Um dia após um ataque com caminhão deixar quatro mortos em Estocolmo, a região do provável atentado terrorista se tornou ponto de peregrinação e homenagens no centro da capital sueca.
Uma multidão se reuniu na área ao longo do dia – pais com bebês, idosos, políticos, imigrantes -, em uma cidade que parecia fazer questão de manter a calma.
Os atropelamentos ocorreram em Drottninggatan (rua da rainha), uma das principais vias de pedestres da cidade, pouco antes das 15h (10h pelo horário de Brasília) desta sexta-feira.
Após avançar contra a multidão, o caminhão atingiu a entrada de uma loja de departamentos, e o motorista deixou o local. Dez feridos continuam hospitalizados, dois deles em estado grave.
Pela manhã, já era grande a movimentação de pessoas no centro da capital, onde ruas permaneciam sob intenso policiamento.
A via de pedestres onde o ataque ocorreu só foi aberta no final do dia. Mas flores começaram desde cedo a ser depositadas nas proximidades da via, na praça Sergelstorget, de onde se pode ver a loja de departamentos contra a qual o caminhão do ataque se chocou após atropelar as vítimas.
O governo da Suécia disse que tudo indica se tratar de um atentado terrorista. Outras cidades europeias registraram ataques recentes parecidos, como Londres (março de 2017), Berlim (dezembro de 2016) e Nice (julho de 2016).
Ainda na sexta-feira, a polícia prendeu o principal suspeito de ser o motorista do caminhão. Trata-se de um homem natural do Uzbequistão, de 39 anos, e que já era conhecido dos serviços de segurança.
Solidariedade
Na cena do ataque, o imigrante sírio Imran carregava uma grandes caixa de pães doces, que distribuía a policiais e a quem mais passasse.
“Precisamos estar juntos neste momento. E nada melhor do que dividir o pão”, disse, aos sorrisos.
Desde o momento do ataque, a capital sueca foi cenário de demonstrações de solidariedade. Moradores abriram suas casas a estranhos sem local para dormir em razão da paralisação do transporte público, motoristas deram carona a desconhecidos, restaurantes distribuíram comida.
A brasileira Cynara Isacsson, que vive no país europeu há seis anos com o marido sueco, chegou à cena da tragédia com um cartão, decorado com estampa de rosas vermelhas, para entregar a policiais.
“Vim agradecer à polícia sueca pelo trabalho rápido e competente durante esse ataque terrível. Sou muito agradecida por isso, porque me sinto segura e com vontade de sair para mostrar a esses terroristas que não teremos medo”, disse a brasileira.
No cartão de Cynara, as palavras, em sueco, diziam: “Muito obrigada por tomar conta de nós. Abraços de uma brasileira e um sueco, Cynara e Kristofer
“Temos orgulho de nossa sociedade aberta a todos, independentemente de raça, credo ou cor. E nenhum tipo de ódio ou assassino irá tirar isso de nós”, disse à BBC Brasil a líder do Partido Moderado, Anna Kinberg Batra, que depositou flores no local do ataque.
Perto dali, o sueco Felipe Menezes, filho de pai chileno, levava o filho para depositar uma flor no memorial às vítimas do ataque.
“Viemos prestar nossa homenagem às vítimas, mostrar que não estamos com medo e dizer que queremos contribuir para um mundo melhor”, disse Menezes, que afirmou temer o crescimento da extrema direita no país.
“É muito possível que isso ocorra, é uma tendência vista em outros países europeus. Por isso que precisamos estar aqui, juntos. Para mostrar que valorizamos a diversidade e a nossa sociedade aberta.”
Àquela altura, juntou-se à multidão o ministro do Interior sueco, Anders Ygeman.
“O ataque pode lançar sombras sobre o debate político na Suécia. Mas é cedo demais para dizer se haverá um impacto no crescimento do apoio aos extremistas de direita”, disse o ministro à BBC Brasil.
“O terror que já abalou diversos países europeus impactou agora a Suécia. Mas os cidadãos de Estocolmo demonstram hoje sua enorme força, coragem e esperança no futuro. Permaneceremos firmes na defesa de nossa sociedade aberta, e na crença de que pessoas de diferentes credos e etnias possam viver em harmonia, lado a lado”, pontuou Ygeman.
A polícia sueca confirmou ter localizado um artefato suspeito dentro do caminhão usado no ataque. O objeto estava no banco do motorista, mas investigações ainda estavam em curso neste sábado para verificar do que se trata.
Reação do governo
O primeiro-ministro da Suécia, Stefan Lofven, classificou o episódio como ataque terrorista e determinou reforço na segurança das fronteiras do país.
“Terroristas querem que tenhamos medo, que mudemos nosso comportamento e não vivamos nossas vidas normalmente, mas faremos isso. Terroristas nunca poderão derrotar a Suécia, e estamos determinados a continuar sendo uma sociedade aberta e democrática”, afirmou.
A Suécia tem baixos índices de criminalidade, e costuma figurar entre os países mais seguros do mundo.
Em 2010, duas bombas foram detonadas no centro de Estocolmo, matando o agressor – um homem de nacionalidade sueca nascido no Iraque – e ferindo duas pessoas.
Em outubro de 2015, um homem mascarado que seria simpatizante da extrema direita matou um professor e um aluno em um ataque à faca.
Em fevereiro deste ano, o presidente dos EUA, Donald Trump, citou um ataque terrorista na Suécia que não existiu e responsabilzou a política d eimigração do país pelo episódio inexistente – o que revoltou muitos suecos.
A Suécia já recebeu quase 200 mil imigrantes e refugiados nos últimos anos – um índice per capita superior ao de qualquer país europeu. Houve, contudo, uma queda nos numeros no último ano após a introdução de novos controles de fronteira.
Por outro lado, estima-se que o país tenha o maior número per capita na Europa de militantes do grupo autodenominado Estado Islâmico.
Fonte: BBC Brasil