Tchau, querido

Tchau, querido

Houve golpe no Brasil. E mais de um.

Houve golpe na eleição de 2014, que retesou tarifas para fingir controle na economia. Houve golpe naquela campanha vergonhosa, com o feijão sumindo do prato. Houve golpe nas pedaladas e no uso deslavado do caixa dois.

Houve golpe em Pasadena, Abreu e Lima e nos favorecimentos do BNDES. Houve golpe na Petrobras e em Furnas. Foi tudo golpe, além, da traição do PMDB.

Os que defendiam a permanência de Dilma Rousseff afirmavam que Temer perpetuaria o roubo e cortaria as asas da Justiça. Ruim com ela, pior sem ela, era o brado dos “Fora, Temer”.

De argumento parecido se valeu o ex-vice, ao dizer que era preciso deixá-lo no cargo, para garantir a retomada da economia. Hoje, isolado como está, já deve ter entendido que é justo o contrário.

A Santa Inquisição de Dilma foi lenta e tortuosa, não resistiríamos a outro processo. Pelos solavancos do touro mecânico da Presidência, para citar Fábio Porchat, o Béla Lugosi do Jaburu aguarda apenas o coice honroso do TSE.

O PMDB passou as últimas décadas agindo como eminência parda, a matéria escura da política brasileira. Onipresente e invisível ao olho nu do eleitor, era (e é) em torno dele que gravitava a coalizão partidária.

Graças ao impeachment, a dracolândia abandonou as trevas e foi exposta ao sol abrasador do Planalto Central. Isso sempre me pareceu um dado novo e relevante. Pela primeira vez, desde a redemocratização, conhecemos quem, há muito, nos governa: homens brancos, saídos da Brasília dos anos 1970, afeitos a ternos demodês.

Alheios à sociedade, não tiveram nem o cinismo de incluir mulheres e negros no quadro ministerial. E, em conluio com o tucanato e a bancada BBB, deram de baixar o cacete em índio, promover desmatamento em reserva ambiental, liberar pesticida na lavoura, arranha-céu em zona histórica, meia hora de almoço para trabalhador e aposentadoria para defunto.

No embalo das medidas para deter o desastre econômico da era Dilma, do qual não guardo nenhuma saudade, a Transilvânia se viu livre para botar os dentes de fora.

O problema é que sugar pescoços à luz do dia se mostrou tarefa árdua para aqueles acostumados à discrição dos gabinetes. Geddel Vieira dançou na mão de um ministrinho da Cultura, e o Vincent Price do Alvorada teve o peito cravado por uma estaca grampeada pelo açougueiro do boi sequestro.

O PMDB se tornou frágil no momento em que se fez visível.

A fúria dos Van Helsing da PF e da nova geração de juízes impressiona. A nação de Savonarolas. Demétrio Magnoli diagnostica uma dupla conspiração, entre a Justiça e o Executivo. Os poderes racharam. Perto disso, a disputa entre PT e PSDB virou fichinha.

Se Wesley e Joesley Safadões saírem incólumes dessa mixórdia, proponho a canonização de Marcelo Odebrecht como mártir da Lava Jato. E, se a JBS é modelo de negociações público-privadas, pagando a multa da ladroagem com a valorização do câmbio, sugiro legalizar o comércio de armas e drogas, e transformar o PCC num partido-empresa.

E para ocupar o deserto de homens e ideias de 2018, sugestão de uma amiga, lanço, com base no Mais Médicos, a campanha Mais Presidentes, convidando líderes aposentados do exterior para se alistarem na corrida eleitoral. Mujica e Obama despontam firmes na liderança.

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