Uma deusa alugada
Certa vez estava andando por uma rua movimentada quando me deparei com uma beldade. Nunca tinha visto um par de pernas tão perfeitos como aquele. Me peguei olhando, ou melhor, analisando de baixo pra cima de cima pra baixo aquele monumento que estava ali, a poucos metros de mim.
Por um breve momento ela me flertou. Naqueles poucos segundos, tudo a minha volta parou. Não escutei nenhuma buzina, freadas, conversas, não via ninguém a minha frente, não pensava em nada. Minha atenção estava inteiramente voltada a ela. Uma semi-deusa tinha cruzado meus caminhos. Céus! Quanta sorte!
Ela passou por mim e deixou aquele cheiro doce no ar. Senti minhas narinas entupidas de tanto frescor, tanto prazer. O vento de suas passadas rápidas me despenteou e mudou a direção do meu caminho. Meus instintos masculinos me obrigaram a segui-la. E assim fui, cego, zonzo, tropeçando por aquela rua não mais movimentada…
Depois de alguns quarteirões ela percebeu que eu estava a seguindo. Dobrou várias esquinas e dava disfarçadas olhadas pra trás constantemente. Ela queria sacar minhas intenções. Ahh se ela soubesse o quanto estava disposto a lutar por um minuto ao lado dela…
Íamos por ruas e ruelas que nunca tinha andado antes. A curiosidade me impelia. A compulsão me empurrava. Aquele quadril apertado em uma saia rosa me hipnotizava. Seus cabelos deixavam um aroma excitante no ar. Tudo isso funcionava como uma isca, e a presa dessa caçada era eu.
Acelerei meu passo a fim de frear aquele anjo e acabar com toda aquela tensão. Ela também se apressou. Estávamos brincando de cão e gato. Ela virava à esquerda, eu também, ela corria e eu corria atrás, ela atravessava a rua e eu a seguia.
Num dado momento minha excitação me deu tanta força que comecei a correr tão rápido ao encontro daquela mulher e, quando ia tocá-la ela se virou e me desarmou num só olhar.
Seus lábios eram carnudos e estavam adornados com o vermelho mais puro que já vi. Daquela distância pude sentir o calor daquela face. Seus cabelos loiros pareciam brincar com o vento. Aqueles olhos apaixonantes me prenderam e ela me disse:
– Moro aqui. Se quiser, pode entrar…
Demorei muito pra entender aquilo e quando recuperei a consciência, ela não estava mais na minha frente. A porta da casa dela estava entreaberta. Céus! Ela me convidou para entrar!
Entre alguns passos largos e algumas salivadas cheguei até a porta e… Entrei num Paraíso. Logo na sala eu avistei a oitava maravilha do mundo. Aquela pedaço de mau caminho estava dentro de uma lingerie branca deitada no sofá. Aquilo era a mais sólida manifestação do pecado.
– Você não quer se sentar aqui? – perguntou melosa.
Seria um crime inafiançável ignorar aquele convite. Sentei no sofá e me pus a admirar aquelas coxas torneadas, aqueles seios saborosos. Que conjunto, meu Deus!
Ela se inclinou próxima de meu rosto sem cor, segurou minhas mãos trêmulas e me acalmou com um longo e molhado beijo. Quando percebi que a coisa ia esquentar, coloquei a mão no bolso a procura de um preservativo. Não encontrei!
A lei de Murfy nunca falha nessas horas! Como eu podia estar despreparado num momento daqueles?!
Disfarcei minha preocupação perante a beldade, pedi licença e fui até o toalete. Joguei água na cara e disse pra mim mesmo olhando no espelho:
– Você não vai perder essa chance.
Foi depois disso que tive a grande idéia. O plano era ir até a farmácia mais próxima e comprar um preservativo. Mas como eu iria sair dali? Logo veio a solução: Sairia pela janelinha do banheiro e correria até a farmácia, depois voltaria pra ter aquela mulher encantadora em meus braços. Serei tão rápido que ela nem notará que saí daqui.
Foi o que fiz. Saí afoito pela estreita janela e corri pelo gramado lateral da casa. Foi ai que encontrei meu sogro rindo e me aplaudindo:
– Eu até que desconfiava de você, jovem! Mas você me surpreendeu! Pensei que cairia nos encantos da moça! Bem-vindo à família.
Respirei fundo e respondi enxugando a testa:
– Jamais, seu Antenor, jamais…
Jáder Rodrigues