Catástrofe na Região Serrana do Rio De Janeiro

A bacia do rio Piabanha ocupa cerca de 2.000 km² e drena os municípios de Petrópolis, Teresópolis, São José do Rio Preto e Areal. Em seu percurso final, inclui ainda o município de Três Rios. Destaca-se, na bacia do rio Piabanha, a presença de duas das maiores cidades existentes em toda a bacia do rio Paraíba do Sul - Petrópolis e Teresópolis - ambas situadas nas regiões montanhosas do reverso da Serra do Mar, nos vales dos principais formadores da sub-bacia - o rio Paquequer em Teresópolis e o próprio rio Piabanha em Petrópolis.

TOPOGRAFIA

A região é fortemente caracterizada pelo seu relevo montanhoso, com muitos afloramentos rochosos.O relevo acidentado forma uma bela paisagem, especialmente nas áreas mais próximas à Serra do Mar, onde predomina a Mata Atlântica. Esta Serra forma o limite principal da região com o restante do Estado e recebe ainda influências dos ventos oceânicos que elevam a pluviosidade. As cidades mais próximas da Serra apresentam elevados índices pluviométricos, principalmente Teresópolis, com média anual superior a 1500 mm de chuva.

VEGETAÇÃO E USO DA TERRA

De acordo com os dados do mapeamento, a região tem 97,3 % de seus limites divididos entre três formas de cobertura vegetal;

■ as pastagens (41,6 %),

■ a vegetação secundária (29,8 %) e

■ as florestas (25,9 %).

No entanto, essa condição relativamente privilegiada não significa que a extensão de cobertura florestal na região seja satisfatória, principalmente quanto à função de controle de erosão exercida pelas florestas. Lembrando que, antes da ocupação antrópica, a região era quase 100% coberta por florestas, é de se supor que a redução para apenas 26% tenha trazido conseqüências ambientais significativas, tendo em vista a condição de elevada suscetibilidade do meio físico à erosão.

Na verdade, a existência ainda de cobertura florestal nessa região deve-se às condições de relevo montanhoso, extremamente íngreme e rochoso, absolutamente impróprio ao uso agropecuário, aliadas ao caráter de lazer e turismo que se estabeleceu na Região Serrana. Na medida em que o relevo torna-se menos acidentado, verifica-se diminuição da cobertura florestal, como nos casos de Cordeiro, Sumidouro e São Sebastião do Alto; este último já apresentando sérios problemas de falta de água para abastecimento nas sub-bacias que já perderam grande parte das florestas protetoras dos mananciais.

A Região Serrana não é indicada para a agricultura, principalmente a de lavouras temporárias (que predominam na região). O relevo é o principal fator restritivo. Com declividades superiores a 40%, não permite mecanização, o que torna impeditiva a adoção de práticas conservacionistas, como terraceamento e curvas de nível. A constante exposição dos solos a ação das chuvas, em fortes declividades, tende a diminuir sua capacidade produtiva.

As pastagens, embora menos agressivas ao solo que a agricultura, também encontram grandes restrições de uso na região. Restrições essas igualmente associadas ao relevo. A distribuição das pastagens na região não segue corretamente essas restrições. Os maiores pecuaristas da região (Cantagalo, Duas Barras, Santa Maria Madalena, São Sebastião do Alto e Trajano de Moraes) encontram-se em áreas de alta suscetibilidade à erosão, com relevo acidentado, até montanhoso, e fortes declividades.

Tanto a agricultura como a pecuária ocupam preferencialmente os fundos de vale, às margens dos cursos d'água e, portanto, à custa da exclusão de matas ciliares. Como essas áreas de relevo mais suave são poucas, a agropecuária vai se expandindo para as encostas, também tomando o lugar das florestas. O resultado é o aumento dos processos de erosão das encostas e de assoreamento dos rios desprotegidos.

POPULAÇÃO

A população dos municípios da de Petrópolis, Teresópolis e Nova Friburgo representam, juntos, cerca de 80% da região.

EROSÃO NA REGIÃO

Os condicionantes do meio físico determinam para a região uma suscetibilidade à erosão extremamente elevada quando a cobertura florestal é retirada.

Em Teresópolis, Nova Friburgo e Petrópolis, apesar da grande extensão de cobertura florestal ainda existente, observa-se que o crescimento urbano nesses municípios vem acarretando processos acelerados de erosão, associados à ocupação inadequada de encostas.

Petrópolis, que apresentou um rápido crescimento na década de 1980, já sofreu graves impactos sócio-ambientais com a ação das intensas chuvas de verão. Em fevereiro de 1988, ano de alta pluviosidade na região, houve 170 mortes e mais de 3.800 desabrigados em Petrópolis, com deslizamentos de terra das encostas e enchentes no rio Piabanha e afluentes.

Teresópolis vem apresentando um crescimento acentuado na direção de uma das áreas mais suscetíveis à erosão do município, o bairro conhecido como Jardim Meudon. A população vem ocupando as encostas em precárias condições, sem nenhum controle por parte da prefeitura no sentido de evitar a criação de áreas de risco.

O rio Paquequer, que atravessa a cidade, encontra-se carregado de sedimentos provenientes das encostas desprotegidas. Deságua no rio Preto, que passa pelo município de São José do Vale do Rio Preto, onde a agricultura ocupa intensamente as margens dos cursos d'água, aumentando a contribuição de sedimentos pela freqüente exposição do solo à ação das chuvas.

Ocupações irregulares podem, não raro, estar associadas também a irregularidades político-administrativas, tais como o interesse eleitoreiro no estímulo à ocupação, que faz "vista grossa" ao não cumprimento das normas de ocupação e uso do solo e ainda facilita a ocupação com abertura de ruas e fornecimento de luz e água. Fonte: Universidade Federal do Rio de Janeiro - Hidrologia.

Os fatores que concorreram para o desastre conforme a analise anterior são antigos e vem desde a época da colonização, agravada pelo crescimento das principais cidades da região.

  • Agricultura sem preocupação com a conservação do solo;

  • Desmatamento das florestas existentes deixando o solo exposto à erosão

  • Desmatamento das matas ciliares que servem de proteção aos rios

  • Assoreamento dos rios devido à erosão

  • Região com elevado índice pluviométrico

  • Crescimento desordenado das cidades,

  • Topografia excessivamente acidentada, com numerosos rios, propiciando a formação de tromba d´água ou cabeça d´água. . Este fenômeno acontece em rios de montanha na época de muitas chuvas. Consiste em um aumento momentâneo e violento do nível de água por conta de uma chuva intensa. Pode ficar ainda mais violento se houver um aumento grande da água de um rio e romper com uma obstrução natural, formada por árvores caídas, pedras e terra. Seria uma avalanche de lama. Na enchente normal o rio sobe e transborda em seu caminho normal. Os americanos consideram esse tipo de enchente com lama, como flash flood, aparece e move rapidamente através do solo, sem aviso que está chegando. Tem um poder destruidor imensurável. Pode mover pedras, arrancar árvores, destruir edifícios e pontes. Pode formar uma parede de água de 3 m a 6 m, com enorme quantidade de detritos.

Os fatores para o desastre estavam presentes, faltava apenas à chuva excessiva com elemento desencadeador, para provocar o efeito dominó, resultando numa avalanche de lama e detritos.

Podemos considerar esse deslizamento de lama como se fosse uma avalanche de lama quando uma massa acumulada de água no solo provoca o deslizamento da terra de forma rápida e violenta e se precipita em direção ao vale. Durante a descida, com velocidade altíssima, a massa carrega cada vez mais lama, arrastando árvores, rochas e edificações.

Balanço parcial com informações até 16 de janeiro:

Mortes

  • Em Nova Friburgo, o número de mortos saltou para 267;

  • Em Teresópolis; para 261.

  • Petrópolis agora registra 53 e

  • Sumidouro continua com 18 vitimas.

Desalojados e Desabrigados

  • Em Petrópolis, há 3.600 desalojados e 2.800 desabrigados.

  • Teresópolis tem 960 desalojados e 1.280 desabrigados.

  • Nova Friburgo tem 3.220 desalojados e 1.970 desabrigados.

Comentário:

A tragédia que abateu a região serrana do Rio de Janeiro mostrou duas faces: a tragédia humana e a tragédia do governo. Da tragédia do governo, os únicos que se salvaram foram os bombeiros e a rede de voluntários.Para eles não existem reuniões, avaliações, esperar o que vai acontecer e sim chegar rapidamente nos locais das tragédias para salvar vidas. Eles tomam as decisões no local dos desastres. Também houve a rede de voluntários de rádio amadores que fizeram a rede comunicação, pois a pública, telefonia fixa e móvel não estava funcionando.

A preocupação deles é com o ser humano. E o que fez o governo? O governo fez reuniões, avaliações, não tinha um plano contra catástrofe. O plano contra catástrofe brasileiro é o plano de solidariedade e de voluntários. Começa com o prefeito pedindo socorro ao governo estadual, pela sua vez despacha a ajuda disponível . No agravamento da situação o governo estadual pede ajuda ao Federal, que por sua vez despacha, geralmente as Forças Armadas. Nesse espaço de tempo forma a rede de solidariedade, de donativos e alimentos. Esse é o plano brasileiro, sem cabeça.

O governo não assimilou o que houve de errado no passado e sugerir em regiões com riscos de natureza, acidentes similares podem ser prevenidos no futuro. Infelizmente as tragédias acontecem, os acidentes se repetem após um período. Após um breve período de consternação, as pessoas esquecem e as lições são esquecidas.

O país ainda não aprendeu com as recentes tragédias da necessidade de um plano de emergência.

Em emergência não se faz plano e sim a executa. Essa é a diferença entre um país que está preparado para tragédia e outro que pretende durante a tragédia elaborar um plano com voluntários.

Elaborar um plano de alerta e preparação de Comunidades para Emergências Locais não é complicado e não exige grande investimento.

A finalidade desse plano visa intensificar a conscientização e a preparação da comunidade para situações de emergência. O eixo central deste processo é o Grupo Coordenador constituído por autoridades locais, líderes da comunidade, dirigentes industriais e outras entidades interessadas.

Quais são os benefícios para a Comunidade?

  • Introdução gradual do plano em todas as áreas vulneráveis identificadas.

  • Preparação e coordenação dos serviços de atendimento à emergência.

  • Integração dos planos de emergência locais.

  • O mais importante é a conscientização da população quanto aos procedimentos de ação no caso de um acidente.

Em termos práticos o que significa "preparação"?

Entidades locais devem estar preparadas para eventuais riscos.

A comunidade deve:

  • conhecer os sinais de alarme;

  • seguir os planos de evacuação;

  • saber como agir no caso de um acidente;

  • dispor de edificações adaptadas; abrigos

  • ter acesso aos serviços de informação apropriada em caso de crise.

Os serviços de atendimento de emergência devem possuir:

  • equipamento e treinamento;

  • mapas de risco;

  • arranjos para o gerenciamento do tráfego;

  • canais de comunicação com o público durante uma situação de crise.

As autoridades governamentais devem tomar as medidas necessárias para garantir:

  • o planejamento seguro de uso e ocupação do solo;

  • a existência de uma legislação de risco;

  • a comunicação ao público das informações disponíveis sobre riscos;

  • a coordenação dos serviços de emergência;

  • a adequação dos serviços médicos locais a acidentes específicos.

O plano é um processo local de comunicação de risco e de coordenação 'pertencente' à comunidade e a defesa civil local.

Quais são os resultado da introdução do plano?

1. Maior conscientização da comunidade local quanto aos possíveis riscos e impactos aos quais ela está exposta e melhor preparação para agir de forma adequada no caso de um acidente, e

2. Melhor preparação da defesa civil no atendimento a emergências, que passam a dispor de sistemas de informação e coordenação adequados a potenciais desastres.

3. Interação com Programas Nacionais na Área de Risco (Defesa Civil)

Fonte: Adaptação do APELL Programme - United Nations Environment Programme - UNEP

voltar acima