ERA
UMA VEZ UM PORTO NATURAL...
"A
cidade foi construída sobre bancos de areia estreitos
e baixos, separados uns dos outros por canais rasos de
água salgada. Duvido que em todo o mundo haja outra
estrutura natural que apresente aspecto tão
artificial (...) vários quilômetros em absoluta
linha reta paralela
à costa e pouco distante desta (...) como um
quebra-mar construído pela mão dos ciclopes".
As palavras quase poéticas são do grande cientista
Charles Darwin.
Em visita ao Recife no ano de 1836, ele descrevia
assim o porto natural e suas formações rochosas - os
recifes de arenito, que inspiraram o nome - onde
nasceu a capital Pernambucana. No início de tudo, ela
não passava disso mesmo: um porto ligado pelo istmo a
Vila de Olinda e em cujos arredores viviam apenas
pescadores, marinheiros e mercadores. Assim, enquanto
Olinda era a capital da província de Pernambuco, o
Recife era apenas seu porto natural.
Seu
primeiro registro histórico data de 12 de março
de 1537, na carta de doação da capitania de
Pernambuco, enviada pela Coroa Portuguesa ao donatário
Duarte Coelho. Por sua geografia particular, acabou
ganhando várias denominações antes de virar cidade
em 1823: Porto de Santelmo, Arrecife de São Miguel,
povoado do Corpo Santo e Recife dos Navios. Por conta
da exportação do pau-brasil e da produção açucareira,
a capitania de Duarte Coelho prosperou bastante,
acelerando as atividades do porto e o progresso da
povoação recifenses. Apesar disso, estava longe de
ser uma vila, já que dependia quase que totalmente de
Olinda. E eis que, em 1630, o grande transtorno para a
Coroa Portuguesa torna-se trunfo para a futura cidade
suplantar sua irmã e vizinha. Através da Companhia
das Índias Ocidentais, os holandeses ocupam a região
nordeste do Brasil, incendeiam Olinda e transformam o
Recife num centro de escoamento das novas matérias-primas
da colônia.
Em apenas dez anos passa
de vilarejo simples, com cerca de 200 casas, para uma
aldeia com mais de 2 mil habitações! O conde Maurício de
Nassau, que vem ao local em 1637 para comandar a
Companhia das Índias, usa os conhecimentos flamengos em
pontes e aterramentos, dando origem ao primeiro plano
urbanístico do Brasil. Foram feitas obras de saneamento,
construídas as primeiras pontes do país e importadas
casas pré-fabricadas da Holanda que mudaram
definitivamente a paisagem recifense.
Quando os holandeses foram expulsos em 1654, já havia
300 prédios, entre casas térreas, sobrados com um ou
dois andares, a Igreja do Corpo Santo, o Palácio
do Governo, a Alfândega, cadeia, provedoria, Casa da
Câmara, a Sinagoga dos Judeus (a primeira sinagoga das
Américas, situada no Bairro do Recife, hoje Recife
Antigo). Com a intensa movimentação do porto e a semente
desenvolvimentista plantada pelos holandeses, a terra de
comerciantes e pequenos burgueses, conhecidos como
mascates, foi elevada à categoria de vila em 1710. O
fato gerou ciúmes nos senhores de engenho residentes em
Olinda, culminando na famosa Guerra dos Mascates,
naquele mesmo ano. Alavancado pelo rápido
desenvolvimento, o espírito revolucionário também
penetra no sangue dos recifenses.
A partir de 1811 várias revoltas tomam conta da
vila. As mais importantes foram a Revolução de 1817
e a Confederação do Equador, em 1824, que almejavam
a independência da Coroa Portuguesa.Entre os
heróis de destaque, o religioso Frei Caneca, que
acabou fuzilado por seus ideais – coincidentemente,
nos anos 60 e 70, outro religioso guiado por idéias
libertárias, Dom Helder Câmara, foi a principal voz
a denunciar ao mundo as barbaridades da ditadura
militar no Brasil, à frente da Arquidiocese de Olinda
e Recife.
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