Browsed by
Category: Contos

O Sorriso

O Sorriso

Na praça da cidade, a fila tinha se formado às cinco da manhã com os galos ainda cantando nos campos cobertos de geada, e não havia fogos acesos. Em vários lugares, entre os prédios em ruínas, alguma neblina havia permanecido, mas agora, com as luzes das sete da manhã, ela se dissipava. Lá na estrada, em pequenos grupos, mais pessoas estavam se reunindo para o dia da feira, o dia do festival. O menino, ainda pequeno, estava imediatamente atrás de…

Read More Read More

O Turista Acidental

O Turista Acidental

Harry colocou o jantar no microondas para esquentar. Ao ligar o forno, uma dor terrível no dente o fez arrancar bruscamente o cabo da tomada. -Não pode ser!- Acabara de voltar do dentista, mas não conseguia lembrar de nada. Fora dopado, por certo. Ouviu ruídos na porta da frente, derrubou o copo de cerveja e saiu como louco pelos fundos. Correu para a lavanderia, lá tinha uma caixa de ferramentas. Procurou desesperadamente um alicate e colocou um pedaço de espelho…

Read More Read More

Plume

Plume

I No balcão do bar as garrafas dançavam com os respectivos copos compassadamente. De vez em quando o barman – neurótico e magrinho – puxava do bastão de baseball e partia tudo só para poder limpar. Tentava fazê-lo o mais silenciosamente possível. Não gostava de incomodar a clientela. O sítio era engraçado e acolhedor. Chamava-se Plume porque não havia nome melhor. Sentado na única mesa que, aliás, lhe estava sempre reservada, Leon Sibierski espremia a sua esferográfica para uma folha…

Read More Read More

Prosa Imprevista

Prosa Imprevista

Chi! Macolorido no seu íntimo acolhimento, catadura de gingona. Dizia um dos meus vizinhos e convizinhos da formatura aparentemente agastado pela incontinência das palavras à guarda do mutismo sigiloso onde as ignóbeis criaturas normalmente não ligam. E como observador exigente quis acreditar vendo. Sorvei um gole de coragem para vigorar o espírito desvelado de sonhadores disfarçados, libertando a atenção às fofocas. Torci o olho à taxia dos factos e eis a pluralidade do esplendor que até trazia em claro as…

Read More Read More

Reflexões de uma Galinha

Reflexões de uma Galinha

 – Irineu! Ô, Irineu! Tá na hora de acordar e acordar os outros, também! – diz dona Carijó. Irineu e Carijó. Esses eram os nomes do galo e da galinha do Rancho Alegria, cujo dono era o jovem Manoel. Irineu não foge à rotina: sacoleja e depois ajeita as bonitas penas. Lava os redondos olhos. Escova o duro bico amarelo. Apruma a respeitável crista. E, finalmente, o principal: faz o sagrado e necessário gargarejo – mistura de água e sumo…

Read More Read More

Se Te Toco é Porque Gosto de Ti

Se Te Toco é Porque Gosto de Ti

Houve um tempo em que tínhamos dezassete anos. Oh, que belo tempo, o nosso, as saudades dele! O que não nos permitimos hoje, fazíamos então, sem razão. Assusta a ligeireza daquilo tudo, agora que, por cima do ombro, vemos com olhos em lágrimas o que fazíamos no nosso tempo. Não há agora margem para qualquer manobra desviante, mas então havia. Aquilo era de dia e de noite. No Verão, então! O desnudar com intentos belos, somente. Na praia, quantas e…

Read More Read More

Sete Andares (Tradução de Clara Rowland)

Sete Andares (Tradução de Clara Rowland)

Ao fim de um dia de viagem de comboio, Giuseppe Corte chegou, numa manhã de Março, à cidade onde ficava a famosa clínica. Tinha um pouco de febre, mas quis fazer a pé o caminho da estação para o hospital, levando consigo a pequena mala. Embora manifestasse apenas os primeiros sintomas, fora aconselhado a dirigir-se ao célebre sanatório onde se tratava exclusivamente aquela doença. Isso garantia uma competência excepcional por parte dos médicos e uma distribuição mais racional do equipamento….

Read More Read More

Um Casal dos Infernos

Um Casal dos Infernos

A agitação reina absoluta no lar dos apaixonados capetas: Rabudo e Rabuda. _ Malditooo! Ô malditozinho! Me ajuda aqui. Já está quase na hora! – grita Rabuda do quarto do casal. _ Já vou! Já vou! – Responde Rabudo, saindo depressa do banheiro, sem terminar, como gostaria, o que estava fazendo. Muito agitado, pergunta à Rabuda: _ Será que agora é pra valer, minha flor de enxofre. Eu já não agüento mais esse vai e vem sem resultado! Capeta-mor nos…

Read More Read More

Um Grego Antigo de Hoje (Tradução de Manuel Resende)

Um Grego Antigo de Hoje (Tradução de Manuel Resende)

Durante dois meses a fio praticamente não nos separáramos e a única coisa sobre que não nos tínhamos pegado era a política. Mas talvez o melhor seja começar por explicar como o conheci. Estávamos no Verão de 1968. Nessa época, se ainda há quem se lembre, os gregos do exterior pugnavam por convencer os estrangeiros a repudiarem a Junta evitando vir à Grécia passar férias. Quero dizer, em certos círculos reinava um espírito de hostilidade para com os turistas que,…

Read More Read More

Uma Casa de Malas

Uma Casa de Malas

Armando Borges, nascido em Mondim de Basto – Trás-os-Montes, inicia a sua carreira literária na ficção com este conto que nos foi enviado como proposta de colaboração. “Ao entrar nos setenta e com o tempo que é seu”, escreve na carta que acompanha o conto, “decide dar curso à sua submersa e real apetência a vida inteira: ouvir, contar e contar-se contos (ou falar sozinho).” Tem pronto a editar um primeiro livro de contos, e em vias de acabamento o…

Read More Read More