O navio chinês ‘criador de ilhas’ que pode mudar o mapa do sudeste da Ásia

Um novo navio lançado pela China foi descrito como um “criador mágico de ilhas” – ele pode escavar grandes “pedaços” do fundo do mar e transportá-los por até 15 quilômetros.

A ideia seria criar novas ilhas e explorar ainda mais as disputadas águas do Mar da China Meridional.

A embarcação foi apresentada pelas autoridades na véspera da visita do presidente dos EUA, Donald Trump, ao país.

O Instituto de Estudo e Desenho Marinho de Xangai garante que o barco, chamado Tian Kun Hao, tem o maior cortador da Ásia, capaz de escavar muito fundo e transportar areia por longas distâncias.

A China é acusada de construir ilhas artificiais no Mar da China Meridional para reforçar sua reivindicação pelas águas, hoje disputadas por vizinhos como Vietnã, Filipinas, Malásia, Brunei e Taiwan.

Principais características do navio

Nome: é muito simbólico – Tian Kun Hao é um lendário e enorme peixe que pode se transformar em um pássaro mítico.

Tamanho e potência: com um comprimento de 140 metros, esse é o maior barco desse tipo na China e, segundo os especialistas que o projetaram, em toda a Ásia.

Ele parece ser muito mais poderoso do que as atuais embarcações de dragagem da China, e é capaz de escavar 6 mil metros cúbicos por hora – o equivalente a três piscinas do tamanho padrão – a 35 metros de profundidade abaixo do nível do mar.

Funcionamento: Ele pode escavar qualquer coisa – desde areia e terra até coral. O navio corta material do fundo do mar, suga e transporta tudo isso por até 15 quilômetros de distância do barco para acumulá-lo e formar um novo território “recuperado”.

Barcos similares, ainda que menores, foram utilizados para construir ilhas no Mar da China Meridional no início de 2013.


Por que isso importa?

A grande preocupação de pesquisadores é que o uso desse navio para formar novas ilhas possa culminar em novas reclamações por território no Mar da China Meridional.

“O que realmente está no centro de atenção das pessoas é o Arrecife Scarborough. É um território que ainda não foi reivindicado por ninguém, mas há rumores de que isso possa acontecer. Os Estados Unidos veriam o Arrecife Scarborough como uma linha vermelha”, pontuou Alex Neill, pesquisador do Diálogo Sangri-La no Instituto Internacional de Estudos Estratégicos da Ásia, um centro de estudos com sede no Reino Unido.

O momento em que o barco foi apresentado também é interessante, conforme observa Neill – principalmente por causa da tensão que as atividades no Mar da China Meridional têm gerado.

Os Estados Unidos tradicionalmente não tomam partido nas disputas territoriais, mas defendem as chamadas operações de liberdade de navegação, o que significa poder sobrevoar ou navegar perto das ilhas em disputa – algo que costuma irritar a China.

“Esse barco foi lançado com muita festa, chamado de ‘criador mágico de ilhas’ na imprensa chinesa”, conta Neill. “Ele pode ser um sinal de que a China começa a se sentir mais motivada a seguir adiante com suas reivindicações no Mar da China Meridional. A única coisa que os Estados Unidos podem fazer é Trump reafirmar sua preocupação com as atividades.”

A China, porém, já desafiou as críticas americanas no passado e continua construindo as ilhas – está inclusive estabelecendo instalações militares nelas.

Outros usos

Os navios de dragagem podem ser usados para várias tarefas – a reivindicação de terras é só uma delas.

Mas o fato de a imprensa chinesa estar chamado esse navio de “criador mágico de ilhas” parece sugerir que esta será, de fato, ao menos uma de suas funções.

Como parte da Iniciativa do Cinturão e Rota da China para construir uma rede global de comércio cujo centro será no país, Pequim está desenvolvendo vários portos na região do Oceano Índico e no Oriente Médio.

O Tian Kun Hao também pode ser utilizado para escavar em portos de águas profundas se Pequim decidir enviá-lo para essa tarefa.

Fonte: BBC Brasil

Link permanente para este artigo: http://cabana-on.com/Point/index.php/2017/11/12/o-navio-chines-criador-de-ilhas-que-pode-mudar-o-mapa-do-sudeste-da-asia/