Poemas & Poesias

A Poesia e/ou Poema ausente do dia a dia da alma humana.

Poemas & Poesias

Alberto de Oliveira

alberto

A JANELA E O SOL

“Deixa-me entrar, – dizia o sol – suspende
A cortina, soabre-te! Preciso
O íris trêmulo ver que o sonho acende
Em seu sereno virginal sorriso.

Dá-me uma fresta só do paraíso
Vedado, se o ser nele inteiro ofende…
E eu, como o eunuco, estúpido, indeciso,
Ver-lhe-ei o rosto que na sombra esplende.”

E, fechando mais, zelosa e firme,
Respondia a janela: “Tem-te, ousado!
Não te deixo passar! Eu, néscia, abri-me!

E esta que dorme, sol, que não diria
Ao ver-te o olhar por trás do cortinado,
E ao ver-se a um tempo desnudada e fria?!”

CHEIRO DE ESPÁDUA

“Quando a valsa acabou, veio à janela,
Sentou-se. O leque abriu. Sorria e arfava,
Eu, viração da noite, a essa hora entrava
E estaquei, vendo-a decotada e bela.
Eram os ombros, era a espádua, aquela
Carne rosada um mimo! A arder na lava
De improvisa paixão, eu, que a beijava,
Hauri sequiosa toda a essência dela!

Deixei-a, porque a vi mais tarde, oh! ciúme!
Sair velada da mantilha. A esteira
Sigo, até que a perdi, de seu perfume.

E agora, que se foi, lembrando-a ainda,
Sinto que à luz do luar nas folhas, cheira
Este ar da noite àquela espádua linda!”

VASO GREGO

Esta de áureos relevos, trabalhada
De divas mãos, brilhante copa, um dia,
Já de aos deuses servir como cansada,
Vinda do Olimpo, a um novo deus servia.

Era o poeta de Teos que a suspendia
Então, e, ora repleta ora esvazada,
A taça amiga aos dedos seus tinia,
Toda de roxas pétalas colmada.

Depois… Mas o lavor da taça admira,
Toca-a, e do ouvido aproximando-a, às bordas
Finas hás de lhe ouvir, canora e doce,

Ignota voz, qual se da antiga lira
Fosse a encantada música das cordas,
Qual se essa voz de Anacreonte fosse.

Alexei Bueno

alexei

PRANTO PARA COMOVER JONATHAN

Os diamantes são indestrutíveis?
Mais é meu amor.

O mar é imenso?
Meu amor é maior,
mais belo sem ornamentos
do que um campo de flores.

Mais triste do que a morte,
mais desesperançado
do que a onda batendo no rochedo,
mais tenaz que o rochedo.

Ama e nem sabe mais o que ama.

A FLORBELA ESPANCA

Amada, por que eu tive a tua voz
Depois que o Nada teve a tua boca?
A lua, em sua palidez de louca,
Brilha igual sobre mim, e sobre nós!…

Porém como estás longe, como o algoz
De um só golpe sem fim – a Morte – apouca
Os gritos dos que esperam, a ânsia rouca
Dos que atrás têm seu sonho, os grandes sós!

Aqui não brilha o mundo que engendraste
Como o manto de um deus, e astros sangrentos
Não nos rolam nas mãos da imensa haste.

E só estes olhos meus, que nunca viste,
Se incendeiam, vitrais na noite atentos,
Voltados para o chão aonde fugiste!

SONETO

Há um mar que ruge à minha volta, e nesta ilha
Fora das rotas, mas na noite, me encontrei
Envolto em água, envolto em treva, e já nem sei
Qual foi o barco que me trouxe, onde sua quilha.

Unicamente sobre mima lua brilha
E o mar de abismos cospe atrás, onde afundei,
Que nem enxergo nesta luz da qual sou rei
Além da noite a rocha e a lua, sua filha.
Sombra exilada que não lembra de onde veio,
Escuto ondas mais antigas que as do mar…

Que voz me chama no negror que as corta ao meio?
Aqui estou salvo, mas não quero, sonho a fera
Maior que a vida, o mar em fúria, o retornar,
Eu, rei de um povo submerso que me espera.

 

 

Armando Roda

 

armando

PRIMEIRA MANHÃ

Eu não fechei o olho a noite inteira
Me levantei sozinho e com olheira
Encharcado de suor
Já arrumei o quarto e a prateleira
O seu retrato coloquei na cabeceira
Desliguei o despertador
Tirei o leite e a manteiga da geladeira
A água esta fervendo na chaleira
Coloquei o pó no coador
Ah! O pão já está na torradeira
Já arrumei talher, mesa e a cadeira
Empurrei para o canto a dor
Já estou aqui sentado de bobeira
Esperando você cruzar a soleira
Com seu sorriso encantador
Mas esta é a minha manhã primeira
Desta minha vida tão traiçoeira
Que levou o meu amor
Para sempre o meu amor.

QUASE

Quase
Ontem quase
Quase minhas mãos em seus cabelos
Quase teus lábios nos meus
Quase felicidade plena
Quase
Quase
Ontem quase
Quase seu cheiro em minha memória
Quase eu e você fomos nós
Quase romance
Quasequase

Daniel

daniel

SENTIDOS

O crepúsculo inicia a sua longa jornada,
Por entre batalhas perdidas e vencidas,
Por caminhos que levam ao nada,
Entre memórias à muito esquecidas…

O desejo prepara as suas garras
Para com elas desejar guerrear
A invencível força das amarras
Segurando no solo quem deseja voar…

O fogo deseja gravar na pele
O amor desaparecido na areia.

Nenhuma chama de puro mel
Docilmente queima, nem incendeia

O coração frio de tanto sofrer…
A minha vida é um curto resumo.
Aparentemente acabei por me perder,
Aparentemente, já não tenho rumo.

A ÚNICA…

As lágrimas incessantes do meu coração aberto
Mancham a minha alma com nódoas ardentes,
Das quais, por muito que tente, não me liberto,
Nem da solidão, que em mim, sussurra entre dentes:

“Foste derrotado, foste indesejado e cuspido ao chão…
Caíste nos teus joelhos quando a esperança se foi!
Deixa-te estar assim, prostrado, lacrimoso, em oração,
Pois sabes que não é a ferida da carne que te dói!”

Nunca me perderei mais no que poderia ter sido…
Não quero mais desperdiçar esta vida insignificante!
Posso ter sido injustamente derrotado, vencido,
Mas isso não fará de mim um eterno errante!

Aceito o meu passado para poder possuir um futuro,
Não lamento o ontem em detrimento do amanhã!
No desejo de ter um coração de pedra, forte e duro,
Eu sei perfeitamente, que de pedra, ele nunca será…

LUAR

O que desencadeia o estimulado
Sabor de frutos destruídos?
As acalmias de um mar transtornado
São música para os ouvidos

De quem na praia se senta
Olhando para além do mundo…
O ondular é a foz que aguenta
As lágrimas de um rio moribundo

Que corre sem ter onde correr,
Que respira sem ter ar,
Que vive porque vai morrer,
Que grita porque não sabe falar…

Pelo recanto do olhar felino
Se vislumbram as emoções…
As vozes são o cantar de um sino
Que harmoniza as recordações

Da ondulação suave e pacifica
Que presentemente se faz sentir…
A sombra é audácia magnífica
Que combate o inexistir…

Disperso, exausto, sem alento
No íntimo do meu vazio peito,
Eu sonho alto o meu tormento,
Alegórico fruto do mar desfeito,

Que frequenta o meu coração
E minha alma preenche…
Sou desprovido de visão,
Cego na maré que enche

O areal de lágrimas solitárias,
O corpo de desabafos sentidos,
A mente de lembranças sedentárias,
A alma de desejos esquecidos…

Em breve o sono me levará
A um sonho, pesadelo ou festa…
Terei paz até chegar o amanhã…
E isso é tudo o que me resta…

Quando os olhos omitem o ver
E os lábios esquecem o beijar
Todos riem de mim ao saber
Que uivo minhas mágoas ao luar…

LUTAS…

Estou caído no escuro,
Não vejo, mas sinto temor!
Rastejo um solo obscuro,
Inerte, vago, sem cheiro ou sabor…

Razões que ninguém me diz…
Dói, arde novamente
Os cortes abertos que eu fiz
No coração, na alma, na mente!

Eu sou apenas como tu…
Sinto mais, com mais intensidade?
Será que o meu corpo nu
Poderá ser, junto ao teu, realidade?

Não me amas, apenas sentes
Um corpo que também não ama…
As labaredas são beijos quentes
Que me beijam a cada chama!

As lágrimas não apagam este fogo!
Os sonhos são esperanças que perdi…
No mar ardente da decadência me afogo
Sem luta… não sofro, não amo, já morri!

David Roballo

davi

MULHERES

Mulheres!!!
Deusas disfarçadas na fragilidade.
Com apenas um olhar
São capazes de destruir
E reconstruir a humanidade.

Deve ser por isso
Que os homens recalcados
As prenderam em um livro
Como inventoras
Do pecado.

Desde então está guardada a luz
De todas as estrelas e sois
Longe paira verdadeira felicidade
Que a paz conduz nos braços de
Seus olhos radiantes cheios de vida…

Tantos anos no porão
Da cozinha as fizeram
Diminuídas, escabeladas
Desacreditadas da própria
Divindade inata…

É assim, que os machos as querem
Subjugadas, medrosas e submissas
A uma ordem, a uma ilusão desenhada
Para contê-las presas
Na própria claridade.

Evas contemporâneas;
Mães de cains e abéis desenfreados
Vassalas de adães desmiolados…
Já é hora de iluminar o mundo
Com seus predicados…

CLARIDADE

Vem já aurora cor de rosa
Desfraldar a incansável chama
Astro dispersador de meus medos;
Ampliador de meus olhares;
A contemplarem as cores
Que tingem o horizonte.

Venha aquecer-me luz de minha esperança
Venha acariciar-me as madeixas
E os sonhos que brotam de minha insanidade…
Venha dar-me teus raios, que dás a todos
Sem importar a natureza.

Venha debruçar-se em meu cenho calejado
Senhor incondicional e benévolo
Que repartes os dias que alimentam o tempo
Com a noite, que me açoita com mil tormentos.

Venha imprescindível flamejante
Enxugar-me as lágrimas
Pelo que o tempo comeu distante.

Venha, venha aquecer com tuas centelhas…
Este irmão de Diógenes…

Venha gênio sol, resgatar-me da miragem humana…

NOITE

Noite dama suprema das estrelas
Embebida de claridade em teu longo vestido
Que veste quando o sol se cansa dos humanos.
Ainda bem que existes, princesa da escuridão,
Mãe dos poetas, bálsamo de ilusão.

Noite fiel companheira e silêncio
Respeitosa inclina-te ao som das cachoeiras
E ao vôo da coruja sentinela;
Contemplo-te de meu átrio risonho
Ou do encosto de minha janela.

Noite avatar de minha inspiração
Em teus cabelos negros mergulho
Num mar de paz e contemplação;
A ti espero, a ti quero
Para escrever com alma e coração.

Eloy Franco

eloy

O QUE ADORO EM TI

Não são teus olhos cheios de um amor profundo
Que misturam candor com um quê de mistério.

Por teus olhos, qualquer homem deste Mundo
Daria com prazer o Mais Poderoso Império !
também não são teus seios imponentes,
Maravilhas inigualáveis, esculturais,
Expostos como dois promontórios insolentes,
Promessas arfantes de prazeres sensuais !

Nem é também aquela maravilha tão desejada,
Vistosa, peludinha . . .tão deliciosa como o Sapoti !
Altar do amor. . .De mil delícias a entrada,
Uma das mil razões de minha Paixão por Ti ! !

O que adoro em ti é a tua Alma sem defeitos,
Pura como o sorriso de uma criança,
Alheia ao Mundo, alheia aos preconceitos,

Rica de crenças, Cheia de Esperança !!!

SONHO DE AMOR

Um lindo amor, entre nós nasceu,
Sua Alma você, com avidez me deu.
Encontro que trouxe um feliz ensejo
De eterna delícia e sublime desejo. . .

Um lindo amor, muito bem cuidado
Não vai virar em um triste passado!
Bendigo contrito nossa união Divinal
E a beijo assim com um amor sensual,
Pois amor como o seu não tem outro igual…

HORA DERRADEIRA

Deus está pedindo estrita conta do meu tempo
E é preciso do tempo já dar conta.

Mas, como dar sem tempo tanta conta ?
Eu, que perdi sem conta tanto tempo ?
Para ter minha conta feito a tempo
Dado me foi bom tempo e não fiz conta.

Não quis, sobrando tempo fazer alguma conta.
Quero agora fazer conta e não tenho mais tempo.
Oh ! vos que tendes tempo sem conta
Não passeis vosso tempo ignorando vossa conta.
Cuidai, enquanto há tempo, de fazer conta.

Se aqueles que contam com tempo sem conta,
Fizessem desse tempo alguma conta,
Não chorariam agora por não terem mais tempo!!

Francisco Simões

francisco

ARDENTE DESEJO

Vem dormir nos meus sonhos,
Traz promessas aos meus desejos.

Sem pejo, despudoradamente,
Pressente meus anseios,
Me banha com teus beijos,
Me inunda de paixão,
Conduz a minha mão
Ao encontro dos teus seios
E, sem pressa, devagarinho,
Ensina-lhe o caminho,
E deixa que meus dedos,
Na avidez da ansiedade,
No roçar de mil meneios,
Te incendeiem de emoção o peito.

Flutuarás então na excitação,
A mesma que todas as noites
Me põe na tua direção,
Vagando em pensamentos
Buscando nossos momentos,
Esperando que de repente, num açoite,
Saltem do imaginário pro real
E nos atirem do sonho para o leito.

AMANTE GUERREIRO

Se sou poeta? Sei lá se sou,
Só sei que penso com o coração
E que quando escrevo me dou
Por uma paixão incontida
Que faz do meu peito a guarida
Dos sentimentos do mundo.

Sou amante, mas sou guerreiro
Diante da flor e diante da dor,
Por amor até morro primeiro,
Contra a injustiça miro meu brado,
Armo o soldado com as palavras
Com a indignação ao meu lado.

Cavalgo na trilha dos versos,
Com a poesia eu batalho
Sem pejorar, mas acusando,
Não recuando, apenas avanço,
Sopeando sempre o perverso
Universo de iniqüidades
Onde verdades são grandes mentiras,
Onde o perfeito se revela falho,
Onde a fome é um atalho
Pelo qual a morte encurta a vida,
Onde essa vida tem senhores,
Onde a hipocrisia, com favores,
Limpa a ferida, mas deixa as dores.

Se sou poeta é meu verso que diz,
Falando de amor para além dos desejos,
Talvez até uma imensa utopia,
Mas enquanto houver uma vida vazia
Eu não serei um poeta feliz.

MURO DO SILÊNCIO

Cala-te coração,
Eu te reprovo, te censuro.
Não derrubes o muro
Do silêncio,
Disfarça a amargura,
Num sorriso que não cura,
Mas te fantasia de não.

O sim não te traz proveito,
Tem algo de proibido,
Hostilizado no preconceito,
Desrespeitado e invadido
Na força da tua dor.

É só teu este amor
Então não te exponhas,
Não renuncies, mas não deponhas,
Pois não és réu, és amante.

Cala-te coração,
Mas leva adiante,
Carrega contigo no peito,
Na alma, no olhar,
Num gesto mudo de vida,
O que esta vida que fala
Jamais compreenderá.

Por favor, coração, te cala,
Ninguém te impedirá de sonhar.

José J. Santos

jose

O ESPELHO DA SOLIDÃO

O emaranhado de palavras
São o poema da nossa vida
O espelho na solidão de lavras
A ausência da vontade querida

Um passado que nem é para contar
E tudo o mais é transparente
Um futuro para quando o sol raiar
Como o desejo se torna eminente

Como o branco é alvura
O pensamento a razão atura
E se rende á compaixão

No acto de bem-querer
Dor e sacrifícios á que esquecer
É o espelho da solidão.

SABER DEIXAR

Correr no tempo, sem hesitação
Olhar o passado e esquecer
Os momentos tristes e de desilusão
Pensar no novo dia e saber
Saber amar é saber deixar
Saber deixar é saber amar

Todas as formas de querer
No desejo, na paixão
Os fantasmas são para esquecer
Dar espaço ao coração
Abrir a mente á oportunidade
Até poder amar com saudade.

O MEU RIO ALCABRICHEL

O rio nasce na serra de Montejunto
Vila verde dos Francos fica bem perto
Por Maxial, Ramalhal, ele passa junto
A-Dos-Cunhados é mais que certo

Junto as termas do Vimeiro
Que fica na Maceira
Lá continua sorrateiro
Até Porto Novo é ligeiro

No atlântico desagua
Sua foz é em Santa Rita
O Hotel assoma junto a lua
Campo de golfo todo catita

Ai rio tão imponente
Onde as gaivotas não tem asas
São as que levam gente
Não as que posam nas casas

Da serra e aldeias
Entre vales e escarpas
Tua beleza nos presenteias
Aos olhares não escapas

Nele eu nadava e pescava
Eram horas bem passadas no rio
Enquanto a minha mãe a roupa lavava
Eu ficava até tremer de frio

Agora não passa apenas
De um riacho de esgoto
Era um rio de águas amenas
Agora é um nado morto

A beleza natural
Que o homem consciente
Continua a fazer mal
A ele e a toda agente.

Lobo

lobo

AMAR VOCÊ

Estar com você
Não é apenas ter as estrelas
É ter todo o universo
Em um simples gesto
Em um simples olhar….

Amar você
Não é apenas uma gotinha
de água no mar…

É ter um lindo e imenso
oceano para nadar
E junto com você sempre estar…

Te amando sei
Aonde eu posso chegar!!!!
Te amando, amarei
Para sempre, ate
O mundo acabar!!!!

SONHO

Sua pele era quente
E mais quente a sua boca
Vermelha e carnuda
Sua boca serpente
Beijando com fúria
E tirando o veneno da angústia.

Suas pernas eram grossas
Como árvores da floresta
E negra era a noite
Do seu corpo aceso
Eu que me perdia
Em cada curva da alegria.

Seus seios eram duros
Com os bicos grandes
Eram como frutos
Feitos por um Deus sem nome
E mistério, quando mais se come
Mais se tem fome.

Seu sexo era úmido
Caverna, rio ou vazio
E quanto mais eu mergulhava
Mas eu me perdia
E jurava
Que amando, era amado.

E assim se passaram as horas
E a madrugada se transformou em dia
É quando acordo da doce orgia
Com o peso no pescoço
Os braços e o cheiro
Do amor dormido.

VIDA

Ela fica na janela
Olhando a vida que passa
Passa homens e meninas
Passa a vida e a passarada
E ela, nem feia e nem bela
Espera
Alguém que o diga:

– Sai desta vida
Ama
Até rasgar a ferida !

Passa um pouco mais de vida
E quando ela nota
Sua boca está fechada
E a alma morta
Não fez poesia
Nem ao menos gritou naquele dia
Quando abriram suas costas.

Rodrigo C. Limeira

rodrigo

A VIDA É VAGA

Imaginar uma vaga em alto mar,
É como ver a vida em sua existência,
Se a onda remata quando encontra a praia,
E a areia é o seu destino término.

Ser vivo é se sentir uma vaga,
E ter a certeza do arrebate final,
A vida encontra o seu destino,
Que é virar areia no seio da terra.

DAMA DO MUNDO

Ela veste vestido negro,
E ninguém percebe.

Ninguém vislumbra,
O lado sombrio que oculta,
O peito que lateja por nada,
O frio vazio de sua alma.

Dama dos versos noturnos,
Que perdeu o pranto um dia,
Ao se vê num beco sem saída,
Ao cair nas garras do mundo.

Não tens calor em tua vida,
Não tens a luz do dia,
Não amas ninguém,
Apenas aqueles que o bolso tem.

Tua beleza de longe encanta,
Ao coração do carente um perigo,
Lábios derretendo em batom vermelho,
Coração que não é de ninguém.

Dama de curvas sinuosas,
De coxas por muito deliciosas,
Teu corpo pertence a quem?
A aqueles que o bolso tem.

Dama de pele veludosa,
Macia, doce e cheirosa,
Tua pele pertence a quem?
A aqueles que o bolso tem.

Dama dos dias de hoje,
És comum nos caminhos da vida,
Não tens o amor de ninguém,
Neste mundo em que o bolso é rei.

O amor hoje em dia é loucura,
O casamento sem respeito, sem ternura,
Neste mundo em que o bolso é rei.

MAR DOS MEUS ANSEIOS

Imenso mar de águas escuras,
E temerosas funduras,
Que posso imaginar,
Eu posso buscar,
Em tuas bravuras,
Tamanhas ternuras,
Que estou a sonhar.

Nessas águas de espuma,
Mulheres tão lindas,
Ponho-me a pensar,
E na água salgada,
Eu deixo uma lágrima,
Se misturar.

Para que o mar,
Receba minha dor,
E me dê o amor,
Que quero encontrar.