Adilson Alchuiy

BESTIAL

no hospício morrem lentamente
quem não leu Neruda
ou os salmos distantes
não distingue a metamorfose
dos mortos
o cheiro de alixe
o amadurecimento dos tomates
as oferendas que o diabo
aceita nos tratados falsos
porém na realidade te dedico
o motivo da cítara no meu sangue
o gélido poema na imortalidade
fímbria esvaída em paixões
que consomem a carne
o coito abrupto
as rosas com espinhos
que furam os balões
no parque
amolgo o fogo celeste no prisma
velocíssimo das noites…

SININHO SE APAIXONA

uma bússola no crânio dos piratas
a respiração das pedras no voo das libélulas
Peter não sabe
há um gancho nas armadilhas
um crocodilo com o tempo nas entranhas
nesta Terra nunca os sonhos foram desperdiçados
na memória…
a infância liberta
em novas aventuras!
há um pó em tudo que flutua
um segredo que avisa
a fibra instável nos homens
são meninos brincando de todas
as coisas…

SEM CICATRIZES

inquietas vibrações
ascendem do vazio
& tudo que nos resta mais não é
senão oxigênio
radiação de hélio
buscas frenéticas no estio das mãos
que seguem
fulminantes carícias nos regressos
abruptas margens de silêncios puros
enseadas nos teus olhos
um mar nos meus sentidos
a solidão descansa no corpo disponível
ao contato
tudo sem nós continuará
& talvez a morte ou a memória nada
significam…

CAPÍTULO NORMAL

risco de álcool zulu
na beira de fogões com sopas
na pressão das panelas
ou de um ralador nas tatuagens
arrependidas
causa em autópsias mal feitas
chicletes no corrimão dos castelos
em ruínas
chapinha nas teias dos cabelos
desgrenhados da bruxa
com chocolate escorrendo dos lábios
viciantes ao doce das madrugadas
diabéticas
temores na jaula aberta
dos sentidos sem caças
desejos no canil ao uivar com os lobos
na colina sem luas
prazeres acorrentados ao cotidiano
comum das novelas com o ópio global
dos casamentos no final feliz
da vida!

CREPÚSCULO DOS IDOS

sensações extenuadas
bálsamos de mirra
nos suores amarelos
de um sol de matinées
mitigadas por flores
cantarolando Beatles
Strawberry Fields Forever
cheiro de fumaças
teus cabelos ao vento
um fusca 69 com baratas
no porta luvas com um rayban
paraguaio
como quem explora Marte…
ou crateras de vulcões extintos
primatas trepando
elixires de longa vida vencidos
em carroças no oeste selvagem
de nossos beijos
Raulzito cantando um tango
nus à beira do mar das piscinas
lembrando Brian Jones
no seu último mergulho…