A Rosa e o Ser
A rosa abriu os olhos aos primeiros raios de sol.
Espreguiçou as pétalas e bebeu gotas de orvalho.
O ser pequenino acordou também e nele a esperança de ver o botão cerrado que cuidava. Correu ao jardim e sorriu de alegria ao ver que o sonho acontecera.
Estendeu as mãos pequeninas e, docemente, aconchegou no côncavo as pétalas frescas e macias.
– Como é bom que tenhas nascido… murmurou. E ia mergulhar o rosto na corola, para beijá-la e aspirar-lhe o perfume, quando uma vozinha murmurou:
– Tem cuidado!
O ser pequenino assustou-se, mas depois pensou ser a voz da sua imaginação.
Num ímpeto apaixonado, abraçou a rosa.
– Ai ! – Gritaram um e outro.
Um espinho acerado, perfurara a inocência do seu coração.
As pétalas ainda meio descerradas ficaram machucadas, e foram caindo.
Mas do âmago da rosa uma aura doirada se soltou e a ferida cobriu.
A gota de sangue, nele se envolvendo, na terra se embebeu.
O ser pequenino, elevou-se e pousou no coração da flor o seu coração ferido.
Reflectiram juntos acerca da angústia de amar-se demasiado.
A rosa sentiu o calor de uma lágrima e murmurou:
– Não chores, porque nem me destruíste nem o teu sangue se derramou em vão…
o pólen de soltaste, não se perdeu, fecundou o gineceu que esperava este momento. E o teu sangue derramado alimentará a nova roseira por que vim.
Juntos seremos eternos, pois o amor além da brevidade nos guiou.
Maria Petronilho
Lisboa, 9/9/2004