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Category: Contos

Os Anjos Gordos

Os Anjos Gordos

José Mourão, pseudónimo de um funcionário público, actualmente “na casa dos cinquenta anos”. Deste mesmo autor publicámos no nº 5 da Ficções um outro conto, O velho, o cão e as cabras, que foi também a sua estreia literária. Os anjos gordos confirmam as qualidades que aí revelava. “Os Anjos Gordos” Estava eu metido dentro do meu caramanchão de pedras velhas e arbustos aromáticos quando os meus três velhos criados, mais amigos de juventude do que outra coisa, me anunciaram,…

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A convergir para zero

A convergir para zero

“Tanta gente, tantos enredos até ficarmos para sempre quedos! Para sempre? Não! Que outros (mínimos) seres já trabalham na nossa remoção.” Alexandre O’Neill, De ombro na ombreira De tudo o que se dissera e não dissera, pouco restava. “Pouco” era aliás, de todas as palavras que ali se acotovelavam, a que mais se ouvia. Todos toleravam os sopros de todos os outros, de insonoros que eram, e a mudez, pactuada sobre sangue de ninguém, não era capaz de mais que…

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A História do Golfinho e do Tubarão

A História do Golfinho e do Tubarão

“Mãe, porque somos diferentes?” perguntou um dia um golfinho à sua mãe que o seguia com ternura pelos corredores do oceano. “Filho, nós somos mamíferos, sabes? Respiramos o oxigénio do ar, não da água, assim como os homens e…” “Como as garças?” Interrompeu o golfinho. “Sim, também, mas..” Distraído em seguir um cardume de peixes, o golfinho já não prestou a atenção à explicação. Não se importava. Eram lindas as águas. Passavam como rosários com contas de cristal. Como sabia…

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A Memória Suspensa

A Memória Suspensa

José Carlos de Almeida, 42 anos, licenciado em Filosofia e em Direito, actualmente professor numa Escola Secundária. Publicou dois manuais de filosofia, uma banda desenhada em co-autoria, um volume de poesia (Metalonímias, Ed. Limiar, Porto), Prémio de Revelação da APE.O conto que publicamos foi enviado à Ficções como proposta de colaboração. A Memória Suspensa De repente, começou a temer a morte. À medida que, sem querer, lhe iam ocorrendo lembranças passadas há muito tempo, temeu que se tratasse duma espécie…

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A tortura pela esperança (Tradução de Manuel Resende)

A tortura pela esperança (Tradução de Manuel Resende)

Ao Senhor Edouard Nieter “Oh! Uma voz, uma voz, para gritar!…” Edgar Poe – O Poço e o Pêndulo Sob as criptas do Santo Ofício de Saragoça, ao cair de uma noite antiga, venerando Pedro Arbuez de Espila – sexto prior dos dominicanos de Segóvia, terceiro Grande Inquisidor de Espanha -, seguido de um frade redentor (mestre torturador) e precedido de dois familiares da Inquisição, os quais seguravam duas candeias, descia para um calabouço perdido. Rangeu a fechadura de uma…

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A verdade da cigana

A verdade da cigana

Rapaz bonito, bem apessoado, Jorge apareceu na faculdade fazendo charme para todas as garotas. E qual delas não se interessava por ele? Logo primeira semana ficou com a menina mais bonita do lugar. Mas ele não queria saber de relacionamentos sérios. Como o próprio Jorge dizia, “para que ter uma quando se pode ter várias”? E assim Jorge foi aumentando a sua lista de telefones femininos na agenda do celular. Certo dia ele conheceu Marta, um moça dotada de muita…

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A Biblioteca

A Biblioteca

“Biblioteca Luís de Camões. Oferta de um grupo de patriotas de Lisboa. 1908” O orgulho da inscrição ia-se apagando, caindo como caía a caliça pobre, mas as portas de madeira aguentavam há quase um século a abertura às nove e o fecho ao meio-dia e meia, a abertura às duas e o fecho às cinco e meia. A sala de leitura ficava a seguir ao depósito dos livros. Realmente um depósito: ninguém os lia. Que livros ali haveria? Os mesmos…

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Avisos à navegação (Tradução de José Lima)

Avisos à navegação (Tradução de José Lima)

Esta história fala de um médico que todos os domingos ia andar de barco à vela com um amigo e a quem aconteceu a aventura de ser possuído por vozes. Certa noite, há alguns anos, voltava ele de um passeio de barco à vela com o amigo e as respectivas mulheres, quando lhe tocou ficar no convés para o seu turno ao leme, enquanto os outros dormiam nos beliches em baixo. A lua brilhava, o mar estava calmo, havia o…

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Bandolo e Montoeira

Bandolo e Montoeira

A sensação de estar voando é espetacular. Nunca na vida sentiu tanta leveza, tanta soltura, tanta liberdade. Nem sentiu a decolagem, só se dá conta do enquanto, do mágico, do encanto, do mato lá embaixo, do movimento dos jogadores no campinho, a charanga da torcida, Margarida segurando com as duas mãos o vestido amarelo que o vento ameaça suspender. Na verdade, não era totalmente por sua vontade que agora ali estava, experimentando a ausência de peso, a musculatura toda solta,…

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Daqui Só Saio Quando Morrer

Daqui Só Saio Quando Morrer

1. O cão gemia tanto que miava. Pendurou-o debaixo do braço, pegou-lhe pela cauda pendular, volteou uma corda de ponto cruzado na sua ponta e uma lata destapada de querosene na outra, e soltou-o no chão. Balançou a perna bruscamente de um lado até ao rabo do cão, que ganiu num salto e solto fugiu regando óleo pela lata. Araújo soltou então um fósforo aceso no riacho de combustível. Num só fôlego, o fogo galopou até ao cão, perseguindo-o através…

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