Matadouro (Tradução de Ágnes Jancsó C. Lopes)
Primeiro levaram-nos a um miradouro, de onde podíamos ver o panorama todo. Depois admirámos o pátio renascentista do palácio presidencial, de onde fomos conduzidos a uma nascente de águas termais, onde, encorajados pelo guia, provámos a água um pouco ácida, mas revitalizante da fonte. Entrámos outra vez para o autocarro. O altifalante louvava agora a beleza do Centro da Cidade, e de seguida parámos na Galeria Nacional. Vi a colecção de esculturas até ao fim, mas depois fiquei com dores, e parei. Os outros viram uns belos Breughels e Rembrandts.
“E agora”, anunciou o altifalante, “vamos visitar uma das instituições mais modernas da cidade, o matadouro. Os animais são abatidos de forma tão humana, com base em princípios tão nobres, que não só senhoras sensíveis, mas também crianças o podem ver sem problemas.”
Conduziram-nos por pátios imensos. Tudo estava inundado de luz, e música suave tocava entre paredes de mármore, que não era perturbada nem por um mugido, nem por um guincho. O circuito levava-nos da zona de pesagem até ao fumeiro dos presuntos, e tudo estava longe daquilo que esperara. Não vi animais a empacar, a recuar, a resfolegar, nem jovens carniceiros robustos de pernas afastadas a baixar os pesados cutelos. As vacas, os porcos e as ovelhas saíam de corredores brancos como a neve para uma grande sala onde, sem quaisquer choques eléctricos, nem drogas ou gases venenosos, começavam por ficar sonolentos, se deitavam, e assim passavam do sono para a morte, tão suavemente como um barco deslizando do estuário de um rio para as águas paradas de um lago.
Chamei de lado o nosso guia.
– Queria pedir-lhe um favor – disse.
– Infelizmente não pode ser – respondeu.
– Tenho boas razões – disse eu.
– Todos têm boas razões – disse ele.
– Recompensaria o seu favor – disse eu.
– Já me ofereceram fortunas – disse ele.
– Mas o gado tem direito? – perguntei.
– Lamento – disse – é expressamente proibido
István Örkény