Francisco Simões

francisco

ARDENTE DESEJO

Vem dormir nos meus sonhos,
Traz promessas aos meus desejos.

Sem pejo, despudoradamente,
Pressente meus anseios,
Me banha com teus beijos,
Me inunda de paixão,
Conduz a minha mão
Ao encontro dos teus seios
E, sem pressa, devagarinho,
Ensina-lhe o caminho,
E deixa que meus dedos,
Na avidez da ansiedade,
No roçar de mil meneios,
Te incendeiem de emoção o peito.

Flutuarás então na excitação,
A mesma que todas as noites
Me põe na tua direção,
Vagando em pensamentos
Buscando nossos momentos,
Esperando que de repente, num açoite,
Saltem do imaginário pro real
E nos atirem do sonho para o leito.

AMANTE GUERREIRO

Se sou poeta? Sei lá se sou,
Só sei que penso com o coração
E que quando escrevo me dou
Por uma paixão incontida
Que faz do meu peito a guarida
Dos sentimentos do mundo.

Sou amante, mas sou guerreiro
Diante da flor e diante da dor,
Por amor até morro primeiro,
Contra a injustiça miro meu brado,
Armo o soldado com as palavras
Com a indignação ao meu lado.

Cavalgo na trilha dos versos,
Com a poesia eu batalho
Sem pejorar, mas acusando,
Não recuando, apenas avanço,
Sopeando sempre o perverso
Universo de iniqüidades
Onde verdades são grandes mentiras,
Onde o perfeito se revela falho,
Onde a fome é um atalho
Pelo qual a morte encurta a vida,
Onde essa vida tem senhores,
Onde a hipocrisia, com favores,
Limpa a ferida, mas deixa as dores.

Se sou poeta é meu verso que diz,
Falando de amor para além dos desejos,
Talvez até uma imensa utopia,
Mas enquanto houver uma vida vazia
Eu não serei um poeta feliz.

MURO DO SILÊNCIO

Cala-te coração,
Eu te reprovo, te censuro.
Não derrubes o muro
Do silêncio,
Disfarça a amargura,
Num sorriso que não cura,
Mas te fantasia de não.

O sim não te traz proveito,
Tem algo de proibido,
Hostilizado no preconceito,
Desrespeitado e invadido
Na força da tua dor.

É só teu este amor
Então não te exponhas,
Não renuncies, mas não deponhas,
Pois não és réu, és amante.

Cala-te coração,
Mas leva adiante,
Carrega contigo no peito,
Na alma, no olhar,
Num gesto mudo de vida,
O que esta vida que fala
Jamais compreenderá.

Por favor, coração, te cala,
Ninguém te impedirá de sonhar.

José J. Santos

jose

O ESPELHO DA SOLIDÃO

O emaranhado de palavras
São o poema da nossa vida
O espelho na solidão de lavras
A ausência da vontade querida

Um passado que nem é para contar
E tudo o mais é transparente
Um futuro para quando o sol raiar
Como o desejo se torna eminente

Como o branco é alvura
O pensamento a razão atura
E se rende á compaixão

No acto de bem-querer
Dor e sacrifícios á que esquecer
É o espelho da solidão.

SABER DEIXAR

Correr no tempo, sem hesitação
Olhar o passado e esquecer
Os momentos tristes e de desilusão
Pensar no novo dia e saber
Saber amar é saber deixar
Saber deixar é saber amar

Todas as formas de querer
No desejo, na paixão
Os fantasmas são para esquecer
Dar espaço ao coração
Abrir a mente á oportunidade
Até poder amar com saudade.

O MEU RIO ALCABRICHEL

O rio nasce na serra de Montejunto
Vila verde dos Francos fica bem perto
Por Maxial, Ramalhal, ele passa junto
A-Dos-Cunhados é mais que certo

Junto as termas do Vimeiro
Que fica na Maceira
Lá continua sorrateiro
Até Porto Novo é ligeiro

No atlântico desagua
Sua foz é em Santa Rita
O Hotel assoma junto a lua
Campo de golfo todo catita

Ai rio tão imponente
Onde as gaivotas não tem asas
São as que levam gente
Não as que posam nas casas

Da serra e aldeias
Entre vales e escarpas
Tua beleza nos presenteias
Aos olhares não escapas

Nele eu nadava e pescava
Eram horas bem passadas no rio
Enquanto a minha mãe a roupa lavava
Eu ficava até tremer de frio

Agora não passa apenas
De um riacho de esgoto
Era um rio de águas amenas
Agora é um nado morto

A beleza natural
Que o homem consciente
Continua a fazer mal
A ele e a toda agente.

Lobo

lobo

AMAR VOCÊ

Estar com você
Não é apenas ter as estrelas
É ter todo o universo
Em um simples gesto
Em um simples olhar….

Amar você
Não é apenas uma gotinha
de água no mar…

É ter um lindo e imenso
oceano para nadar
E junto com você sempre estar…

Te amando sei
Aonde eu posso chegar!!!!
Te amando, amarei
Para sempre, ate
O mundo acabar!!!!

SONHO

Sua pele era quente
E mais quente a sua boca
Vermelha e carnuda
Sua boca serpente
Beijando com fúria
E tirando o veneno da angústia.

Suas pernas eram grossas
Como árvores da floresta
E negra era a noite
Do seu corpo aceso
Eu que me perdia
Em cada curva da alegria.

Seus seios eram duros
Com os bicos grandes
Eram como frutos
Feitos por um Deus sem nome
E mistério, quando mais se come
Mais se tem fome.

Seu sexo era úmido
Caverna, rio ou vazio
E quanto mais eu mergulhava
Mas eu me perdia
E jurava
Que amando, era amado.

E assim se passaram as horas
E a madrugada se transformou em dia
É quando acordo da doce orgia
Com o peso no pescoço
Os braços e o cheiro
Do amor dormido.

VIDA

Ela fica na janela
Olhando a vida que passa
Passa homens e meninas
Passa a vida e a passarada
E ela, nem feia e nem bela
Espera
Alguém que o diga:

– Sai desta vida
Ama
Até rasgar a ferida !

Passa um pouco mais de vida
E quando ela nota
Sua boca está fechada
E a alma morta
Não fez poesia
Nem ao menos gritou naquele dia
Quando abriram suas costas.

Rodrigo C. Limeira

rodrigo

A VIDA É VAGA

Imaginar uma vaga em alto mar,
É como ver a vida em sua existência,
Se a onda remata quando encontra a praia,
E a areia é o seu destino término.

Ser vivo é se sentir uma vaga,
E ter a certeza do arrebate final,
A vida encontra o seu destino,
Que é virar areia no seio da terra.

DAMA DO MUNDO

Ela veste vestido negro,
E ninguém percebe.

Ninguém vislumbra,
O lado sombrio que oculta,
O peito que lateja por nada,
O frio vazio de sua alma.

Dama dos versos noturnos,
Que perdeu o pranto um dia,
Ao se vê num beco sem saída,
Ao cair nas garras do mundo.

Não tens calor em tua vida,
Não tens a luz do dia,
Não amas ninguém,
Apenas aqueles que o bolso tem.

Tua beleza de longe encanta,
Ao coração do carente um perigo,
Lábios derretendo em batom vermelho,
Coração que não é de ninguém.

Dama de curvas sinuosas,
De coxas por muito deliciosas,
Teu corpo pertence a quem?
A aqueles que o bolso tem.

Dama de pele veludosa,
Macia, doce e cheirosa,
Tua pele pertence a quem?
A aqueles que o bolso tem.

Dama dos dias de hoje,
És comum nos caminhos da vida,
Não tens o amor de ninguém,
Neste mundo em que o bolso é rei.

O amor hoje em dia é loucura,
O casamento sem respeito, sem ternura,
Neste mundo em que o bolso é rei.

MAR DOS MEUS ANSEIOS

Imenso mar de águas escuras,
E temerosas funduras,
Que posso imaginar,
Eu posso buscar,
Em tuas bravuras,
Tamanhas ternuras,
Que estou a sonhar.

Nessas águas de espuma,
Mulheres tão lindas,
Ponho-me a pensar,
E na água salgada,
Eu deixo uma lágrima,
Se misturar.

Para que o mar,
Receba minha dor,
E me dê o amor,
Que quero encontrar.