Maria.Antonieta@edu a Pezão@pol
Senhor Luiz Fernando de Souza, dito Pezão, vosmicê deve ter ouvido que eu mandei o povo de Paris comer brioches à falta de pão. Deve ter ouvido também que eu era uma frívola, lésbica e promíscua. Tudo mentira, mas, pensando bem, eu e o regime de meu marido, Luís 16, desafiamos a ira do povo. Acabamos com o pescoço nu, à espera da lâmina da guilhotina.
Resolvi lhe escrever a pedido da minha amiga, a czarina Alexandra da Rússia, que chegou aqui em 1918. Ela aborreceu-se ao saber que o senhor deixou o palácio Laranjeiras com uma licença médica e foi para a propriedade chamada Rituaali, na serra do Rio de Janeiro. Hoje vocês chamam esses lugares de spa. Demos uma olhada no lugar, é coisa de grão-duque.
Hoje, há cem anos, a Alexandra e o marido, Nicolau 2°, achavam que achavam que as coisas melhoraram. Tinham perdido a coroa, mas os bolcheviques estavam sendo caçados em Petrogrado, o agente alemão Lênin e o judeu Trotsky estavam fugidos. Como o senhor sabe, Alexandra e Nicolau foram massacrados junto com o filho Alexis e as quatro meninas. Ela também era odiada. A mesma história: lésbica, perdulária e, se isso fosse pouco, amante daquele Rasputin, um curandeiro horrível e mal cheiroso. Tudo mentira, mas o regime dos Romanov também desafiou a ira do povo. A pobre Alexandra vivia chapada com doses de Veronal.
A minha desgraça começou em 1775, quando faltou pão em Paris e inventaram a história do brioche. A da Alexandra, em fevereiro de 1917, quando as mulheres de Petrogrado passavam a noite na fila à espera de pão. Ela achava que aquilo tudo ia passar. Eu também.
Seu governo não paga os salários dos servidores. Isso não acontecia na França nem na Rússia. Seu antecessor e patrono está na cadeia, por ladrão. Nas nossas famílias nunca aconteceu coisa parecida. Enquanto o senhor estava no spa, uma fila de aposentados à espera de cestas básicas formava-se às cinco da manhã. Luís não saiu de Versalhes e Nicolau estava no front da Primeira Guerra. Se o seu problema era uma taxa de glicose estourada, vosmicê podia ir para a rede hospitalar do Estado, arriscando ser assaltado na fila, como aconteceu com os diabéticos que esperavam a abertura do hospital Moncorvo Filho.
O senhor informou que pagou a hospedagem no Rituaali com seu dinheiro. Sabemos que a propriedade pertence a um fornecedor de serviços ao seu governo, que faturou R$ 118 milhões no ano passado. Acreditamos no que o senhor diz, pois aprendemos a não gostar de mexericos. Pela tabela dos aposentos do Rituaali, sua conta deve ter ficado nuns R$ 10 mil, metade do seu salário, ou ainda 30 cestas básicas de servidores caloteados.
Eu fui guilhotinada e a Alexandra foi acabada a golpe de baionetas pela malta insuflada por demagogos, mas o tempo nos levou a refletir. Em Versalhes e no palácio de inverno a gente vivia num mundo que ia acabar. Nem todos os mundos como o nosso acabaram do mesmo jeito, mas nosso comportamento ajudou a desgraçar nossos países. A França acabou nas mãos de um general italiano e a Rússia nas de um georgiano sanguinário.
A gente não nasce Maria Antonieta ou Alexandra. Eu era Maria Antonia de Habsburgo e ela, Alix de Hesse. Viramos Maria Antonieta e Alexandra pelo que fizemos e deixamos de fazer.
Respeitosamente,
Marie Antoinette de Bourbon e Alexandra Feodorovna Romanov