Uma das conseqüências da descoberta da América, para os europeus, foi o conhecimento do fumo, originário desse continente e cujo uso, comum entre os aborígines, estendeu-se por todo o mundo, apesar de seus efeitos nocivos à saúde.
Fumo, ou tabaco, é uma planta herbácea anual da família das solanáceas -- a
que também pertencem o tomate, a batata, a berinjela e o pimentão e do gênero
Nicotiana (designação dada por Lineu em homenagem a Jean Nicot, embaixador da
França em Lisboa, e a quem se atribui a introdução do fumo na Europa). As folhas
de fumo, preparadas de várias maneiras, são fumadas, cheiradas ou mascadas. A
palavra tabaco vem do árabe tabaq ou tubaq, designativo de plantas que tonteavam
e adormeciam, e foi usada pelos europeus para identificar as folhas (e, por
extensão, a planta) que embriagavam os antilhanos, quando fumadas.
O gênero abrange cerca de sessenta espécies, mas as que se cultivam com fins
industriais são a N. tabacum, a mais importante, e N. rustica. Os indígenas
americanos plantavam, além dessas, N. bigelovii, N. attenuata e N.
trigonophylla. A espécie N. tabacum apresenta sistema radicular pivotante, com
abundantes raízes secundárias. O caule, de um a três metros de altura, é
herbáceo ou semilenhoso. As flores são róseas e as sementes, marrons, são
minúsculas: a cápsula que as encerra contém de 2.500 a 3.000 unidades.
As folhas, grandes, elípticas, acuminadas e sésseis, têm o limbo recoberto
de pêlos e de uma substância gomosa característica. Medem entre quarenta e
setenta centímetros mas podem, de acordo com a variedade e com a fertilidade do
solo, chegar a um metro de comprimento. A N. tabacum tem numerosos tipos e
variedades, que se ampliam continuamente mediante a criação de linhagens
híbridas, originadas das formas ancestrais: havanensis, brasiliensis, virgínica
e purpúrea. No Brasil, as variedades mais conhecidas são, para cigarros, coker,
maria, sês, rippel, herval baixo e dixie bright; para charutos, brasil-bahia,
virgínia, sumatra e havana; e para fumo em corda, goiano, jordão e jorginho.
Tipos de fumo. Segundo seu emprego, o fumo classifica-se em
três categorias: tabaco de mascar, de aspirar (rapé) e de fumar. Os dois
primeiros, amplamente empregados no passado, hoje são de uso restrito. Quase
todo o tabaco atualmente cultivado destina-se à produção de cigarros, charutos,
fumo para cachimbo e fumo de corda, também chamado fumo de rolo, consumido
sobretudo em zonas rurais. A obtenção de cada um desses tipos resulta de
condições específicas de cultivo e beneficiamento.
Diversas qualidades de fumo entram na composição dos cigarros, conforme o
produto desejado. De uma mistura padrão participam vários subtipos, cada um com
características peculiares de aroma, sabor, combustibilidade etc. Nos cigarros
leves e claros, por exemplo, o gosto definitivo é dado pela adição de adoçantes
como cacau, mel e outros.
Das variedades destinadas ao charuto, exigem-se aroma, coloração e textura
que só se obtêm em condições muito especiais. É por isso que certos fumos, como
os de Cuba, da Bahia ou de Sumatra são famosos em todo o mundo. Os métodos de
cultivo e de cura são específicos para a produção de um bom fumo de charuto e o
tratamento final de fermentação das folhas curadas dá o toque final para que o
tabaco assim obtido tenha exclusivamente essa finalidade. As misturas empregadas
para o fumo de cachimbo recebem tratamento que lhes confere maciez e são
aromatizadas com baunilha, cumaru, chocolate, extratos de frutas e outros
compostos perfumados.
Entre os subprodutos do fumo destacam-se os resíduos, a nicotina, o óleo da
semente e os aromatizantes. Todos os resíduos, inclusive as hastes, podem ser
transformados em valioso adubo orgânico. A nicotina, alcalóide extraído por
processos químicos, é usada sob a forma de sulfato de nicotina como inseticida
agrícola. Pode ser obtida a partir de folhas imprestáveis, resíduos ou fumos
cultivados especialmente para tal fim. Pela oxidação da nicotina e tratamentos
subseqüentes produz-se o ácido nicotínico, também chamado niacina ou fator P-P,
droga usada no tratamento da pelagra e em certos casos substituída, com a mesma
finalidade, pela nicotinamida ou vitamina B3.
Tabagismo. Dá-se o nome de tabagismo ao consumo do fumo e à intoxicação, aguda ou crônica, decorrente desse hábito. O efeito nocivo do tabaco ocorre sobretudo nos aparelhos respiratório, circulatório e digestivo, assim como no sistema nervoso. Na mucosa brônquica, a fumaça do cigarro provoca lesões do epitélio cilíndrico ciliado, das células secretoras de muco, alterações da dinâmica etc.
O tabaco pode causar bronquite crônica, enfisema pulmonar e, embora não
existam ainda provas cabais, o câncer, sobretudo de pulmão. Entre os que fumam
cachimbo ou mascam fumo picado, também parece haver maior incidência de câncer
dos lábios, da boca e da faringe. Em vários países, sobretudo a partir da década
de l980, desencadearam-se campanhas destinadas a reduzir o aparecimento de novos
fumantes na população jovem. Na Itália, proíbe-se toda e qualquer publicidade do
fumo; no Reino Unido, interditou-se a propaganda na televisão. Nos Estados
Unidos e, a partir de 1989, no Brasil, são obrigatórias advertências nos maços
de cigarros, em anúncios e em pontos de venda.