Daniel

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SENTIDOS

O crepúsculo inicia a sua longa jornada,
Por entre batalhas perdidas e vencidas,
Por caminhos que levam ao nada,
Entre memórias à muito esquecidas…

O desejo prepara as suas garras
Para com elas desejar guerrear
A invencível força das amarras
Segurando no solo quem deseja voar…

O fogo deseja gravar na pele
O amor desaparecido na areia.

Nenhuma chama de puro mel
Docilmente queima, nem incendeia

O coração frio de tanto sofrer…
A minha vida é um curto resumo.
Aparentemente acabei por me perder,
Aparentemente, já não tenho rumo.

A ÚNICA…

As lágrimas incessantes do meu coração aberto
Mancham a minha alma com nódoas ardentes,
Das quais, por muito que tente, não me liberto,
Nem da solidão, que em mim, sussurra entre dentes:

“Foste derrotado, foste indesejado e cuspido ao chão…
Caíste nos teus joelhos quando a esperança se foi!
Deixa-te estar assim, prostrado, lacrimoso, em oração,
Pois sabes que não é a ferida da carne que te dói!”

Nunca me perderei mais no que poderia ter sido…
Não quero mais desperdiçar esta vida insignificante!
Posso ter sido injustamente derrotado, vencido,
Mas isso não fará de mim um eterno errante!

Aceito o meu passado para poder possuir um futuro,
Não lamento o ontem em detrimento do amanhã!
No desejo de ter um coração de pedra, forte e duro,
Eu sei perfeitamente, que de pedra, ele nunca será…

LUAR

O que desencadeia o estimulado
Sabor de frutos destruídos?
As acalmias de um mar transtornado
São música para os ouvidos

De quem na praia se senta
Olhando para além do mundo…
O ondular é a foz que aguenta
As lágrimas de um rio moribundo

Que corre sem ter onde correr,
Que respira sem ter ar,
Que vive porque vai morrer,
Que grita porque não sabe falar…

Pelo recanto do olhar felino
Se vislumbram as emoções…
As vozes são o cantar de um sino
Que harmoniza as recordações

Da ondulação suave e pacifica
Que presentemente se faz sentir…
A sombra é audácia magnífica
Que combate o inexistir…

Disperso, exausto, sem alento
No íntimo do meu vazio peito,
Eu sonho alto o meu tormento,
Alegórico fruto do mar desfeito,

Que frequenta o meu coração
E minha alma preenche…
Sou desprovido de visão,
Cego na maré que enche

O areal de lágrimas solitárias,
O corpo de desabafos sentidos,
A mente de lembranças sedentárias,
A alma de desejos esquecidos…

Em breve o sono me levará
A um sonho, pesadelo ou festa…
Terei paz até chegar o amanhã…
E isso é tudo o que me resta…

Quando os olhos omitem o ver
E os lábios esquecem o beijar
Todos riem de mim ao saber
Que uivo minhas mágoas ao luar…

LUTAS…

Estou caído no escuro,
Não vejo, mas sinto temor!
Rastejo um solo obscuro,
Inerte, vago, sem cheiro ou sabor…

Razões que ninguém me diz…
Dói, arde novamente
Os cortes abertos que eu fiz
No coração, na alma, na mente!

Eu sou apenas como tu…
Sinto mais, com mais intensidade?
Será que o meu corpo nu
Poderá ser, junto ao teu, realidade?

Não me amas, apenas sentes
Um corpo que também não ama…
As labaredas são beijos quentes
Que me beijam a cada chama!

As lágrimas não apagam este fogo!
Os sonhos são esperanças que perdi…
No mar ardente da decadência me afogo
Sem luta… não sofro, não amo, já morri!