MCarmo Costa

carmen

 

ENTRE OS DEDOS

Entre os dedos fazemos miséria.

Entre os dedos nos viramos pelo avesso.

Entre os dedos nos impomos,
nos desejamos,
nos queremos…
nos possuímos…

Entre os dedos nos encontramos em
nós mesmas.

Entre os dedos somos o tudo e o nada…
nos achatamos entre o céu e a terra…
somos miragem e realidade…
somos o aqui e o além…

Entre os dedos… como mulher…
vazamos.

Entre os dedos sonhamos…
suamos… molhamos…

O que não se faz entre os dedos?
Entre os dedos somos crianças inocentes,
ingênuas de toque macio…

Somos adolescentes curiosas,
que vasculham a mente e o desejo…

Somos mulheres que anseiam
numa urgência profunda,
numa agonia lasciva…

Entre os dedos explode o desejo…

Vertem-se lágrimas dos olhos,
derrama-se leite do peito,
ardem-se as entranhas…

Entre os dedos
o contato do momento,
instante prazeroso.

Vida entre vidas
que ficam
entre os dedos.

INSANO DESEJO

Vira-te para mim
e vês como meus olhos te suplicam,
ao mesmo tempo que se encantam
por ti.

Tremores e suores
medo de perder-te…
tem dó de mim…
eu, qual pássaro ferido,
querendo aninhar-me em teu peito,
com teus dedos acariciando meus cabelos ,
embalando-me o sono.

Eu com ímpetos de beijar-te
a ponta do nariz
e o canto esquerdo dos lábios…

Saudades do que poderíamos ter
e não temos.

Saudades de beber em teus lábios
o vinho que bebo
e tu não sabes de meus lábios
ou deste vinho que decanto…

Preciso deste sonho!…

Entrelaço meus dedos
em teus dedos e,
espelho-me no verde de teu olhar
me ponho aqui
a falar-te de dedos e bocas,
quando só quero…
beber-te toda… sem gelo…

Gosto de vinho em meus lábios trêmulos…

Boca sedenta…

Gosto de vinho…

Ânsia de boca…

Emoção que se derrama
em urgência gritante.

Transformo-te em vinho
para te degustar… penetra-me a boca
escorrendo por minha garganta…
devagar…
achegar meio a minhas entranhas.

Saboreio-te na taça,
tua boca que tanto desejo
e beijo…

Toma-me agora!

Tenho-te cá na boca…
e não és mais vinho…
és carne de minha coxa…
retalho de meu peito…
minha alma partida.

Eu te bebo nesta vontade de ti…
deixa-me te penetrar no peito…
seio…
infinitas pernas…

Deixa-me estuprar tua língua…
lamber-te os lábios
viver dentro de fora de mim.

Não me atreverei a dizer-te mais de mim
ou deste insano desejo
que vive aqui… cá dentro de mim…

Mostra-me tuas cicatrizes…
teus percalços…
tuas rugas…
teu desassossego…

Não sei mais nada de mim…

Viverei no teu corpo feito de gemidos
e neste imenso espaço
que nos atormenta…
preciso de vida…
preciso viver…

Deixa-me viver em ti…
contigo…
em mim !…

DESPERTAR

Uma sensação inaudita,
nunca antes sentida,
leva-me por caminhos
não explorados.

Por abismos… morros…
labirintos… atalhos… enfim… terraplenagem.

Esbarro no aceiro da mata virgem!

Descortina-se a campina…
o verde… o suave… o belo.
o inevitável!
acanhadamente olho… observo…
tateio…

E, com que prazer… pouco a pouco…
com que ansiedade,
sinto… recebo… sendo
tocada…
desvendada!

O verde derrama-se
num arco-íris imenso, numa ardência incontentável,
roubando-me os sentidos…
fazendo alvoroço no meu coração…
no meu corpo…
nas minhas entranhas!

Um grito na garganta desmaia.

Paro de chofre…

Onde estou?

Perdida no arco-íris.

Num encontro de mim mesma.

Agora sem retorno…
prossigo.

Delírio!

PERDIDA EM MIM

Vagueio apenas… perambulo pelas ruas
vazias em busca do não sei onde…
encho-me de esperanças pelo sonho
que tive…

Vivi o sonho da não esperança…

Vagueio simplesmente…
se espero, se desespero…

Já nem sei de mim…
se vou, se fico… se parto enfim…
se sorrio… se desejo… se penso…

Apenas quero… sou assim…
mulher sem princípio e sem fim…
mulher andarilha…
mulher sem destino…
mulher só… sem semente…
sem adubo…
flor que sorri… mulher que vaza…
sem ti!…

MEU CORPO

Todo meu corpo eu escondo
no mais escondido de meu ser.

Todo meu corpo estar
onde ninguém pode ver.

Todo meu corpo desliza
num ousado e imperceptível
bambolear…

Todo meu corpo estar
onde não se pode tocar.

Todo meu corpo invade teus sonhos
num singelo suspirar.

Todo meu corpo explode
num tênue toque
de dedos indeléveis e afáveis,
como os teus.

Dedos que, meu corpo,
percorrem,
que meu corpo descobrem,
que em meu corpo se misturam.

Dedos que descobrem
os mais íntimos desejos.

Desejos de um corpo calado
que implodindo grita
sob o teu toque.

Corpo de mulher.

Mulher que deseja,
mulher que ama,
que se derrama,
que se entrega…

Que vaza…

SAUDADES DO MEU AMOR

Aqui sou somente saudades…
saudades de ti,
de teus beijos,
de teu toque,
de teu sorriso,
de teus olhos verdes que tanto amo…

Saudades de tua maneira de se impor…

Teu jeito…

E eu louca para estar contigo…
me mostrar para ti,
te dar meus carinhos,
te dar o meu amor,
cessar meus desejos em tua boca,
em teu corpo prazeroso e amado.

Meus olhos apenas te procuram,
meu corpo apenas te quer,
minhas entranhas, apenas por ti,
queimam
ardem
se dilaceram.

Cá na minha saudade
os meus passos seguem ao teu lado
na estrada de nosso amor,
porque o meu caminho
é o teu caminho…
a tua felicidade
é a minha felicidade…
a tua vida
é a minha vida !

Hoje te amo e
sempre te amarei !