros, nós a respeitamos. Isso porque é longo o período em que ela vem sendo aceita dessa forma em que foi criada, sendo, pois, fortes as energias mentais acumuladas em cima desse modo de pensar de milhões ou bilhões de pessoas. Essas energias assim acumuladas criam uma atmosfera daquilo que os esotéricos, teósofos e ocultistas chamam de egrégora, o que representa uma grande força energética sagrada que merece respeito. É como disse Jesus: Seja te dado conforme tu creste.” E muitos creram e crêem nela assim como ela foi criada e vem sendo aceita ao longo dos séculos.

A Trindade, como vimos acima, é universal. Ela está presente na própria natureza: pai, mãe e filho. Igualmente, ela está presente na energia: eletricidade positiva, negativa e lâmpada, rádio, TV, motores etc. Nós mesmos somos uma trindade: espírito, alma e corpo, trindade essa que nos é apresentada por São Paulo.

E eis alguns exemplos da Trindade nas principais relligiões do mundo: Pai, Filho e Espírito Santo (Cristianismo): Kether, Chekmah e Binah (Cabala e Judaísmo); Buda, Darma e Sanga (Budismo do Sul); Amithaba, Avalokiteshvara e Mandjusri (Budismo do Norte); Tulac, Fan e Mollac (Druidas); Anu, Ea e Bel (Caldeus); Odim, Freva e Thor (Mitologia Escandinava); Osíris, Ísis e Hórus (Egito Antigo; e Brama, Vixnu e Shiva (Hinduísmo).

Mas, afinal de contas, o que é que está errado na Trindade Cristã?

Deus é um só, isto é, o Pai, como nos ensinou Jesus, ou o Brâman, segundo os orientais, e que não pode ser confundido com o Brama, um aspecto da Trindade Hindu.

Deus é um só, mas Ele tem atributos ou aspectos. E é aqui que aparece a falha do Cristianismo, pois esses aspectos foram transformados em pessoas e, por isso, outros deuses. pelos bispos da Igreja em alguns concílios ecumênicos, às vezes muito polêmicos, como já vimos. Por exemplo, os teólogos dizem que há um Deus só em três pessoas distintas: Pai, Filho e Espírito Santo. Mas, isoladamente, cada um é Deus Todo-Poderoso, como o é o Pai. E, então, na verdade, eles estão ensinando que há três deuses.

No Concílio Ecumênico de Nicéia (325), eles divinizaram Jesus, derrotando Ário e seus partidários que, como já vimos, não aceitavam que Jesus Cristo fosse também Deus igual ao Pai.

Como Jesus era uma pessoa, transformaram essa sua pessoa humana em Pessoa Divina única, dogmatizando que a pessoa humana Dele não existia, quando nós temos certeza de que Ele, Jesus, existiu como pessoa em nosso Planeta Terra, aonde Ele veio cumprir uma importante missão, qual seja, a de ser Enviado do Pai para nos trazer a Boa Nova ou o Evangelho.

Esse é um dos dogmas da Trindade que se chocam com a nossa razão, e que é uma verdadeira fábrica de ateus no Ocidente, que é de cultura cristã. E já vimos qual é a explicação dos teólogos: “trata-se de um mistério de Deus”. Mas, na verdade, isso é mistério dos teólogos e não de Deus. Usando de uma expressão popular, essa resposta deles é “conversa para boi dormir!”

O Cristo ou Verbo de Deus encarnado no homem Jesus de Nazaré, na realidade, representa um dos aspectos de Deus. E, como esse aspecto foi transformado numa pessoa, transformaram também em pessoas o Pai e o Espírito Santo. E o Espírito Santo, instituído no Concílio de Constantinopla (381), ganhou também o título de Deus. O Pai todos nós sabemos que Ele é Deus, aliás, o único Deus verdadeiro. Mas, além de ser transformado também em pessoa, passou a ter, ao lado Dele, mais dois Deuses, ou seja, Jesus e o Espírito Santo, formando, assim, a confusa Santíssima Trindade.

Sem querer agredir a Igreja, mas querendo apenas dizer a verdade, os dogmas foram criados justamente para consagrarem como sendo verdades inquestionáveis certos princípios doutrinários que, qualquer pessoa honesta e sincera consigo mesma não aceita. E eles não eram apenas expostos, mas impostos à força. Mas mesmo assim, surgiram os hereges ou rebeldes contra os dogmas, que, geralmente, eram pessoas inteligentes e comprometidas com a verdade, pelo que se tornaram vítimas de perseguições por parte da Igreja, e mais tarde, eles morriam nas fogueiras da Inquisição.

Os próprios teólogos dizem que não podem entender essas questões do Dogma da Trindade. Então nos perguntamos: como aceitar como sendo certa uma questão doutrinária que não entendemos, se das que entendemos, nos enganamos, às vezes, nas interpretações delas? E, se nem sempre é fácil acreditarmos em coisas que entendemos, é praticamente impossível crermos em coisas que não entendemos.

Vejamos o que nos diz Santo Tomás de Aquino, o “Doutor Angélico”, em sua Suma Teológica, quandoa trata da Santíssima Trindade, o qual, segundo o professor e teólogo Dr. Carlos Torres Pastorino, teve dificuldades em tratar do assunto, já que a Doutrina da Santíssima Trindade tivera seus três aspectos invertidos, os quais deveriam ser Espírito-Pai-Filho”, e não Pai-Filho-Espírito Santo.

Para reforçarmos o que estamos dizendo aqui, não podemos deixar de destacar que o Dr. Pastorino é diplomado em Filosofia e Teologia pelo Colégio Internacional S. A. M. Zaccaria, em Roma, Catedrático de Latim e Grego da Universidade Nacional de Brasília, DF, autor de Minutos de Sabedoria e Sabedoria do Evangelho, uma obra monumental teológico-bíblica, de 8 volumes, e grandemente enriquecida com os aspectos histórico-doutrinários de todas as épocas do Cristianismo. Essa obra destaca-se também pelo grande número de palavras e textos em Grego que são traduzidos por Pastorino, ele que foi um dos maiores conhecedores de Grego da América Latina.

Passemos, agora, a palavra a Santo Tomás de Aquino, na tradução de Pastorino da Suma Teológica: “Diz-se que o Espírito Santo é a união entre o Pai e o Filho, já que é o Amor; porque como o Pai ama num único amor a si e ao Filho, e vice-versa, é  expressada no Espírito Santo, como Amor, a relação do Pai ao Filho e vice-versa, como do Amante ao Amado.

Mas pelo fato mesmo de que o Pai e o Filho se amam reciprocamente, é necessário que o amor mútuo, que é o Espírito Santo, proceda de um e de outro.”

Porém, sabemos ser o amor algo abstrato. E o Espírito Santo, Deus, Amor é concreto, ou em outros termos, Deus é Amor, e esse Amor é um substantivo concreto em toda a acepção da palavra. Portanto, tudo é gerado Dele, tudo vem Dele, sendo Ele a causa primeira de tudo. Assim, Dele procedem também os Aspectos de Pai e de Filoho, não sendo, pois, Ele só o Amor que procede Dele e do Filho. O pensamento de Pastorino é também esse, embora a sua exposição seja um pouco diferente dessa nossa.

No Evangelho de João 1,1, lemos: “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus.”

Sabemos pela Bíblia que Deus é Espírito (um Espírito Santo em toda a acepção desta expressão) e é Verbo – “E o Verbo era Deus.”

E, no mesmo Evangelho de João 1,14, lê-se: “E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós”. Esta expressão entre nós não é fiel ao original, que é em nós (do Grego em hemin; e do Latim in nobis, como está na Vulgata). E por que se encarnou o Verbo em nós? Porque se encarnou em nossa espécie humana e, de um modo especial, em Jesus. “Nele habitou plenamente toda a Divindade”, como afirma São Paulo, Divindade essa que habita em nós, também, pois somos templos do Espírito Santo (dum Espírito Santo no original grego), segundo ainda São Paulo.

De fato, o nosso espírito é uma centelha divina encarnada.  Em outros termos, é o Cristo ou Verbo encarnado, como parte do Aspecto Filho de Deus-Pai-Espírito, Espírito Santo. Mas em nós o verbo não habita plenamente como em Jesus, porque essa nossa centelha divina está ainda muita atrasada em relação à Dele. Por isso São Paulo usa a expressão: “Até que todos cheguemos à estatura mediana de Cristo”, o que ainda vai demorar um longo tempo ou várias reencarnações. E Jesus é o nosso instrutor e modelo, justamente porque Ele está bem à nossa frente como ser humano.

Mas também nós vamos chegar lá. Para isso temos nossos espíritos imortais com uma eternidade pela frente, para que possa continua a sua caminhada evolucional. O próprio Jesus disse que poderemos fazer tudo que Ele fez e até obras maiores do que as que Ele fez, poderemos fazer.E São Paulo, sempre confirmando a nossa evolução, diz: “Continuarei sentindo as dores do parto, enquanto eu não vir o Cristo manifesto em vós.” E numa outra parte, ele afirma: “A cada dia eu sou um homem novo.”

Segundo a Física Moderna, tudo no universo é vibração. E toda energia se transforma. Figuradamente, é óbvio, quando a Bíblia diz que Deus, num primeiro ímpeto de criar o mundo, proferiu a frase “Faça-se a luz”, simultaneamente, duas energias se criaram: a energia sonora de sua frase ou som e a da luz, o que poderíamos chamar de Big Bang.

O Verbo de Deus, do Espírito – “O Verbo era Deus”, pois faz parte de Deus -, em seu Aspecto de Pai-Criador, entrou em ação, criou o Aspecto-Filho, também Verbo –“E o Verbo se encarnou em nós -, sendo daí para a frente tudo criado, com as energias do Verbo, som, transformando-se em luz, primeiramente, e depois em tudo , ou seja, o Universo: “Deus, por Ele e Nele”.

Às vezes, somos repetitivos em algumas questões mais profundas, de propósito, para as deixarmos claras para os leitores. E sempre continuaremos com esse nosso propósito de tornar as coisas mais claras para o leitor.

A ordem da Santíssima Trindade, de acordo com Santo Tomás de Aquino, deve ser, repetimos, Espírito Santo, Pai e Filho ou Espírito (Deus), Pai (em seu Aspecto de Pai) e Filho (em seu Aspecto de Filho).

Quando os teólogos criaram a Santíssima Trindade e transformaram os aspectos de pessoa de Deus em três pessoas e estas no próprio Deus, formando três Deuses, eles agiram de boa fé. Com isso, eles quiseram engrandecer a Deus e a nós seres humanos, que somos pessoas. E, assim, apesar da grande confusão teológica que criaram, eles quiseram fazer com que ficássemos mais semelhantes a Deus. Mas Deus não é pessoa, é espírito, que transcende pessoa. E, como vimos, não são Deuses as pessoas atribuídas aos aspectos pessoais de Pai-Criador, de Filho-Criado e de Amor mútuo entre os dois, a que deram o nome de Espírito Santo. Jesus não nos ensinou isso. Somente a partir do Concílio Ecumênico de Constantinopla (381), os teólogos começaram a criar essas idéias confusas e transformando-as em dogmas. Valeu a sua boa intenção, mas não podemos concordar com os seus erros.

Para a Teologia da Igreja, como mostramos acima, o Espírito Santo é o Amor mútuo entre o Pai e o Filho. Mas esse Amor consiste no amor entre amante e amado, ou do sujeito amante para com o objeto amado, e deste para aquele, quando Deus é Amor em toda a acepção da palavra. Esse Amor, então, que deu origem ao próprio Filho e ao Espírito Santo não pode ser só um amor entre dois seres que se amam reciprocamente – argumento esse defendido também por Pastorino -, pois esse Amor entre dois seres é abstrato, acidental, enquanto Deus é o próprio Amor concreto.

E lembra-nos Santo Tomás de Aquino do que disse Santo Agostinho: “Não se deve compreender confusamente o que diz o Apóstolo: Dele, por Ele e Nele. Diz Dele por causa do Pai; por Ele por causa do Filho; e Nele por causa do Espírito Santo.”

Mas Santo Tomás adverte-nos contra a colocação de Santo Agostinho: “Mas parece que incorretamente, porque nele parece implicar a relação de causa final, mas esta é a primeira das causas.” Santo Tomás está certo, com o que também concorda Pastorino, pois o Espírito Santo é a Causa Primeira, já que Deus, antes de mais nada, é Espírito. Daí a ordem certa da Santíssima Trindade, de que já falamos antes: Espírito-Pai-Filho. Santo Tomás, como vimos, pressentiu isso, mas não se envolveu muito com a questão, ficando reservado em sua posição, talvez por medo da Inquisição. Talvez, também, por isso e outras coisas, ele tenha dito, pouco antes de passar para o Mundo Espiritual: “Tudo o que escrevi é palha.”

Há uma lenda que diz que apareceu a Santo Agostinho um anjo (sempre que apareceu um espírito para um santo, a Igreja diz que é um anjo!), no caso, um espírito materializado, carregando em uma folha de uma planta água do mar, e colocando-a num buraquinho. E o médium Santo Agostinho perguntou-lhe o que a “criança” queria fazer com aquele sua estranha ação. E, respondendo a Santo Agostinho, o “anjo” lhe respondeu que era mais fácil ele colocar toda a água do mar naquele buraquinho, e daquele jeito, do que a gente compreender o mistério da Santíssima Trindade. Essa história é contada pelos teólogos como sendo um exemplo vindo de um gênio, como era Santo Agostinho, de que nós nunca não poderemos entender o mistério da Santíssima Trindade.

Mas não poderia essa lenda ser também uma crítica ou uma ironia contra as idéias contraditórias e confusas dos teólogos que imaginaram a doutrina da Santíssima Trindade, que seria uma coisa mais absurda do que o episódio da aparição que ele teve?

Sabemos que essas questões chocam muitas pessoas. Mas nosso compromisso é com a verdade que liberta. “Entendereis a verdade, e a verdade vos libertará.” E é esse interesse em defender a verdade que nos move e nos encoraja a tratarmos desses assuntos, de um modo racional e lógico, numa tentativa de trazer alguma luz para essas questões centenárias que, muitas vezes, ao invés de propagarem o Rei de Deus sobre a Terra, como o desejou Jesus, elas vêm, na verdade, é favorecendo o crescimento de incrédulos e mesmo de ateus.

Mas, se muitas pessoas vão estranhar essas questões que estamos abordando, outras mais esclarecidas vão entendê-las. E é para esse tipo de pessoas que estamos escrevendo, pois elas gostam de pensar e decidir as coisas por si mesmas, não deixando outras pensarem e decidirem por elas o que elas devem aceitar como sendo certo ou como sendo errado. Trata-se, pois, de pessoas mais evoluídas e, portanto, mais facilmente abertas a críticas sobre o que elas aprenderam sobre religião, filosofia e teologia.

E, em matéria de religião, repetimos que há pessoas que estão dez, vinte, cinqüenta, cem e até mil anos à frente de outras, mesmo dentro de uma mesma religião.

O Espírito Santo

Foi o Concílio Ecumênico de Constantinopla (381) – primeiro desta cidade – que estabeleceu as bases do que hoje se pensa sobre o Espírito Santo, ou seja, que Ele é uma Pessoa Divina como o é o Pai e o Filho.

Também o Concílio Ecumênico de Constantinopla (869 a 870) estabeleceu mais algumas coisas sobre o Espírito Sano, isto é, o princípio, ainda elementar naquela época, de que Ele procede do Pai, como Jesus Cristo, mas que procede também de Jesus Cristo, instituindo, assim, a base inicial da doutrina do Filioque (e do Filho), com o que não concordou a Igreja Ortodoxa Oriental, que, mais tarde, a saber, em 1054, por causa, principalmente, dessa divergência teológica, mas também por causa de questões políticas, decretou a separação da Igreja Católica Apostólica Romana. Com isso, a nova igreja foi excomungada pela Igreja de Roma, enquanto que esta, por sua vez, excomungou-a também.

Cerca de dois séculos depois, e oito séculos depois de instituídos o Espírito Santo e a Santíssima Trindade, o Concílio Ecumênico de Lion (1274), determinou quanto ao Espírito Santo, a presença Dele “como de único princípio” e “também a do Filho” – numa reafirmação da doutrina do Filioque, que se tornou um dogma.

Recomendamos aqui ao leitor se reporte ao capítulo 4º, em que mostramos que a Santíssima Trindade estava anotada apenas na margem de algumas Bíblias, para, posteriormente, passar a figurar no texto bíblico.

Todas as decisões conciliares a respeito do Espírito Santo e da Santíssima Trindade são dogmáticas, ou seja, inquestionáveis para os católicos. Os que não as aceitam são considerados hereges e, portanto, excomungados, e até a uns 180 anos atrás, aproximadamente, os hereges eram queimados na fogueira da Inquisição. Porém com o decorrer dos séculos, alguns desses dogmas estão caindo no esvaziamento, não sendo aceitos, na prática, até por alguns padres e bispos, que, todavia, evitam sempre falar nesse assunto com os fiéis, principalmente em público e por escrito. E a Igreja nem que ouvir falar mais em excomunhão, pois ela está muito ligada ao período obscuro da Igreja, ou seja, o da Inquisição.

E uma curiosidade: Até o Concílio Ecumênico de Lion (1274), o indivíduo poderia ser rebatizado, se tivesse incorrido em pecado mortal. E esse concílio estabeleceu as normas para os cardeais em conclave que elegem um novo papa. Uma delas é que o cardeal que está participando da eleição de um novo papa não pode receber nem enviar carta, sob pena de excomunhão.Será que ainda é assim? Certamente hoje deve ser proibido atender telefonemas, principalmente por celulares. Outra curiosidade desse concílio, que foi presidido por São Boaventura, é que dele iria participar Santo Tomás de Aquino, o que não aconteceu, por ele ter morrido durante a viagem para Lion.

E, retomando o assunto do Espírito Santo, vamos ver agora a origem e o significado dessa palavra. No original grego do Novo Testamento espírito é pneuma, que São Jerônimo traduziu para o Latim da Vulgata como spiritus. E santo, em Grego, é hagion, que São Jerônimo verteu para a Vulgata com o termo latino sanctus. Acontece que Espírito Santo ou Santo Espírito não existia no Velho Testamento nem nas primeiras gerações cristãs, pois só existia (e só existe, é óbvio) um Deus, o Javé do Velho Testamento. E como vimos, o Espírito Santo só foi instituído mais tarde, no Concílio Ecumênico de Constantinopla (381).

Destarte, na Septuaginta (“Versão Alexandrina” ou “Versão dos Setenta”), ou o Velho Testamento traduzido para o Grego, em cerca de 250 a. C., e nos textos gregos do Novo Testamento, quando temos a expressão “Espírito Santo” ou “Santo Espírito”, não se trata do Espírito Santo da Santíssima Trindade, mas do Espírito Santo ou alma de uma pessoa, o que nos lembra a frase de São Paulo: “Nosso corpo é santuário do (dum no original grego) Espírito Santo” (1 Coríntios 6,19). Um exemplo disso é o Espírito Santo de Daniel, como está neste texto: “Deus suscitou o espírito santo de um homem muito jovem chamado Daniel” (13,45, da Bíblia Católica, pois a Protestante só vai até o capítulo 12).

Como cada pessoa tinha e tem um Espírito Santo ou alma, no original grego do Novo Testamento, sempre que aparece essa expressão “Espírito Santo”, não se encontra o artigo definido grego “ho” (“o”), pois quando esse original foi escrito, os teólogos ainda não tinham instituído o Espírito Santo e a Santíssima Trindade, à qual Ele pertence. Por isso, não se dizia “o Espírito Santo”, referindo-se àquele definido e único da Santíssima Trindade, já que Ele não existia naquela época. Como vimos, só mais tarde o Espírito Santo e a Santíssima Trindade foram criados.

Destarte, quando na Bíblia, em Português, temos essa expressão Espírito Santo, o artigo Dele deve ser o indefinido “um” e não o definido “o”, para que a tradução seja fiel ao original grego: “um Espírito Santo de alguém”. Mas, infelizmente, todas as traduções foram adaptadas à nova doutrina do Espírito Santo da Santíssima Trindade, e passaram a usar, erroneamente, a expressão “o Espírito Santo”, quando o certo é “um Espírito Santo”, a que a Bíblia se referia antes da instituição do Espírito Santo da Santíssima Trindade, e como está no original grego.

Fui repetitivo na explicação desse assunto, propositalmente, para que as pessoas de menos instrução possam também entendê-lo bem. E procurei ser também simples e claro o mais possível na exposição do assunto. E é por isso que deixei também para explicar, somente agora, uma outra faceta desse assunto.

No Grego não há o artigo indefinido “um”. Já o artigo definido “o” (“ho”) existe, e ele aparece normalmente. E, destarte,  se no texto original grego se dissesse “o Espírito Santo”, essa expressão ficaria assim: “ho Pneuma Hagion” ou  “ho Hagion Pneuma” (o Espírito Santo ou o Santo Espírito”). Acontece que os textos originais gregos vêm sempre sem o artigo definido “ho”, a saber: Pneuma Hagion, pelo que nunca podemos colocar nas traduções para o Português o artigo definido “o”, mas o indefinido “um”, que não aparece em Grego porque, como dissemos, ele não existe em Grego. Mas, como no Português, ele existe, temos que colocá-lo quando aparece a expressão Espírito Santo, ficando, pois, assim: “um Espírito Santo”, e não “o Espírito Santo”.

Para complicar ainda mais as coisas, o Latim já não tem nem o artigo definido “o” nem o indefinido “um”. Por isso, na Vulgata, só aparece a expressão Espírito Santo assim: Sanctus Spiritus ou Spiritus Sanctus, mas no Português eles existem, e, portanto, temos que colocá-los, quando for o caso.

Sintetizando essa questão, dizemos que a expressão em Grego Pneuma Hagion deve ser traduzida corretamente para o Português assim: “um Espírito Santo”, e não “o Espírito Santo”, tradução que só estaria certa, se nos textos gregos originais bíblicos ela fosse assim: “ho Pneuma Hagion”. E a Vulgata complicou mais as coisas, pois, como foi dito, o Latim não tem nenhum tipo de artigo, nem o definido nem o indefinido. Mas em Português eles existem. E temos que ser fiéis ao original grego, cujo sentido “um Espírito Santo” e não “o Espírito Santo”.

E sobre o João Batista, temos um texto do anjo anunciador do seu nascimento:  “…já desde o ventre de sua mãe, será cheio de um Espírito Santo”(Lucas 1,15). Esse Espírito Santo é o próprio espírito de João Batista. Portanto a tradução “do Espírito Santo” está errada. Aliás, como já vimos, segundo uma corrente de teólogos europeus, quando a Bíblia fala em anjo, ela se refere a espíritos iluminados de pessoas falecidas (padre François Brune, “Os Mortos nos Falam”).

E sobre Zacarias, pai de João Batista, lê-se: “Zacarias ficou cheio de um ou dum Espírito Santo” (e não do Espírito Santo), pois o original grego não tem o artigo indefinido, mas, como ele existe em Português, temos que usá-lo. Se no texto original grego houvesse o artigo definido “ho” (“o”), estaria certa a tradução: “cheio do Espírito Santo” (Lucas 1,67). Mas como não há, está errada.

E, na verdade, quer se refira à expressão “o Espírito Santo da Trindade”, ao “um Espírito Santo de alguém” ou ao “o Espírito Santo de determinada pessoa definida, por exemplo:“o Espírito Santo de Daniel”, a expressão “Espírito Santo” representa o conjunto de todos os espíritos, estejam eles no Mundo Espiritual ou no Mundo Físico.

Mais um exemplo: “Onde está o que pôs nele o seu Espírito Santo?” (Isaias 63,11). Aqui está certo o artigo definido “o”, porque está definindo uma pessoa, isto é, Moisés. Mas, como se vê, não se trata também do Espírito Santo da Trindade.

Mas nós podemos contornar as coisas, eliminando ou suavizando, pelo menos, o nosso carma negativo. É o que lemos na Bíblia: “O amor e boas ações encobrem uma multidão de pecados” (1 Pedro 4,8; Tiago 5,20; e Provérbios 10,12).

E quando Jesus fala que o pecado contra o Espírito Santo não tem perdão (Marcos 3,28 e 29; e Mateus 12,31 e 32), Ele queria dizer que o pecado contra a voz da consciência do indivíduo, ou seja, contra o seu próprio Espírito Santo, é muito grave, e que, portanto, não tem perdão, e deve ser pago nesta vida (a vida das pessoas daquele tempo e a nossa de hoje) ou em outra vida futura (no porvir, como diz o texto evangélico). De fato, a lei de causa e efeito ou carma é inexorável. Colhemos o que plantamos. Porém, como dissemos, nós podemos suavizar o nosso carma negativo, como podemos complicar também o nosso carma positivo.

Sabemos que o Consolador, denominado também de Espírito Santo, Espírito de Verdade ou Espírito Verdade, Paráclito e Advogado, prometido por Jesus, só viria depois que Jesus deixasse este nosso mundo. Mas fala-se também em Espírito Santo no Velho Testamento, de que vimos exemplos, como sendo um espírito santo (evoluído) de uma pessoa. E isso nos prova que o Espírito Santo na Bíblia não é mesmo de Deus, e não se refere àquele da Santíssima Trindade, que, como já dissemos, várias vezes, só foi instituído mais tarde, no século 4º. Uns acham que se trata do próprio Jesus. E de fato o é. Só que nem sempre é Ele que se manifesta, mas um espírito iluminado de sua equipe. E o Espiritismo teve a Revelação de um espírito que se denominou esse Espírito Verdade, que coordenou os espíritos da Codificação Espírita. Por isso, a Doutrina Espírita é considerada como sendo o Espírito Verdade ou o Consolador prometido pelo Mestre Jesus.

E Jesus afirmou que o espírito a ser enviado não falaria por si mesmo, mas diria tudo que tivesse ouvido. E aqui, mais uma vez, fica evidente que não se trata do Espírito Santo, tido como sendo também Deus ou Terceira Pessoa da Santíssima Trindade, pois, se o fosse, de duas uma: ou Ele não é o Espírito Santo da Trindade, ou então, é, mas Ele não é Deus, pois não falará por si mesmo, mas o que tiver ouvido. E, se tanto o Pai pode enviar o Espírito Consolador (São João 14,16), como o próprio Jesus pode também enviar esse Espírito Consolador (São João 16,7), é porque, de fato, nem sempre é Jesus o Consolador, pois quem envia não pode ser, ao mesmo tempo, o enviado. Mas aqui fica provado que Jesus chefia a equipe dos espíritos enviados.

Não sou dono da verdade. E apenas estou mostrando a ponta de um iceberg.

Deus é Espírito, Luz, Inteligência Suprema, Causa Primária, o Único, o Único Ser Incontingente e Amor. Mas os teólogos complicaram as coisas, fazendo de Deus um verdadeiro imbrólio, que eles mesmos não entendem.

Espírito-Pai-Filho. Deus (Espírito) com seus Aspectos de Pai (Criador) e de Filho (Criado, representado por Cristo e por todos nós também filhos de Deus).

E o Verbo era Deus, mas é também o Filho, porque se encarnou no Filho e nos demais filhos de Deus, em forma de centelhas ou extensões do Verbo. E somos até deuses, segundo Jesus (São João 10,34), como o afirma também o Velho Testamento (Salmo 82,6): “Vós sois deuses”. Mas não confundamos as coisas. Nós somos deuses, sim, mas relativos. Já Deus propriamente dito, o Brâman, o Único dos Orientais, o Ser Incontingente, de Santo Tomás de Aquino, é Deus absoluto, ao qual Jesus se referiu, chamando-O de “Meu Pai, meu Deus e vosso Deus” (São João 20,17).

São Paulo nos traz luz sobre o assunto. “Mas o que profetiza, fala aos homens, edificando, exortando e consolando” (1 Coríntios 14,3). Jesus disse que o Consolador consolaria. E no exemplo paulino, temos um exemplo de um espírito que está consolando através de alguém que profetiza, no caso um médium que recebe espíritos bons, santos. Na Vulgata, como já sabemos, para representar um espírito santo, bom, São Jerônimo usou estes termos: spiritus bonus (espírito bom), que consola, pois um espírito atrasado jamais poderia consolar alguém. Por isso São João nos manda examinar os espíritos: “Amados, não deis crédito a qualquer espírito: antes provai os espíritos s procedem de Deus, porque muitos falsos profetas têm saído pelo mundo afora” (Primeira Carta de São João 4,1). Os espíritas fazem justamente esse trabalho. E vejam os nossos irmãos católicos e evangélicos que os espíritas não estão entrando em contato só com demônios (espíritos humanos impuros), como eles pensam, pois há também os bons espíritos consoladores. E veja-se que São João demonstra no seu texto citado que há também profecias de espíritos. E, como já vimos, o profeta (médium) que recebe espíritos é do tipo Nabi ou Navi.

E vejamos outro exemplo de São Paulo, da atuação do Consolador ou um espírito bom, santo, iluminado, através de uma pessoa que tem o dom espiritual ou mediúnico de receber espíritos: “Porque todos vós podereis profetizar, um após outro, para todos aprenderem e serem consolados”(1 Coríntios 14,31).

Fonte: A Face Oculta das Religiões

O que é mediunidade?

O que é mediunidade?

Mediunidade é a faculdade humana pela qual se estabelecem as relações entre homens e espíritos. É uma faculdade natural, inerente a todo ser humano, por isso, não é privilégio de ninguém. Em diferentes graus e tipos, todos a possuimos. O que ocorre é que, em certos indivíduos mais sensíveis à influência espiritual, a mediunidade se apresenta de forma mais ostensiva, enquanto que, em outros, ela se manifesta em níveis mais sutis.

A mediunidade é, pois, a faculdade natural que permite sentir e transmitir a influência dos espíritos, ensejando o intercâmbio e a comunicação entre o mundo físico e o espiritual. Trata-se de uma sintonia entre os encarnados (vivos) e os desencarnados (mortos), permitindo uma percepção de pensamentos, vontades e sentimentos. O Espiritismo vê a mediunidade como uma oportunidade de servir, de praticar a caridade, sendo uma benção de Deus que faculta manter o contato com a vida espiritual. Graças ao intercâmbio, podemos ter aqui não apenas a certeza da sobrevivência da vida após a morte, mas também o equilíbrio para resgatarmos com proficiência os “débitos”, ou seja, desajustes adquiridos em encarnações anteriores.

É graças à mediunidade que o homem tem a antevisão de seu futuro espiritual e, ao mesmo tempo, o relato daqueles que o precederam na viagem de volta à erraticidade, trazendo informes de segurança, diretrizes de equilíbrio e a oportunidade de refazer o caminho pelas lições que absorve do contato mantido com os desencarnados. Assim, possui uma finalidade de alta importância, porque é graças a ela que o homem se conscientiza de suas responsabilidades de espírito imortal.

Sendo inerente ao ser humano, a mediunidade pode aparecer em qualquer pessoa, independentemente da doutrina religiosa que abrace. A história revela grandes médiuns em todas as épocas e todos os credos. Além disso, a mediunidade não depende de lugar, idade, sexo ou condição social e moral.

A ação dos espíritos

Diz a questão 459 de O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec: “Os espíritos influem sobre nossos pensamentos e ações? A este respeito, sua influência é maior do que podeis imaginar. Muitas vezes, são eles que vos dirigem”.

A idéia da ação dos espíritos não nasceu com o Espiritismo, já que sempre existiu desde as épocas mais remotas da vida humana na Terra. Todas as religiões pregam sobre a ação dos espíritos de forma direta ou indireta e nenhuma nega completamente estas intervenções. Inclusive, criaram dogmas e cerimônias relativas a elas, como promessas (pedir alguma forma de ajuda para um espírito em troca de um sacrifício) e exorcismos (cerimônia religiosa para afastar o “demônio” ou os espíritos maus).

A ação mediúnica não está limitada às sessões, vivemos mediunicamente entre dois mundos e em relação permanente com entidades espirituais. Isto se dá porque muitos espíritos povoam os mesmos espaços em que vivemos, muitas vezes nos acompanhando em nossas atividades e ocupações, indo conosco aos lugares que freqüentamos, seguindo-nos ou evitando-nos conforme os atraimos ou repelimos.

Estamos cercados por espíritos e sua influência oculta sobre os nossos pensamentos e atos se faz sentir pelo grau de afinidade que mantivermos com eles. Inúmeros espíritos benfeitores também se comunicam conosco, por via inspirativa ou intuitiva, todas as vezes em que nos dispomos a ser úteis aos nossos irmãos em nossa vida social. Quantas vezes um conselho sensato e oportuno que damos sob a intuição de um benfeitor espiritual consegue mudar o rumo de uma vida e até, em certos casos, salvar ou evitar que uma família inteira seja precipitada no abismo de uma desgraça? O amor verdadeiro e desinteressado não requer lugar nem hora especial para ser praticado, pois o nosso mundo, com o sofrimento da humanidade torturada, é igualmente um vasto campo de serviço redentor.

Entretanto, não julguemos que a mediunidade nos foi concedida para um simples passatempo ou para a satisfação de nossos caprichos. Ela é coisa séria e, possuindo-a, devemos procurar suavizar os sofrimentos alheios. Ao desenvolvermos a mediunidade, lembremo-nos de que ela nos é dada como um arrimo para conseguirmos mais facilmente a perfeição, para liquidarmos mais suavemente os pesados “débitos” que contraímos em existências passadas e para servirmos de guia aos irmãos que se encontram mais desajustados espiritualmente.

Mediunidade em desarmonia

Existem alguns sinais mais freqüentes do aparecimento da mediunidade em desarmonia, que são: cérebro perturbado, sensação de peso na cabeça e ombros, nervosismo (ficamos irritados por motivos sem importância), desassossego, insônia, arrepios (como se percebêssemos passar alguma coisa fria), sensação de cansaço geral, calor (como se encostássemos em algo quente), falta de ânimo para o trabalho e profunda tristeza. Precisamos usar nosso bom senso para percebermos com clareza se os sintomas acima citados são frutos de uma obsessão espiritual, indicando uma mediunidade desequilibrada, ou o resultado de uma auto-obsessão, um desequilíbrio nosso mesmo, gerando neuroses e outros tipos de distúrbios. Muitas vezes, a ajuda de um psicólogo, de preferência espírita ou espiritualista, é necessária.

Mas o que o médium deve fazer nestes momentos de alterações emocionais? Todo iniciante, a fim de evitar inconvenientes na prática mediúnica, primeiramente deve se dedicar ao indispensável estudo prévio da teoria e jamais se considerar dispensado de qualquer instrução, já que poderá ser vítima de mil ciladas que os espíritos mentirosos preparam para lhe explorar a presunção.

Junto com o conhecimento teórico, o médium deve procurar desdobrar a percepção psíquica sem qualquer receio ou temor. Na orientação do desenvolvimento mediúnico, é importante que ele procure as instruções espíritas, para evitar percalços e dissabores. É aconselhável o desenvolvimento mediúnico em grupos especialmente formados para isto, pois pessoas bem orientadas, que se reúnem com uma intenção comum, formam um ambiente coletivo bem favorável ao intercâmbio. É importante também que o médium jamais abuse da mediunidade, empregando-a para a satisfação da curiosidade.

Reforma Íntima – o fundamental

Educar e desenvolver a mediunidade é aprender a usá-la. Para que sejamos bem-sucedidos, devemos cultivar virtudes como a bondade, a paciência, a perseverança, a boa vontade, a humildade e a sinceridade. A mediunidade não se desenvolve de um dia para o outro, por isso, devemos ter muita paciência. Sem perseverança, nada se alcança, pois o desenvolvimento exige que sejamos sempre persistentes. Ter boa vontade é comparecer às sessões espíritas com alegria e muita satisfação. A humildade é a virtude pela qual reconhecemos que tudo vem de Deus e, se faltarmos com a sinceridade no desempenho de nossas funções mediúnicas, mais cedo ou mais tarde sofreremos decepções.

Ensinamentos é que não faltam em todas as circunstâncias de manifestações da vida. A faculdade mediúnica em harmonia pode fazer grandes coisas. A educação pode começar no simples modo de falar aos outros, transmitindo brandura, alegria, amor e caridade em todos os atos da vida.

A mediunidade se desenvolve naturalmente nas pessoas de maior sensibilidade para a captação mental e sensorial de coisas e fatos do mundo espiritual que nos cerca, o qual nos afeta com suas vibrações psíquicas e afetivas. Da mesma forma que a inteligência e as demais faculdades humanas, a mediunidade se desenvolve no processo de relação.

Quando a mediunidade aflorar sem um preparo prévio do médium, é preciso orientá-lo para que os fenômenos se disciplinem e ele empregue acertadamente sua faculdade. Não se deve colocar em trabalho mediúnico aqueles que apresentam perturbações ou que possuam desconhecimento sobre o assunto. Primeiramente, é preciso ajudar a pessoa a se equilibrar no aspecto psíquico, através de passes, vibrações e esclarecimentos doutrinários.

É fundamental que o médium busque sua reforma íntima com sinceridade. Através de uma compreensão maior acerca da vida, despertando sentimentos como compaixão, respeito, humildade etc, e da prática da caridade, seremos, com certeza, instrumentos do Amor Universal. O médium também precisa ser amigo do estudo e da boa leitura, além de moderado. Por fim, deve sempre cultivar a oração diária, pois ela é um poderoso fortificante espiritual e um benéfico exercício de higiene mental.

Fonte: Revista Espiritismo

Pai Nosso Umbandista

Pai nosso que estais nos céus, nas matas, nos mares e em todos os mundos habitados. Santificado seja o teu nome, pelos teus filhos, pela natureza, pelas águas, pela luz e pelo ar que respiramos.

Que o teu reino, reino do bem, do amor e da fraternidade, nos una à todos e a tudo que criastes, em torno da sagrada Cruz, aos pés do divino salvador e redentor.

Que a tua vontade nos conduza sempre para o culto do amor e da caridade.

Dai-nos hoje e sempre a vontade firme para sermos virtuosos e úteis aos nossos semelhantes.

Dai-nos hoje o pão do corpo, o fruto das matas e a água das fontes para o nosso sustento material e espiritual.
Perdoa, se merecermos, as nossas faltas e dá o sublime sentimento do perdão para os que nos ofendam.

Não nos deixeis sucumbir, ante a luta, dissabores, ingratidões, tentações dos maus espíritos e ilusões pecaminosas da matéria. Enviai-nos, pai, um raio de tua divina complacência, luz e misericórdia para os teus filhos pecadores que aqui habitam, pelo bem da humanidade, nossa irmã.

Assim Seja !

Fonte: Genuína Umbanda

Até onde a mente humana pode chegar?

Nos últimos mil anos, a humanidade apresentou mais evoluções do que se comparada a outros períodos históricos maiores. A cada dia que passa, novas descobertas fazem com que o ser humano explore ainda mais os limites da memória, da inteligência e da atenção.

Entretanto, o que talvez não tenhamos percebido, é que os limites impostos pela mente humana podem ser uma espécie de mecanismo de defesa para o nosso organismo. Assim, estimular continuamente o cérebro até um ponto acima do esperado pode fazer com que, em algum momento, a humanidade encontre um limite fatal.

Essa é a tese defendida por um novo trabalho publicado no Current Directions in Psychological Science, jornal da Association for Psychological Science. Os autores são Thomas Hills, da Universidade de Warwick, e Ralph Hertwig, da Universidade de Basel.

Para chegar a essa conclusão, os pesquisadores analisaram o desenvolvimento do ser humano ao longo dos anos. Se seguíssemos uma escala progressiva contínua, em tese já deveríamos estar mais avançados em muitos outros campos do conhecimento e no desenvolvimento de nossas habilidades.

Contudo, é possível que talvez nunca cheguemos a atingir a capacidade plena do cérebro justamente porque isso seria prejudicial ao nosso sistema nervoso. A dupla toma como exemplo o funcionamento do cérebro de algumas pessoas superdotadas. Índices elevadíssimos de QI podem estar ligados a doenças no sistema nervoso.

“Além disso, o uso de drogas estimulantes, como cafeína e Ritalina, pode trazer consequências nocivas para organismo”, explica Hills. Como resultado desse processo, problemas como insônia, stress e hiperatividade passam a ser muito mais prováveis.

Fonte: TECMUNDO

A Evolução da Umbanda

A manifestação de espíritos de negros e de índios, tão comuns na Umbanda, já ocorria espontaneamente nos rituais da macumba desde meados do século XVIII. Longe de ser um culto organizado, a macumba era um agregado de elementos da cabula bantu, do Candomblé jeje-nagô, das tradições indígenas e do Catolicismo popular, sem o suporte de uma doutrina capaz de integrar os diversos pedaços que lhe davam forma. É desse conjunto heterogêneo,acrescida de elementos egressos do Kardecismo, que nascerá a nova religião.

Mas de onde vem a Umbanda? Acredita-se que o vocábulo “umbanda” designasse,entre os africanos, sacerdote que trabalha para a cura. Na macumba, o vocábulo “embanda”ou “umbanda” também designava o chefe do terreiro ou, simplesmente, sacerdote. Nunca uma modalidade religiosa. O umbandista Matta e Silva relata no livro Umbanda e o Poder da mediunidade que o vocábulo “umbanda”, como bandeira religiosa, não aparece antes de 1904.

Entretanto, no depoimento deste mesmo autor, encontra-se o registro de que, em 1935, conhecera um médium com 61 anos de idade, de nome de Nicanor, que praticava a Umbanda desde os 16 anos, ou seja, desde 1890, incorporando o Caboclo Cobra Coral.

Outro autor umbandista, Diamantino Trindade,reproduziu no livro Umbanda e Sua História parte de uma entrevista do jornalista Leal de Souza – publicada no Jornal de Umbanda, em Outubro de 1952 – na qual afirmava que o “precursor da Linha Branca fora o Caboclo Curuguçu , que trabalhou até o advento do Caboclo das Sete Encruzilhadas”

Misto de lenda e de realidade, a “anunciação” da Umbanda sofre algumas variações de narrador para narrador, mas a estrutura básica se mantém inalterada. Zélio de Moraes, aos 17 anos, começou apresentar alguns distúrbios os quais a família acreditou que fossem de ordem mental e encaminhou o rapaz para um hospital psiquiátrico.

Dias depois, não encontrando os seus sintomas em nenhuma literatura médica, foi sugerida à família que lhe encaminhasse a um padre para um ritual de exorcismo. O padre, por sua vez, não conseguiu nenhum resultado.

Tempos depois Zélio foi levado a uma benzedeira conhecida na região onde morava que lhe diagnosticou o dom da mediunidade e lhe recomendou que “trabalhasse” para a caridade.

Em obra surgida no início dos anos cinqüenta, Aluizio Fontenelle profetizava o futuro da Umbanda como religião predominante no Brasil, mas fazia questão de afirmar que estava referindo-se:

…”não a essa Umbanda mistificada e misturada com os diversos credos fetichistas hoje conhecida no Brasil inteiro. Será uma Umbanda codificada, uma Umbanda pura, na qual se aproveitará de todas as religiões existentes na terra somente aquilo que for sublime e perfeito(…)Quanto aos praticantes dos candomblés e aos que praticam a magia negra, estes serão devidamente orientados e instruídos em novas práticas, abandonando por completo os rituais bárbaros que os identificam. O Espiritismo na Lei de Umbanda em sua nova fase, surgirá com o progresso do mundo; novos horizontes nos serão apresentados e o mundo marchará de fronte erguida na direção do aperfeiçoamento universal.”5

A nova religião era apresentada como totalmente inserida em um modo de vida urbano e civilizado. A Umbanda, na ótica desses intelectuais, aparecia como uma religião que incorporava os códigos simbólicos da modernidade. Portanto, lançavam seu interdito às práticas “em completo contraste com a evolução moral, material e espiritual” da vida moderna, que misturavam “rituais bárbaros provindos do africanismo, com práticas católicas e concepções kardecistas”6. A Umbanda, através de seu esforço racionalizador, de seu substrato doutrinário, deveria banir as práticas do africanismo. Estas, segundo João de Freitas mostravam-se totalmente “impraticáveis entre nós porque não se coadunavam com nossos foros de civilização”7. Apresentando a discrepância entre as práticas rituais de matriz africana e a vida urbana, assim refere-se Emanuel Zespo:

“…suas práticas de religião primitiva estão incompatíveis com o mundo atual; e, sua subistência em nosso meio só seria possível mediante uma modernização e adaptação no ritual externo. Não estamos mais em condições de sacrificar galos vermelhos a Exu e largá-los na primeira encruzilhada de um centro urbano. Tal rito, no mato, não estaria fora de ambiente, mas em plena Avenida Rio Branco… isto não é mais exeqüível. Os próprios orixás não aceitam estas violências de rito primitivo.”

Fontes: Revista de Umbanda

O Poder das Palavras e da Ideias

Não importa o que as pessoas digam, as palavras e as ideias podem mudar o mundo.

Hoje, acredito no poder das palavras e das ideias para mudar o mundo para melhor, para proporcionar mais saúde mental, emocional e física.

No caso da emocional, muitas vezes não é fácil ser jovem e seguir uma carreira sem o apoio da família, como foi o caso de Robin Willians. Outras vezes, é difícil vencer os pensamentos depressivos que dizem que não somos suficientemente qualificados para viver.

Muitos não aguentam os pensamentos negativos e recorrem ao álcool e/ou as drogas com a esperança de “esquecer” os problemas, porque ainda não conhecem o mais eficiente dos agentes: o Amor Divino.

Só esse amor ama incondicionalmente e fala a consciência para salvar, consolar e curar, pode nos guiar para encontrar uma vida com propósito e livre dos maus pensamentos.

Enfoque na alegria, quem sabe você encontre alguém que necessite de amor, de um sorriso, do conhecimento de que Deus a ama incondicionalmente e lhe tem reservado um propósito. Você verá como as palavras e as ideias podem mudar o mundo de alguém.