A crise econômica que se arrasta há quase uma década tem tirado a confiança do empresariado, gerado desemprego e levado vários estados brasileiros ao colapso financeiro. Esse cenário, no entanto, é bem diferente da realidade de Rondônia, estado com DNA agropecuário que cresce de forma constante desde 2011 e que fechou o ano de 2016, um dos piores da história recente do Brasil, com um aumento de 4,7% no PIB. As perspectivas para os próximos anos são ainda mais animadoras, o que tem atraído empresários dos mais variados segmentos, desde produtores rurais até indústrias processadoras, passando por fornecedores de insumos, logística e serviços e executivos altamente qualificados.
“Isso se deve basicamente ao agronegócio. É o motor do estado”, afirma Basílio Leandro de Oliveira, superintendente de Desenvolvimento Econômico de Rondônia, lembrando que o estado é dono do quinto maior rebanho bovino no país, com 13,7 milhões de animais, entre gado leiteiro e de corte, e já se consolidou como principal polo de piscicultura do Brasil, com uma produção de 90 000 toneladas de peixe em 2016.
O cultivo de café, cacau, soja e milho, além da suinocultura, também tem crescido substancialmente nos últimos anos, sempre de forma sustentável, especialmente por conta da qualificação de pequenos produtores e da adoção de tecnologias que possibilitam o aumento da produtividade no campo.
Isenções fiscais e logística privilegiada também fazem parte do pacote de atrativos do estado de Rondônia. Existem incentivos para os mais diversos segmentos, que vão da doação de terrenos públicos ao desconto de até 85% do ICMS. “Um exemplo é a linha de crédito especial para pequenos frigoríficos com abate de até 100 cabeças por dia, com juros subsidiados pelo Banco da Amazônia. Também há incentivos para o ramo de curtumes, já que hoje quase todo o couro produzido em Rondônia é processado fora do estado”, diz Oliveira.
Novas apostas
Outra atividade que vem atraindo cada vez mais investimentos no estado é a suinocultura, impulsionada principalmente pela crescente oferta de grãos na região. O exemplo do criador Rudi Deros é emblemático. O empresário, que deixou Santa Catarina rumo ao município de São Miguel do Guaporé há 13 anos levando consigo 20 matrizes, hoje comanda uma produção totalmente verticalizada, com um plantel de 230 reprodutoras. Em uma propriedade de 600 hectares, planta os grãos que alimentam os animais, cerca de 20% da produção, e vende o excedente para as tradings da região. Graças aos incentivos do estado, também construiu um frigorífico, onde abate os suínos. “Rondônia é uma terra de oportunidades. Como pequeno agropecuarista, eu vi muitas vantagens, como terras férteis, clima favorável e uma demanda muito grande por carne de porco. Isso nos dá competitividade”, afirma Deros.
Existem também outras iniciativas interessantes do governo no sentido de fomentar a produção na região, especialmente nas áreas de piscicultura e cafeicultura. O estado, que colhe atualmente 2,1 milhões de sacas de café por ano, tem como objetivo produzir 4 milhões de sacas até o fim de 2018. Para isso, vem subsidiando a substituição de cafezais antigos, cuja média de produtividade é de apenas 20 sacas por hectare, por variedades muito mais produtivas desenvolvidas pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), que podem render até 160 sacas por hectare. Já a piscicultura é vista como atividade com maior potencial de crescimento em Rondônia. A expectativa do governo é que a produção de peixes alcance 200 000 toneladas nos próximos cinco anos, um volume considerável, mas ainda distante do potencial do estado, estimado em até 1 milhão de toneladas por ano.
A localização privilegiada, porém, tem despontado como principal diferencial competitivo de Rondônia. Com fácil acesso à nova Rodovia Transoceânica, que liga o Brasil ao Oceano Pacífico, a rota permite às empresas estabelecidas no estado fácil conexão a mais de 150 milhões de consumidores localizados nos países andinos, como Peru, Bolívia, Chile, Equador e Venezuela, além do Suriname. São todos pouco industrializados e importam, juntos, cerca de 192 bilhões de dólares por ano – atualmente, o Brasil responde por somente 8,5% dessas importações. “A incompetência do nosso país em abastecer os vizinhos é absurda. O lado positivo é que existe um potencial gigantesco para as empresas brasileiras explorarem”, completa o economista Valdemar Camata Júnior, superintendente do Sebrae em Rondônia.
Fonte:Revista Exame