História
Foi a fantástica
perseguição ao ouro que levou o sertanista Gaspar Vaz da Cunha, o Oyaguara, a
romper as matas virgens da Mantiqueira, vindo do Vale do Paraiba, através de
picadas coleantes e escarpadas, em direção às minas auríferas de Itajiba.
Ficou encantado com a exótica e exuberante paisagem da região do Sapucaí e não
sabia que estava desbravando os caminhos que, mais tarde, levariam ao paraíso na
terra, ornado de opulenta vegetação, solo fértil, clima excepcional e água
salubérrima.
Por volta de 1771, a coragem épica de Inácio Caetano Vieira de Carvalho, seguindo as pegadas do Oyaguara, subiu os degraus da Serra Preta, na Mantiqueira, em direção ao Pico do Itapeva, vindo de Taubaté, fixando-se com sua família durante 18 anos nos Campos da Mantiqueira. Fundou a Fazenda Bom Sucesso, requereu e obteve carta de sesmaria do Governador da Capitania de São Paulo e lutou bravamente para defender as divisas de São Paulo contra seu vizinho sesmeiro, João da Costa Manso, da Fazenda São Pedro, das bandas de Minas Gerais. Graças à sua luta, Campos do Jordão permaneceu paulista e Inácio Caetano Vieira de Carvalho levou para o túmulo a glória de ter sido o pioneiro desta, hoje, maravilhosa Estância.
Narra a lenda que Inácio Caetano era muito sovina e que, por isso, enterrara
barricas de ouro em uma lomba larga entre três pinheiros, despertando a cobiça
de muitos ao longo de gerações que, até hoje, sulcam a terra em busca do
lendário tesouro do desbravador. Com a sua morte em 1823, seus herdeiros
hipotecaram a sesmaria ao Brigadeiro Manoel Rodrigues Jordão, que, mais tarde,
adquiriu-a nas imediações do dia de Natal, pelo que o povo passou a chamar as
terras de Fazenda Natal e, logo em seguida, de Campos do Jordão. Aí a origem do
nome.
Membro do Governo Provisório e Diretor do Tesouro da Capitania de São Paulo, o
Brigadeiro Jordão era cidadão ilustre, grande proprietário de fazendas e figurou
ao lado de D. Pedro quando do Grito do Ipiranga, no famoso quadro de Pedro
Américo.
Infelizmente, não chegou a conhecer as terras às quais emprestou o nome. Os
herdeiros de Brigadeiro Manoel Rodrigues Jordão retalharam as terras, vendendo
às porções, para diversos proprietários. Foi em 29 de abril de 1874 que, um
deles, morador de Pindamonhangaba, o português Matheus da Costa Pinto, subiu a
Serra e, comprando terras à beira do rio Imbiri, lá instalou uma vendinha,
montou uma pensão para respirantes e pouso dos forasteiros, levantou uma capela
em honra de São Matheus e edificou a escola.
Estava fundada a Vila de São Matheus do Imbiri, histórica precursora master de
Campos do Jordão. Lançada a boa semente em solo fértil, logo o povoado progrediu
e veio a transformar-se na Vila Velha, denominada, mais tarde, Vila Jaguaribe,
graças aos esforços encetados pelo seu desenvolvimento e progresso, por parte do
Dr. Dorningos José Nogueira Jaguaribe Filho, seu morador. Outras vilas foram
surgindo: a Vila Abernéssia foi fundada pelo escocês Robert John Reid, o
agrimensor da divisão judicial da Fazenda Natal. Como ele nascera em Aberdeen, e
seu pai em Inverness na Escócia, retirou Aber da primeira cidade, ness da
segunda e ia de Escócia, formando com elas a denominação de sua Chácara
Abernéssia, que veio a transformar-se em Vila, em 1919; Vila Capivari foi
fundada pelos médicos higienistas Emílio Marcondes Ribas e Victor Godinho, que
ali projetaram Vi1a Sanitária em 1911.
O projeto não foi levado à frente, porém, em 1922, o Embaixador José Carlos de
Macedo Soares comprou as referidas terras e fundou a Companhia de Melhoramentos
Capivari, responsável pela edificação da aristocrática e bela vila. Foram,
igualmente, Emílio Ribas e Victor Godinho que, através do empreiteiro português
Sebastião de Oliveira Damas, iniciaram a construção da E. F. Campos do Jordão,
unindo o Vale do Paraíba a Campos do Jordão. Por falta de recursos, os serviços
foram paralisados; o Presidente do Estado, Francisco de Paula Rodrigues Alves
encampou a Ferrovia em 1915, concluindo os trabalhos e entregando-a ao tráfego.
A criação do Município de Campos do Jordão operou-se em 16 de junho de 1934,
ocasião em que se desligou de São Bento do Sapucaí e, em 30 de novembro de 1944,
foi criada a sua Comarca. Detém área de 269 quilometros quadrados e está situada
em clima tropical de montanha.
Campos do Jordão localiza-se a 1.700 metros de altitude e pesquisas científicas
acusaram a superioridade de seu clima em relação a Davos Platz, nos Alpes
Suiços, bem como um teor de oxigenação e ozona superior ao de Chamonix, famosa
estância francesa, pela pureza do ar. Campos do Jordão apresenta vantagem sobre
as demais estâncias climáticas brasileiras: o seu clima tropical de montanha faz
com que o sol esteja presente praticamente o ano todo. A luminosidade costuma
atingir o seu grau máximo no inverno, quando então a temperatura chega a cair
até a 5 graus negativos, embora já tenha atingido, no passado, a 18 graus abaixo
de 0, em 1992. Pesquisas realizadas de 1961 a 1974 sobre as variações climáticas
acusam o mês mais frio em junho, e o mais quente, o de fevereiro (média de 17º a
27º C). O mês de janeiro é o mais chuvoso, o de junho o mais seco, e o de agosto
é aquele em que o sol se apresenta em sua maior intensidade. Outros dados sobre
a temperatura: temperatura abaixo de 9º C, 14 dias por ano; acima de 25º C, 25
dias por ano; ocorrência de nevoeiro, 49 dias por ano; de orvalho, 113 dias e
ocorrência de geada, 42 dias por ano.
Saúde e beleza o ano
inteiro. Campos do Jordão tem uma topografia bastante acidentada: cerca de 85%
de seu Municipio é composto de regiões onduladas, 10% de encostas de serra e
apenas 5% de áreas escarpadas. A cidade está localizada em um vale; a parte
plana não ultrapassa 500 metros de largura onde se alinham os seus três núcleos
principais: Vila Abernéssia, Vila Jaguaribe e Vila Capivari. Vila Abernessia é o
centro comercial e administrativo da Estância, Vila Jaguaribe tem uma parte
turística e outra residencial e Capivari é a vila turística, por excelência.
É nela e em seus arredores que se concentrarn os melhores hotéis e restaurantes,
confeitarias e shoppings, além de luxuosas residéncias que lembram chalés suíços
e palacetes imponentes, de estilo normando. A Estância é dotada de parque
hoteleiro de categoria internacional.
Localizada entre São Paulo, Rio e Minas Gerais, Campos do Jordão é alcançada por
três vias principais de acesso, sendo 2 rodoviárias e 1 ferroviária. De São
Paulo e Rio, por exemplo, o acesso pode ser feito através das rodovias SP-123 e
SP-50, ambas partindo da Via Dutra.
A SP-50 tem início em São José dos Campos e apresenta mais de 800 curvas para um
percurso inferior a 100 quilômetros. Outros acessos rodoviários há, porém de
importância secundária. Por último, temos o acesso ferroviário que liga
Pindamonhangaba a Campos do Jordão através da Serra, onde se encontra a Parada
Cacique, o ponto ferroviário mais alto do Brasil.
A E. F. Campos do Jordão é a única ferrovia brasileira que funciona por sistema
de simples aderência, sem cremalheiras.
Cantada como a Suiça Brasileira pelo seu clima inigualável, e reverenciada como
o Altar da Solidariedade Humana pela cura de milhares de brasileiros que,
recuperados de doencas pulmonares, retornaram sadios aos seus lares, em todos os
quadrantes do País, Campos do Jordao tornou-se a mais importante estância
climática do Brasil.
Além de sua famosa malharia - conhecida no mundo todo -, o seu chocolate
caseiro, seus doces e compotas, até mesmo as resinas de seus vastos e magestosos
pinheirais são industrializadas e suas águas minerais, captadas através dos mais
elevados padrões de técnica e higiene, correm das fontes mais puras do planeta.
A sua maior matéria-prima, porém, é aquela que exporta, generosamente, sem
retorno de divisas:a saúde.
Os cortes olímpicos e verdes de sua silhueta serrana, ao amanhecer do dia e ao
por do sol, já motivou os cânticos dos homens e dos deuses, entoando hinos à
beleza e à fraternidade. Pela Estância de Campos do Jordão passaram escritores
como Monteiro Lobato, Paulo Dantas, Maria de Lourdes Teixeira, Dinah Silveira de
Queirós; poetas, como Ribeiro Couto, Guilherme de Almeida, Menotti Del Pichia;
historiadores, como Caio Prado Junior; juristas, como Miguel Reale e Alexandre
Correa; artistas plásticos, como Brecheret, Lasar Segall, Felicia Leirner,
Pancetti, Manabu Mabe e Camargo Freire, além de políticos, como Getúlio Vargas,
João Figueredo, Ernesto Geisel, João Goulart, Adhemar de Barros, Carvalho Pinto,
Jânio Quadros, Franco Montoro, Paulo Maluf, Laudo Natel, Abreu Sodré e tantos
outros.
Jamais a cobiça do ouro, no passado, poderia sugerir a Oyaguara e a Inácio Caetano que a riqueza não estava nas Minas Gerais, mas se achava aqui mesmo, no Alto da Mantiqueira, a 1700m, acima das poluições, na abençoada e formosa Campos do Jordão. Por isso cisma o poeta em sua lira: Não sabiam os pobres viajantes que o tesouro, de ouro não era não! Nem de esmeraldas, nem de diamantes, o tesouro era Campos do Jordão.