Por que a ‘saída do armário’ de Kevin Spacey irritou celebridades, ativistas e fãs

Se Kevin Spacey tivesse saído do armário há um ano, as reações provavelmente teriam sido muito diferentes das que ocorreram nesta segunda-feira.

O fato de uma das maiores celebridades de Hollywood assumir ser homossexual em um momento em que isso ainda é considerado como algo que prejudica as bilheterias de cinema provavelmente seria comemorado por muitos, especialmente pela comunidade LGBT.

Mas Spacey só assumiu após acusações de que teria assediado sexualmente um ator de 14 anos em 1986. Anthony Rapp disse ao site Buzzfeed que foi convidado pelo ator para uma festa e que ele parecia estar bêbado no momento do incidente.

Em uma nota publicada em seu perfil de Twitter, o ator de House of Cards pediu desculpas, afirmando não se lembrar do episódio. Em seguida, disse que “essa história me encorajou a abordar outras questões da minha vida”. E continuou: “Eu amei e tive encontros românticos com homens durante toda a minha vida, e agora escolho viver como um homem gay”.

Mas desde então, ele foi duramente criticado por celebridades, ativistas e até fãs nas redes sociais. Muitos o acusaram de usar sua sexualidade como “cortina de fumaça” para tirar a atenção das alegações de assédio sexual.

“Ele não tem passe livre (para o assédio) simplesmente porque é gay”, disse Josh Rivers, editor da revista britânica Gay Times. “Um suposto comportamento predatório é condenável não importa a sexualidade da pessoa.”

Para Rivers, “Kevin Spacey escolheu o momento errado para afirmar sua sexualidade, especialmente no momento em que está sendo acusado de algo muito ofensivo.”

Segundo Rapp, Spacey o levou para sua cama durante a festa e deitou em cima dele, mas ele conseguiu se desvencilhar da situação.

Nesta segunda-feira, em meio à polêmica, a Netflix anunciou que a série House of Cards será cancelada após a próxima temporada. Em comunicado à revista americana TV Line, executivos da empresa disseram estar “muito preocupados” com as notícias sobre o ator.

Eles afirmaram, no entanto, que a decisão de cancelar a série havia sido tomada antes das revelações de Rapp e Spacey.

‘Subterfúgio’

Linda Riley, cofundadora do prêmio LGBT britânico também disse estar “decepcionada” com a decisão do ator. “Ele poderia ter saído do armário tantas vezes no passado e não o fez. Essa nota me pareceu bem manipuladora, para dizer a verdade. Ele tenta reconhecer o que fez, mas usa o fato de ser gay como subterfúgio.”

O comunicado, publicado no domingo à noite, também causou reação negativa nas redes sociais, para além de ativistas LGBT.

A atriz Rose McGowan, que esteve em evidência no noticiário nas últimas semanas por causa da acusação de que o poderoso produtor Harvey Weinstein a teria estuprado, tuitou: “Tchau tchau, Kevin Spacey, é sua vez de chorar”.

Mais de 80 mulheres, entre elas as atrizes Gwyneth Paltrow, Angelina Jolie e Daryl Hannah, acusaram Weinstein de assédio. Ele nega as acusações, mas foi demitido de sua própria empresa. Outras atrizes e atores também têm falado à imprensa sobre situações de assédio que teriam vivido com diretores e produtores de cinema.

Também no Twitter, Anthony Rapp afirmou que decidiu revelar o episódio com Spacey “me apoiando nas muitas mulheres e homens corajosos que têm falado sobre o assunto, para, com sorte, iluminar a situação e fazer alguma diferença, quando eles fizeram por mim”.

“Tudo o que eu queria dizer sobre essa experiência está na reportagem, e não tenho mais nada a comentar no momento.”

Já o ator Jordan Gavaris, da série americana Orphan Black, disse: “Repitam comigo: assédio sexual não se trata de sexualidade, e, sim, de poder”. E o comediante americano Billy Eichner afirmou, também no Twitter, que “Kevin Spacey acabou de inventar algo que não existia: um momento errado para sair do armário.”

Fonte:BBC Brasil

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